quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A troca de visão entre a chapada e o eucalipto na comunidade Custódio, Urbano Santos-MA.






Quem viaja e passa pela comunidade tradicional de Custódio, percebe logo na entrada do povoado uma grande plantação de eucalipto da Suzano Papel e Celulose cercada de arame com uma enorme cancela, onde quem passa por lá tem que pedir licença. Uma brincadeira, como é que para uma pessoa entrar em sua própria casa tem que pedir permissão? E ainda tem mais, o cemitério da comunidade também está dentro do campo de eucalipto, pode-se dizer e afirmar com todas as letras que isso não passa de um verdadeiro desacato aos direitos humanos. Quanta intolerância!
Quando o viajante segue em direção ao Assentamento Canzilo e Mangabeira ele vai chegar num descampado com capoeiras de antigas roças de mandioca (san nunga ou são miguel), daí então mais na frente, olha-se a chapada de um lado e os enormes campos de eucaliptos do outro trocando olhares entre si. A chapada tentando sobreviver com sua fauna e flora, os animais nervosos com tanta miséria causada por porte do agronegócio e da falta de consciência ecológica. O cerrado reclama e há tempos vem chorando lágrimas de sangue desde o primeiro dia em que o eucalipto foi introduzido no solo vermelho das chapadas. O território onde se alastra as plantações de eucalipto em Custódio assim também como em outras comunidades era tudo chapada com capinais, bacurizeiros, pequizeiros, candeias, mangaba e outras espécies naturais já em perigo de extinção, pois outrora a natureza era bonita e tinha cara diferente. O eucalipto é uma ameaça tóxica às sociedades tradicionais, atrapalha o processo de desenvolvimento social principalmente a agricultura familiar e o projeto de Reforma Agrária: titulações, arrecadações e desapropriações das áreas em questão, que são muitas. Problemas estão sendo causados por esse impacto e os estudos já apontam que daqui há 40 anos no mínimo, os recursos hídricos desaparecerão totalmente de nossa região, se continuar assim. As pessoas devem se preocupar com essa problemática, as comunidades rurais estão cercadas de eucaliptos e em algumas regiões campos de soja e experimentos de outras monoculturas, mas será que todo mundo não está sendo afetado indiretamente, estamos no mesmo barco? E se naufragar morreremos juntos? Um ponto a ser pensado e refletido. Os produtos tóxicos são lançados nos campos, fogem para as matas, chapada e desce para os riachos, lagoas e rios, o ar fica poluído, os animais migram à procura de locais saudáveis e não acham mais. Nossa Região do Baixo Parnaíba está transformada, o avanço da monocultura é desenfreado suprindo interesses individuais capitalistas e neoliberais de uma empresa multinacional que suga nossa terra desde a década de 80, um projeto atrasado e sem futuro para as comunidades rurais.
Hoje em dia as terras do município de Urbano Santos mais de 65% pertencem a grupos empresariais principalmente puxados pela Suzano e suas firmas terceirizadas, restando muito pouco para os trabalhadores rurais. E essa pequena parte que sobrou mais da metade se encontra em processo fundiário aguardando respostas dos órgãos competentes. Essa é a crua realidade das comunidades do Baixo Parnaíba, mas temos que sonhar e orientar os camponeses rumo às suas conquistas, devemos citar os pontos negativos mas não esquecer dos positivos. Apesar de tudo os trabalhadores no campo tem conseguido alguma coisa, o conflito vai continuar, enquanto houver exploração haverá conflito. Luta por terra é sempre assim desde tempos bem remotos.
 Existe uma politica de reservas ecológicas próximas de alguns campos de eucaliptos, elas são criadas pela Suzano, mas na verdade é só uma maneira enganosa. São áreas pequenas que não dão para suportar os animais silvestres fugidos do correntão e do veneno aplicado nas plantações. Essa realidade pode mudar um dia e tudo voltar o que era, não é um sentimento romântico e sei que é pura utopia -, talvez sim... talvez não. Mas vai essas palavras de conforto para o movimento social em defesa dos direitos humanos e da vida ficar mais otimista e seguro: “UM OUTRO BAIXO PARNAIBA É POSSÍVEL”. As chapadas de Custódio já estão com suas vistas cansadas e assombradas de verem há décadas esses monstros (eucaliptos) que destroem o bioma cerrado e que não supre de maneira alguma as necessidades da classe trabalhadora do campo, palavras de ordem sejam ditas e afirmadas: “O Território do Baixo Parnaíba Maranhense é dos Trabalhadores Rurais”.

(José Antonio Basto)
*militante social dos direitos humanos
email: bastosandero65@gmail.com

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