“Eu não estou tão certo do
destino que nos é reservado. ” Em que livro, ele lera essa frase? Tantas vezes
escrevera algo que soava original, mas no final das contas verificara se tratar
de pastiche intelectual. Lia muito e essa enormidade de leituras o perturbava
como se percebe com relação a frase. Sentia que essas leituras trairiam seu
intelecto. Difícil admitir que o intelecto podia ser traído. As frases traem
não o leitor, mas sim o escritor que conclui ao fim e ao cabo que o escrito é
apenas uma forma imprecisa de um texto maior. Que texto maior é esse que não
aparece por completo em nossas mentes ou, se aparece por completo, ele
desaparece no mesmo instante sem nenhuma explicação? Coleridge, poeta inglês dos
séculos XVIII e XIX, sonhou com o maior poema de sua vida. Acordou e escreveria
o poema caso não o atrapalhassem em suas múltiplas tentativas. O que sonhara
não se lembrava mais. Afinal desistiu de escrever o poema. Para que escrever se
não está certo que o destino de quem escreve corresponde ao destino do que é
escrito? As pequenas comunidades do Baixo Parnaiba maranhense viram o melhor
dos seus destinos serem apagados da memória, para darem lugar ao pastiche. A comunidade
do Riachão, município de Chapadinha, viveu sua vida produtiva e social sempre
dependente da família que detinha os documentos de propriedade da área onde a
comunidade morava. Essa relação de dependência (poder feudal) manteve-se por
décadas até a chegada da Suzano Papel e Celulose que prometia centenas de
empregos na sua fábrica de pellets que construiria no município de Chapadinha. A
empresa comprou a propriedade e destinou apenas alguns hectares para os antigos
moradores plantarem. Caso os moradores desobedeçam e plantem além da área
destinada pela empresa, eles serão processados.
Muito bom o texto. A intertextualidade com referência ao poeta inglês e as comunidades do Baixo Parnaíba me chamou a atenção.
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