sábado, 18 de agosto de 2012

Defensores Públicos serão capacitados para fortalecer atendimento a comunidades tradicionais


A vulnerabilidade dos quilombolas, dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana e dos ciganos exige um esforço diferenciado na defesa e promoção dos seus direitos. O fortalecimento da atuação dos Defensores Públicos nas questões referentes aos direitos dessas comunidades é o objetivo dos cursos de capacitação que a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e a Defensoria Pública da União (DPU) realizam, com participação de representantes desses segmentos. A IV Edição do Curso de Capacitação para Defensores Públicos e Operadores do Direito acontece de 20 a 24 de agosto, em São Luís, no Maranhão e visa qualificar os profissionais do direito e criar insumos para a construção de um manual de mediação de conflitos em comunidades tradicionais.
A parceria entre SEPPIR e DPU foi iniciada em 2009. Desde então, foram capacitados 149 Defensores Públicos, nas três edições anteriores do curso. Os participantes são convidados a partir de edital e convite (e-mail com regulamento) e, no caso de ultrapassar o número de vagas, é feito sorteio. A capacitação representa um esforço para melhorar e tornar mais eficar a assistência jurídica a essas comunidades, e, do ponto de vista profissional, uma oportunidade de alargar os horizontes de cada Defensor Público pelo conhecimento agregado e pela experiência social e humana que a capacitação possibilitará.
 “A assistência a grupos tradicionais consiste num aprendizado constante ao profissional do Direito. É impossível ser fiel a demandas de grupos quilombolas sem minimamente adentrar em seu modo de pensar e de entender o mundo e a si mesmos, sem buscar compreender sua peculiar forma de relacionamento com o meio ambiente e com a cultura de descendência africana. O maior desafio parece ser converter a rica experiência e os valores de grupos tradicionais em argumentos juridicamente válidos à defesa de seus interesses”, afirma Yuri Costa, Defensor Público Federal no Maranhão, titular do Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão.
Yuri Costa destaca que a legislação sobre o tema, além de recente, é marcada por categorias ainda não muito bem definidas pela jurisprudência, por vezes preenchidas, quer no âmbito administrativo, quer no Poder Judiciário, “por posicionamentos preconceituosos ou intolerantes com relação a uma experiência cultural e histórica tão antiga quanto desconhecida”.
Segundo Costa, no Maranhão, as comunidades procuram a Defensoria Pública da União por três principais razões: obter orientação quanto ao procedimento de certificação como comunidade quilombola, para que a Defensoria preste assistência jurídica no processo administrativo ou judicial de regularização de terras ocupadas tradicionalmente pela comunidade; e para obter auxílio em demandas decorrentes de projetos de grande impacto socioambiental.
“A certificação, regra geral, é obtida administrativamente junto à Fundação Cultural Palmares sem grandes dificuldades, já que tem como base o autorreconhecimento e possui um procedimento relativamente célere e simplificado”, adianta. Já a regularização de terras tradicionais depende da agilidade de procedimento junto ao INCRA, e esbarra na resistência de particulares que, legítima ou irregularmente, se apresentam como proprietários da terra e na exigência legal de uma consistente base antropológica a caracterizar a tradição do grupo quilombola e a extensão das terras ocupadas. “Isso tudo torna o processo regularização de terras algo extremamente moroso e não raras vezes marcado pelo conflito e violência no campo”, acrescenta.
Avanço na legislação
A secretária de Políticas das Comunidades Tradicionais, Silvany Euclênio, destaca o avanço na legislação e a importância de um atendimento jurídico diferenciado às comunidades tradicionais, considerando sua vulnerabilidade para a lide com o Estado, e também para o controle social das políticas públicas. “A especialização destes operadores do Direito nas especificidades que envolvem as comunidades quilombolas, as comunidades tradicionais de matriz africana e os povos de cultura cigana é importante para potencializar o atendimento que já é prestado a esses segmentos populacionais. A Defensoria tem sido importante parceira na promoção e defesa dos direitos desses grupos, secularmente discriminados. Com mais essa edição do curso, essa parceria tende a ser mais profícua”, afirma.
Entre os pontos mais importantes do programa do curso, estão o Racismo no Brasil e os Institutos Legais, Comunidades Quilombolas e Políticas Públicas, Regularização Fundiária e Certificação: Avanços e Desafios, Conflitos em Territórios Quilombolas e Experiências Institucionais (reunindo informações provenientes de órgãos como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra, Advocacia Geral da União – AGU, Ministério Público Federal – MPF e DPU). Completam a programação os temas Racismo no Brasil e o Advento do Estatuto da Igualdade Racial, Programa Brasil Quilombola e Titulação das Terras Quilombolas, entre outros.
Sobre a parceria SEPPIR e DPU
A parceria entre a SEPPIR e a DPU tem por objetivo o fortalecimento da atuação dos Defensores Públicos nas questões referentes à defesa e promoção dos direitos das comunidades quilombolas. Essa parceria foi oficializada em Acordo de Cooperação, assinado em 2010. Os dois órgãos firmaram novo Acordo de Cooperação em 2012, incluindo como público-alvo, para além das comunidades quilombolas, outros povos e comunidades tradicionais, cuja vulnerabilidade exige um esforço diferenciado na defesa e promoção dos seus direitos. São os Povos de Cultura Cigana e os Tradicionais de Matriz Africana, também chamados Povos de Terreiro, ambos reconhecidos pelo Decreto 6040/2007.
As atividades de formação serão realizadas por região do país. Em 2012, as capacitações abarcarão as regiões Nordeste e Sudeste, pela densidade dos Povos e Comunidades Tradicionais, e também pela proliferação de situações de conflito. As demais regiões, ou seja, norte, centro-oeste e sul deverão ser contemplados em 2013.

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