terça-feira, 7 de abril de 2015

Visita às Cajazeiras nos dias santos da Semana Santa



Era quarta-feira de bolo da semana passada - Semana Santa, quando peguei viagem para a Comunidade tradicional de Cajazeiras – município de Urbano Santos, Baixo Parnaíba Maranhense. Tia Neném, parteira tradicional havia me convidado para passar os dias santos em sua casa. Aquela velha parteira já chegara próximo dos mil partos feitos em toda aquela região: do Surrão, Pedra Grande ao Bom Sussego, ela operou parto até no Quilombo de Bom Sucesso dos Pretos – Mata Roma. Estava com saudades e fui com bastante entusiasmo porque além de tudo a Cajazeiras é a terra de meus avós por parte de pai e do saudoso tio Nena – poeta popular que gostava de narrar em versos rimados os acontecimentos do cotidiano e gravar em sua rica memória, recitando-os nas casas de forno e bares do povoado.  Parecia mais com um Patativa do Assaré da vida.
Pois bem, sai cedo, debaixo de uma neblina danada que atrapalhava a viseira do capacete e o frio prejudicava a aceleração da moto, chegando lá próximo já sentia de longe o cheiro dos bolos que as senhoras preparavam. Passei quarta, quinta e sexta... Conversei com tia Neném sobre as questões relacionadas aos nossos Direitos Humanos – as lutas, os Encontros de Comunidades em Defesa do Baixo Parnaíba, levei mensagens dos amigos de militância; ela retornara emocionadamente os mesmos votos para aqueles (as) que lembraram da velinha. Perguntei como andava os assuntos sobre a terra das associações de Cajazeiras, pois lá existe ainda um grande número de terras devolutas do estado que precisa ser regularizada pelo ITERMAInstituto de Terras do Estado do Maranhão. Um outro grande problema que vem acontecendo é a invasão da gauchada da soja – vindo de Brejo e Anapurus, eles se apropriaram das chapadas – alegando ter comprado, na verdade essas terras são todas do estado, os latifundiários se aproveitaram de antigas amizades políticas para se apropriarem dessas terras. As chapadas de Cajazeiras, Bom Sossego e São Cosme são ricas em bacuris e pequis, infelizmente estão sendo ameaçadas pelo programa neoliberal e devastador dos monocultivos. Naqueles dias voltei-me para averiguar e entender a tragédia e transformação da famosa lagoa da Cajazeiras, onde meu pai quando criança banhava e pescava na mesma. A lagoa secou completamente, os moradores não tem nenhuma dúvida que esse impacto ambiental foi causado pelo agronegócio que suga os recursos naturais. Todos os Santos -, comunidade vizinha é atingida diretamente pelos plantios de eucalipto da Suzano, a cabeceira da lagoa fica bem pertinho dos campos. Na Sexta-feira Santa conversei com a Chiquinha- presidente da Associação das Quebradeiras de Coco do Povoado Cajazeiras, ela me falava da escassez do babaçu que antes era encontrado com abundancia nas matas e da problemática de madeira que os trabalhadores rurais já não encontram mais nas chapadas; além do assassinato constante de animais como burros, jumentos, cavalos e porcos que os gaúchos sem dó atiram nos bichos, não perguntam quem é o dono. Pode-se entender esses fatos onde os camponeses necessitam de proteção, pois vivem no dia-a-dia do fogo cruzado, seus direitos garantidos por lei muitas das vezes são violados.  
Assim como a Cajazeiras quase todas as comunidades do Território do Baixo Parnaíba tem algo em comum, lutam pela preservação das chapadas e enfrentam as avalanches com o intuito de conquistas de acesso a terra. Brigas centenárias se perpetuam. O Movimento Social grita alertando um outro mundo possível em meio a uma guerra ideológica; de um lado o grande capital que explora o bem comum da terra e do outro o sentimento romântico das populações tradicionais que almeja um outro mundo possível defendendo a biodiversidade e preocupadas com as relações climáticas do planeta e agroecologia. Foi gratificante passar aqueles três dias de experiências na Cajazeiras, aprendi lições dos mais velhos, dos parentes, amigos e companheiros de batalha, mas creio que deixei algo de proveito nas breves informações que foram compartilhadas a respeito da realidade atual da querida Região do Baixo Parnaíba Maranhense.
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                                         José Antonio Basto

                                           Militante dos Direitos Humano

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