O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
sábado, 10 de julho de 2021
O russo desconfiado
Assim Joseph Brodsky descreveu Anna Akhmatova, poetisa russa, no ensaio “Musa Lastimosa” do livro “Menos que um”, publicado pela Companhia das Letras em 1994: “ com 1,77 metro, cabelos escuros, pele branca, olhos cinzento claros semelhantes aos leopardos da neve, esbelta e incrivelmente graciosa...”. Desculpem o jogo de ideias, uma descrição dessas passa longe da sensação de frio que se espera ter com qualquer experiência literária proveniente da literatura russa. Os primeiros contatos com os russos acontecem por meio de comentários ou citações presentes em obras de escritores não russos. A breve biografia literária do escritor americano Charles Bukowski que consta no final do seu livro “Cartas na Rua” detalhou suas influencias literárias e uma delas era Ivan Turgueniev, escritor russo do século XIX. Só anos mais tarde, leria “Pais e Filhos” de Turgueniev, traduzido diretamente do russo na edição da Cosac e Naify. Não há menor duvida que a maior contribuição de Bukowski para os seus leitores foi te-los incentivado a ler Turgueniev assim como Celine, escritor francês do começo do século XX. Brincadeiras a parte, ter lido os ensaios de Brodsky em 1994 motivou um olhar absolutamente inesperado. Ele escrevia em inglês e não em russo sua língua materna. Por vários trechos dos seus ensaios, Brodsky reconhece que a língua inglesa é insuficiente para dar conta de construções estéticas que no caso do russo é bem simples. A forma como ele se achega a Akhmatova e a Mandelstam reflete humildade, algo incomum em se tratando de escritores ainda mais russos. Brodsky nascera russo com ascendência judia e os judeus mantem uma relação complicada com a cultura e a historia dos países onde se assentam. Alguem precisava explicar e esmiuçar na forma de linguagem o que ocorre pelas cidades e pelos campos, pois a medida que cidades se erguem e campos nascem algo envelhece e morre. O estilo de Brodsky tinha mais a ver com o inglês do que com o russo e por isso transmitia uma sensação de objetividade ou de secura bem diferente do russo que se esparramava em várias frentes literarias sociais e politicas . Um russo desconfiado de sua capacidade, dir-se-ia
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