terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Organização preserva medicina tradicional do Cerrado


Sistema gera renda para habitantes com cosméticos naturais

por Priscilla Santos
Editora Globo
De baciada: Participante da rede exibe coco de macaúba coletado no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. A Articulação também atua em Goiás, Tocantins e Maranhão (Foto: Divulgação)
Folha de pacari para gastrite, pé de perdiz contra inflamações e batata de purga para gripe. Preservar a medicina popular do Cerrado e fazer seus habitantes tirarem renda dessa tradição é o que move a Articulação Pacari, rede que reúne cerca de 50 grupos comunitários que fabricam remédios usando ervas típicas da região. “São receitas passadas de geração em geração entre pequenos agricultores, quilombolas e indígenas.

Há comunidades com 300 anos de ofício”, diz a engenheira agrônoma Jaqueline Evangelista, coordenadora técnica da Articulação, que, em abril, ganhou o Prêmio Equatorial da ONU por estimular o desenvolvimento social e sustentável na região. A rede trabalha em 3 principais frentes: as farmacinhas populares, onde são preparados remédios em forma de xaropes, comprimidos e tinturas, vendidos por até um quarto do preço de um medicamento de farmácia com efeito similar; uma marca de cosméticos, que gera renda para mulheres locais; e a documentação do saber tradicional.

Em 2010, foi lançada a Farmacopeia Popular do Cerrado, com mais de 50 fórmulas de remédios naturais. A publicação, reconhecida pelo Ministério do Meio Ambiente como uma ação pioneira a ser multiplicada, é de autoria de 262 raizeiros e raizeiras — pessoas que não só conhecem as plantas medicinais locais, mas sabem o momento certo de colhê-las e como prepará-las.

Enquanto ações assim contribuem para valorizar a sabedoria popular, a Pacari Cerrado Eco-produtivo, marca de cosméticos criada pelo projeto, gera renda. Os produtos são feitos com plantas colhidas em propriedades agrícolas sustentáveis. Entre os ingredientes, estão os óleos pequi, macaúba e gueroba. Somente no beneficiamento desse último, estão envolvidas 93 mulheres. “É uma maneira não só de possibilitar um ganho financeiro, como de empoderar essas mulheres na sociedade local”, diz Jaqueline. Assim, elas podem articular a preservação do Cerrado e de sua atividade para que, daqui a 300 anos, o ofício ainda seja tradição por ali.
revista galileu

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