A literatura brasileira aprecia o rural bem mais que o urbano. A historia socioeconômica do Brasil explica esse apreço pelos temas rurais em detrimento aos temas urbanos. Seria bom, entretanto, começar com um autor que auxiliará na compreensão do rural em relação ao urbano e vice-versa. Em determinado trecho da sua novela Ferragus, Honoré de Balzac escreve assim: “Julio seguiu a mulher a uma saleta onde viu acumulados gaiolas, utensílios domésticos, fogareiros, móveis, pratinhos de barro cheios de restos de comida ou água para o cão e para os gato, um relógio de madeira, talheres, gravuras de Eisen, ferros velhos amontoados, misturados, confundidos de modo a formar um quadro grotesco...”. Certamente, nessa lista não consta nenhum item sentimental. A senhora larga as coisas pela casa não pelo sentimento e sim pela própria vacuidade que as coisas causam nela. O urbano é isso. As pessoas possuem as coisas e são possuídas por elas sem maiores justificativas morais e econômicas. Dalton Trevisan é um escritor realista, como de resto a literatura brasileira, e em seu conto Uma Vela para Dario descreve um ataque de epilepsia e a forma como as pessoas se comportam com relação ao morto. O espaço em si, onde se dá o fato, pouco importa. Dalton Trevisan empurra o epilético e a turba para um cenário que poderia ser em qualquer cidade. O cenário da bisbilhotice. As pessoas bisbilhotam o corpo, ao mesmo tempo, que o carregam de lá para cá. A descrição de Balzac comprova que o capitalismo na França superara os seus primórdios pré-industriais e dera lugar ao capitalismo financeiro. A descrição de Dalton Trevisan circunscreve seus personagens presos a patologias irreprimíveis como Aluizio de Azevedo fez em O cortiço no século anterior.
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