segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A saga do Riacho Santo Amaro





Indefeso e cercado por campos de eucaliptos, o que não basta mais agora as poucas águas do Riacho Santo Amaro serve para alimentar determinadas construções, ato esse que formaliza-se na imagem de caminhões-pipas tirando suas águas três vezes por dia, o que não se sabe é se esses responsáveis por essas atividades tem licença ou não. Vale a sociedade civil juntamente com os moradores do Povoado Baixa Grande averiguar a questão. Pois o problema da extração de água ilegal pode rolar até processo no ministério público segundo as leis. O riacho é composto por uma área repleta de buritizais e até juçaras, infelizmente esse afluente do Rio Mocambo vem enfrentando na resistência o impacto ambiental desde tempos bem remotos.
          O Riacho Santo Amaro remonta uma história romântica entrelaçada na memória dos primeiros moradores da região. Segundo informações do Sr. Zé Martins, líder de Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs), um dos primeiros habitante daquelas redondezas, o mesmo contou que naquela época tudo era diferente; as águas do riacho eram bem claras, as pessoas usufruíam dos seus produtos naturais e vegetais mas com extremo respeito, colhiam o fruto do buriti; pescavam, caçavam... vivendo portanto em verdadeira comunhão com a fauna e flora antes da chegada do eucalipto no final da década de 70. Zé Martins acrescenta que a comunidade trabalhava em mutirão: cobrindo casas, trocando diárias de serviços na roça e quando abatiam algum animal a exemplo de porco ou gado cada família tinha direito em uma pequena parte para o sustento de seus filhos. Pois isso estava muito longe daquilo que se chama ganância capitalista pelo poder e dinheiro. A primeira CEB a ser fundada no município de Urbano Santos foi na Associação de Moradores do Povoado Santo Amaro – Baixa Grande, em 1968, com o apoio dos padres Xavier e Zé Antonio, vultos históricos que revolucionaram a educação e o pensamento de liberdade em Urbano Santos num momento conturbado da política nacional – a Ditadura Militar. Mas infelizmente esse ar de segurança e paz com o meio ambiente e a ecologia dura pouco. No inicio de 1980 a “Empresa Florestal LTDA” chega no município de Urbano Santos e instala seu primeiro viveiro de teste justamente na área que pertencia a associação, a chamada Fazenda  Santo Amaro; começa por ali as primeiras discórdias e conflitos agrários entre os representantes da empresa e os moradores do povoado representados e orientados pelo movimento social com o apoio da igreja católica. A luta ficava cada vez mais tensa, foi quando representantes da empresa decidiram conversar com os líderes do movimento em defesa da reforma agrária e do meio ambiente. O certo é que chegaram em um determinado acordo, que a  associação ficasse com as terras do lado direito do riacho e a Florestal com as  do lado esquerdo, foi ai  então que eles abriram grandes campos para os primeiros experimentos de eucaliptos em nossa região, onde as espécies se deram muito bem. Construíram uma casa de fazenda próximo ao Rio Mocambo e plantaram diversas mudas de eucaliptos nas redondezas. Muitas ectares foram negociadas com a empresa nesse período do inicio de 80, principalmente por intermédio dos governos municipais.
          Com isso os trabalhadores rurais foram expulsos de suas terras, onde estas passaram a pertencer famílias influentes do município; isso se reflete até os dias de hoje no que se diz respeito à desapropriação e usucapião do Povoado Baixa Grande. O Riacho Santa Amaro vive na resistência tanto do afeto problemático do eucalipto quanto agora desses fantasmas caminhões-pipas que apareceram ninguém sabe de onde para roubar suas águas, assombrar seus peixes e maltratar a mãe natureza.
                                                 

Descrição: Envelhecido                                                  JOSÉ ANTONIO BASTO
                                                  Urbano Santos/ 12- 01 - 2014
                                                  militante dos direitos humanos

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