domingo, 4 de novembro de 2018

Perde-se para que se possa achar



Ele não saberia dizer como se perdera. Algum detalhe o induzira ao erro. Algo saira do lugar ou o lugar saira da sua mente de uma forma que não dera por si? Por que se perdera nesse lugar tantas vezes visto, ele se perguntava.
Ficara fora por meses. Um ano ou mais de um ano. Recordava-se do que Domingos lhe pedira antes de retornar a São Luis. Pedira-lhe que auxiliasse seu irmão que morava em Buritizinho, município de Anapurus. Respondera: Tudo dependia de recurso. Caso chegasse não haveria problema algum em auxilia-lo.
Domingos presidia a associação de moradores do povoado Capão, município de Santa Quiteria. Os mais de mil hectares titulados pelo Instituto de Terras do Maranhao em nome da associação do Capão se localizam na bacia hidrográfica do rio Preguiças. A associação do Capão e a associação do povoado Coceira pleiteiam uma área de Chapada situada entre as duas comunidades. O tamanho dessa Chapada excede e muito as áreas de Chapada das duas comunidades. Não se sabe ao certo a medida em hectares. Só se sabe que em seu solo caiam milhares e milhares de frutos de Bacuri e Pequi, apenas citando os mais conhecidos e aproveitados, e que a Suzano Papel e Celulose e o Gilmar Locatelli, plantador de soja, enfrentavam-se nos tribunais por sua causa. A incerteza quanto ao real proprietário abriu passagem para que pessoas de comunidades vizinhas entrassem na Chapada e derrubassem bacurizeiros e outras espécies nativas do Cerrado. Os desmatadores se valem da omissão dos órgãos fiscalizadores, que por muito tempo fecharam os olhos para os crimes praticados pela Margusa, pela Suzano e pelos plantadores de soja, e se valem também do receio das comunidades em denunciar o corte ilegal de madeira.
O Cerrado é uma floresta de cabeça pra baixo. A parte mais evidente não se compara ao que se estende por debaixo da terra. Quilômetros e quilômetros de raízes se entrelaçam e garantem que o solo não se empobreça e não se perca pela erosão. Trocar essa multiplicidade de raízes, que se tocam, pela unicidade de uma raiz apenas representa a perdição para o Cerrado e para as populações que vivem nele e dele.
Perde-se para que se possa achar. Iludia-se ao considerar improvável que pessoas de dentro das comunidades da fazenda Tabatinga, vizinha ao Capão, pudessem derrubar a mata nativa do Cerrado e vendessem-na sob a forma de carvão vegetal. Esse tipo de trabalho fazia lembrar os fornos da Margusa que abocanhavam a mata nativa dos municípios de Santa Quiteria, Anapurus, Urbano Santos e São Bernardo nos anos 80 e 90. Só que Domingos do Capão revelou que moradores da comunidade da Cabeceira da Tabatinga desmatavam sem dó e nem piedade o Cerrado e Ivanaldo confirmou a noticia. Para que o peso da denuncia não ficasse sobre as costas de ninguém das comunidades afetadas pelo desmatamento ficou decidido que o Forum Carajas elaboraria um texto explicando o que ocorria na região e pedindo providencias aos órgãos ambientais, ao ministério publico e ao judiciário de Santa Quiteria e do estado do Maranhão

Mayron Regis

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