quarta-feira, 9 de abril de 2014

A soberania dos camponeses no Baixo Parnaíba Maranhense contra o impacto ambiental do eucalipto e da soja





Lembro que em 2006, participei do grande encontro de comunidades em defesa do Baixo Parnaíba Maranhense, sediado na Comunidade Quilombola de Bom Sucesso dos Pretos município de Mata Roma-MA, onde foi debatido questões relacionadas à soberania dos trabalhadores rurais contra o impacto ambiental do eucalipto e soja. Um evento caloroso com participação de vários seguimentos dos movimentos de direitos humanos e da vida. Sabe-se que as comunidades tradicionais do Baixo Parnaíba desde o inicio da década de 80 que vem enfrentando batalhas contra a empresa Suzano Papel e Celulose e grupos de gaúchos vindos de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, tanto a Suzano quanto os gaúchos são responsáveis pelo atraso do projeto de Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural Sustentável em nossa região. Os camponeses são os verdadeiros herdeiros dessas terras, pois desde tempos históricos remontando ainda o período dos índios Tremembés que eles já caçavam o tatu, peba, cotia, veado e pássaros; pescavam cará, piaba, traíra, jacundá, catana e viviam do extrativismo do bacuri e pequi além de muitos outros frutos do cerrado. Mas lembrando que nada disso era predatório e sim eles praticavam esses ofícios pela sobrevivência das famílias sucedendo então essa cultura aos habitantes que aqui chegaram como retirantes das secas do Ceará e Piauí, conjunto que formou nossa gente. Quando apareceu a febre do eucalipto na região, tudo foi mudando, o cenário cultural em especial fauna e flora sofreram alterações drásticas em todos os sentidos. Esse ato da Suzano e dos grupos de gaúchos que agora aqui estão é inaceitável. Os grandes campos de eucaliptos que cobre os territórios de Urbano Santos, Santa Quitéria, Chapadinha, Mata Roma e tantos outros municípios é um cenário difícil de se ver, infelizmente, são chamados “monstros verdes”. Os rios de Urbano Santos Mocambo e Boa Hora por exemplo já não respiram mais oxigênio puro, suas águas secaram e seus peixes desapareceram totalmente; como diz o camponês ribeirinho Sr. Canário do Povoado Pequi: “No Rio Mocambo agora não se pega piaba nem pra fazer remédio.” Um problema que deve ser observado além das lutas dos trabalhadores rurais, entregues portanto os órgãos competentes  com o intuito de dirigir sua ótica à esses desacatos aos direitos humanos e da vida. Relembrando fatos importantes de acontecimentos históricos de trabalhadores rurais em defesa de suas terras, podemos rever os capítulos gloriosos do Assentamento Mangueira (Urbano Santos), onde ainda no inicio de 80, as lideranças na pessoa do Sr. Manuel Américo enfrentaram a Suzano -, no tempo conhecida como Florestal LTDA, que tentava tomar e grilar as terras da associação na época, há noticias de que até tiros foram disparados para intimidar a comunidade que depois de muitas lutas conseguiram as arrecadações e regularizações fundiárias. Para acentuar ainda é importante frisar figuras de resistências como as “FRANCISCAS”, uma do Povoado São Raimundo (Urbano Santos) e a outra do Baixão da Coceira (Santa Quitéria), estas que vem enfrentando desafios contra o impacto ambiental e combatendo latifundiários. Quero ainda saudar nesse breve texto a pessoa do Irmão Francisco do Povoado Bracinho (Anapurus) -, figura destacada na resistência contra os sistemas opressores da Suzana em sua comunidade tradicional. Além destes foram muitos que contribuíram e vem contribuindo pelo nosso grande projeto de defesa do DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL. O Baixo Parnaíba tem donos e essas sombras são ancestrais, os donos do Baixo Parnaíba somos nós: TRABALHADORES (AS) RURAIS, RIBEIRINHOS, PESCADORES, COLETORES, DEFENSORES DE NOSSOS TERRITÓRIOS LIVRES. Nossa luta nunca vai parar, temos que  dar as mãos contra o impacto que assola não apenas nossa querida e amada região, mas o Maranhão, o Brasil... o Planeta Terra. Queremos equilíbrio nas relações climáticas. Queremos justiça, queremos, titulação, desapropriação, regularização, arrecadação de nossas terras, queremos sobretudo REFORMA AGRÁRIA E LIBERDADE.

José Antonio Basto
*militante dos direitos humanos
Urbano Santos/MA - 09/04/2014

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