quarta-feira, 8 de maio de 2013

Prisão verde do Cerrado

Fotos que revelam cárcere florestal ganham prêmio. Monocultura do eucalipto dilapidou a biodiversidade em Minas Gerais, estado que recebeu as primeiras mudas nos anos 40

 
VALE DO JEQUITINHONHA - Imagens de árvores que matam árvores ganharam um dos mais importantes prêmios brasileiros de fotografia. Elas mostram o drama ambiental causado pela monocultura do eucalipto no Cerrado de Minas Gerais. O primeiro lugar do Prêmio Fundação Conrado Wessel de Arte foi concedido à série “Sufocamento”, do mineiro Pedro David. Nela, espécies nativas aparecem isoladas, aprisionadas pelos vastos bosques do plantio de eucalipto.
— Há dez anos viajo para o Vale do Jequitinhonha (Norte de Minas Gerais) fazendo registros. Sempre me indignou ver a substituição do Cerrado por florestas de monocultura de eucalipto. Um dia, fazendo um trabalho encomendado pelo Museu Guimarães Rosa, avistei uma árvore nativa que resistia num verdadeiro cárcere florestal. A imagem falou por uma década de incômodo — conta o fotógrafo, que admite ter inscrito a série em dezenas de editais, sem obter sucesso.

Pedro, de 35 anos, afirma que vai continuar a série sobre as florestas artificiais espalhadas pelo país.

— O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro. Grande parte dele já foi destruído, em especial pela expansão de cidades e plantações. É um absurdo — alerta ele.

Originário da Austrália, o eucalipto começou a ser trazido para o Brasil em 1904, para ajudar na produção de dormentes das linhas férreas, devido ao seu crescimento rápido quando comparado a outras espécies de árvores. Já para produção de papel e celulose, Minas Gerais foi o estado que recebeu a primeira leva de plantio, nos anos 40.

— O impacto das monoculturas de qualquer espécie no meio ambiente é altamente negativo porque reduz a biodiversidade. Nesse modelo, nenhuma outra árvore fica de pé. Por não serem naturais, essas plantações são chamadas de desertos verdes. Dão uma falsa ideia de reflorestamento — diz o engenheiro florestal Cláudio Santana.

Segundo a Embrapa, o Brasil é o 11º produtor mundial de papel, com 2,2% do total.

 Por: ÉRICA MAGNI
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