quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Aquisição de terras em Matas dos Ferreiros: o cerco do agronegócio e a esperança da regularização fundiária.



O viajante passava a noite pela Comunidade Mata dos Ferreiros, zona rural do município de Urbano Santos, Baixo Parnaíba maranhense. Em cima da carroceria da caminhonete a vista pairava sobre as humildes casas dos trabalhadores rurais em meio aos violentos campos de eucaliptos. O viajante voltava da comunidade São Raimundo, onde participara duma missão festiva a convite de alguns amigos de luta. Mata dos Ferreiros tem algo em comum com o São Raimundo: a batalha pela terra e o combate ao agronegócio em defesa do meio ambiente; uma pelo Iterma a outra pelo Incra, as duas comunidades reencontram-se na linha de frente pela Reforma Agrária na região, elas estão localizadas no meio do território e sofrem os mesmos impactos. Seus moradores vivem ameaçados pelas grandes plantações de eucaliptos, pouco restou da terra que é de direito dos posseiros, as matas estão poucas para fazerem suas roças, as chapadas que alimentam suas famílias foram devastadas a correntões e substituídas por milhares de pés dos “monstros verdes”.   Muitos problemas essa espécie estranha natural da Austrália tem causado em Matas dos Ferreiros, a caça desapareceu e o riacho morre aos poucos, todo povoado é cercado pela monocultura, não há espaço para nada. Desde décadas, espera-se do Iterma, uma vistoria para regularização fundiária, quem mora lá desde 50 anos atrás é a família “Ferreiros” – ela sabe dos entraves, jogada sem destino, esquecida pelos órgãos -, mas viva e que merece ser respeitada. Ali a terra foi adquirida pelo programa da silvicultura, mas de que forma? Eis a questão! Uma comunidade que ficou restrita de colher seus próprios bens naturais, ao longo das proximidades das fronteiras ficou privada de exercer seus trabalhos culturais na agricultura e no extrativismo. Isso se alia à extensão dos impactos ambientais locais e regionais naqueles meados dos caminhos aplainados da Suzano. É de se perguntar sempre, qual é a parcela positiva de desenvolvimento que o agronegócio deixa para as comunidades rurais? O que as pesquisas acadêmicas trazem a tona é uma realidade totalmente diferente da que estar sendo pregado ao longo do tempo, desde quando o eucalipto se expandiu além das fronteiras do município na década de 80, tomando terras camponesas, alterando o clima e todo meio ambiente, desacatando os direitos das populações tradicionais. A terra para o grande latifúndio é elemento de poder e capital, o capitalismo nunca supriu as necessidades dos menos favorecidos, dos povos tradicionais, que até os dias de hoje são desprovidos de direitos sociais, infelizmente o capitalismo se renova com sua queda. A comunidade Mata dos Ferreiros, assim como tantas outras, ainda resistem à opressão, ela não é opaca, ela vive na esperança, tal qual suas relações de vida e vivência, guardando em sua memória os papeis de outrora, no sentimento de tempos melhores. Leonardo Boff – teólogo, ativista e escritor, dizia que a causa da terra é  justa e humanitária e que acima de tudo “A luta pela Reforma Agrária é uma luta por vida”.

José Antonio Basto

e-mail: bastosandero65@gmail.com  

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