A zona rural da ilha de São Luís é lugar de desmando tanto quanto qualquer terra do Maranhão. Numa visita às vilas do Taim,  Cajueiro  e Vila Maranhão o que se vê são terras sendo muradas e expulsão de  agricultores e pescadores de locais ocupados por eles há muitas décadas.  E para surpresa maior verifica-se a “onipresença” do agronegócio e de  tantas outras empresas que abusam do meio ambiente sem sequer ouvir um  ralhar maneiro da justiça ou do poder público.
Mas  o que esperar de um lugar onde as leis estabelecidas são meros  ornamentos e o que vale é a lei do mais forte? Até parece que estamos  nos confins do Pará, onde agricultores que defendem a terra são abatidos  à bala. Não estamos; estamos no meio urbano de uma capital com um  milhão de habitantes, mas o “projeto de desenvolvimento” é o mesmo.
O  Taim tá sendo invadido e estaria sendo empurrado pra dentro do mar,  caso o mar também não estivesse sendo anexado como propriedade  particular das empresas do agronegócio, das commodities. A vila  Maranhão, que amarga debaixo da poeira dos caminhões das jazidas de  areia diminui e se assemelha cada vez mais a uma periferia urbana  abandonada pelo poder público. O trânsito de caminhões carregados é  tanto que a estrada, construída há pouco tempo, já sumiu no meio da  buraqueira.
Na  vila cajueiro, espremida entre Vila Maranhão e Taim (defronte da ilha  de Tauá-mirim – aquela que uma candidata a prefeita já quis colocar  linha de ônibus, sem nem saber que se tratava de outra ilha), a  comunidade de pescadores se depara com a potência da Suzano Papel e  Celulose que ali pretende se apoderar de um trecho da Baia de São Marcos  para construir seu “porto próprio”. Não bastasse a draga e o contêiner  que serve de escritório, a empresa de agronegócio distribuiu seus  pesquisadores para bisbilhotar a vida dos pescadores. A desinformação é  tanta (seria proposital?), que o pescador da comunidade Arlindo Silva  acreditava se tratar de uma equipe do Ministério Público Federal. Na  nossa curiosidade de jornalistas eu e o senhor Mayron Régis,  acompanhados do líder comunitário Alberto Cantanhede Lopes, descobrimo  s se tratar de uma pesquisa encomendada pela Suzano para a PLANAVE.  Plena de perguntas capciosas cujas respostas comporão os famigerados  relatórios onde “se prova” que a comunidade, não é rural, que os  pescadores não são pescadores e que a pesca é inexistente. 
A  vila Cajueiro, comunidade de pescadores e agricultores tem problemas de  sobra. Há cerca de um ano apareceu um dono de terras que simplesmente  pôs um portão na Estrada das Arraias, interrompendo o tráfego de  agricultores às suas roças e matas e inviabilizando o uso dos Portos das  Arraias, Londres, Gama e Capoeira, sobrando apenas o Porto de Arapapaí,  porque este tem um caminho alternativo. O Porto das Arraias é usado há  mais de cem anos pelos pescadores da região.
              Enquanto  as dragas aprofundam o mar, os tratores entopem as nascentes e os  jagunços expulsam os agricultores e pescadores. O ministério público, o  judiciário e o executivo escolhem qual dos processos será mexido, para  fazer girar as engrenagens do sistema que mantém oprimidos os oprimidos e  mais enriquecidos os exploradores. A região que contém essas  comunidades está dentro de um projeto de criação de reserva extrativista  que está parado no Ministério do Meio Ambiente há anos. Todos os  rituais foram cumpridos para a criação da RESEX, mas um documento  fundamental simplesmente sumiu do processo. A “Carta de não objeção” do  Governo do Estado foi assinada pelo ex-governador Jackson Lago, e talvez  tenha sumido da mesma como sumiu o mandato do ex-governador, ou sabe-se  lá por que outro Poltergeist. A criação da RESEX de Tauá-Mirim é de g  rande importância, uma vez que a área está cercada por grandes projetos  como Vale e Alumar. Se não for criada em poucos anos a área se tornará  um grande depositário de minério e suas lixeiras. Continuando assim a  própria ilha de São Luís tende a virar uma ilha cinza. 
Geraldo Iensen - Jornalista
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