O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
segunda-feira, 20 de julho de 2020
Geração de renda e segurança alimentar nos projetos apoiados pelo Fundo Casa no Baixo Parnaiba maranhense
Não se tem certeza, mas é quase certo que o projeto “ As Carrancas do senhor Onésio” foi o primeiro projeto que o Fundo Casa financiou na região do Baixo Parnaiba maranhense que consagrava em seus objetivos a geração de renda e a segurança alimentar. O projeto nasceu em discussões do Fórum Carajás com os pequenos e médios proprietários e posseiros do povoado Carrancas, também conhecido por Valença, município de Buriti de Inácia Vaz. O nome “As Carrancas do senhor Onésio” tem suas explicações. As pessoas denominavam o povoado de “Carrancas” devido a aparência carrancuda das florestas que se adensaram sobre as Chapadas ou, em outras palavras, era mata fechada mesmo. O senhor Onésio foi o elo de ligação da equipe do Fórum Carajas com os moradores do povoado nas discussões que deram partida ao projeto e dele partiram sugestões para o seu pleno funcionamento.
A leitura que se fazia a respeito da realidade do município de Buriti e de outros municípios da região do Baixo Parnaiba maranhense era que só o discurso de preservação ambiental não seria suficiente para motivar a resistência dos proprietários e das comunidades frente ao avanço do agronegócio que já ocupava vários cantos e recantos do município. O Fórum Carajás vindo de uma experiência no povoado de São Raimundo, município de Urbano Santos, propôs ao seu Onésio e aos demais proprietários e posseiros a realização de um projeto que incentivasse a preservação do Cerrado cujas bases estariam na posse da terra, na produção, na geração de renda e na garantia de alimentação saudável. Dois pontos nevrálgicos do projeto eram o combate ao desmatamento das Chapadas para o plantio de soja e o reflorestamento de áreas degradadas com espécies nativas especialmente o bacurizeiro, espécie fundamental para a regulagem do micro clima, para a regulagem dos reservatórios de agua no subsolo, para a geração de renda e para a alimentação. Essas qualidades se devem as suas raízes que alcançam distancias impressionantes num raio de quilômetros e aos seus frutos cuja polpa serve para comer em natura ou serve para produção de sucos, doces, cremes e etc, o que é muito apreciado pela população local e pelos compradores de polpa vindos de grandes centros.
O projeto “As Carrancas do senhor Onésio” foi administrado pela Associação dos Amigos de Buriti (AMIB), ONG sediada no município de Buriti, e demorou um pouco mais de um ano para ser concluído. Foram realizadas várias oficinas balizadas pelos objetivos do projeto: oficina de artesanato, oficina de produção de mudas e oficina de manejo de colmeias de abelhas nativas, um item prioritário para a conservação da biodiversidade. Essas oficinas eram desenvolvidas em comum acordo com os participantes do projeto para que não ficasse parecendo uma imposição vinda da coordenação. Um dos resultados mais pronunciáveis e visíveis do projeto foi o fechamento de uma área de mais de dois hectares na propriedade do senhor Vicente de Paula em que vicejavam brotações de bacurizeiros para todo que é lado. Vicente e seu genro João cercaram a área com bolas de arame farpado, comprados com dinheiro do projeto, demonstrando a intenção de proteger os bacurizeiros, que ainda estavam na fase de crescimento, de qualquer perigo de queimada. Uma vez Vicente comentou que a sua propriedade de 160 hectares apresentava mais de dez hectares de bacurizeiros.
O tempo que durou o projeto permitiu ter consciência de outras carências que se infligia aos agricultores familiares pela falta de politicas publicas provenientes do Estado. A mais terrível dessas carências era a insegurança alimentar que as pessoas sentiam em seus domicilios em boa parte do ano e que contribuía para que os plantadores de soja avançassem sobre os terrenos dos agricultores que não viam outra saída a não ser vende-los para obterem algum rendimento. Uma mudança nesse quadro passava pela produção sustentável e agroecológica de pequenos animais, no caso frango caipira e capote. Antonio Anisio, técnico agropecuário e ex funcionário da Associação Agroecologica Tijupá, desenvolvera um projeto de criação de frango caipira para agricultores familiares de acordo com os recursos naturais que podiam ser encontrados no meio ambiente ao redor. Para todos os efeitos, seria um galinheiro rustico, pois os materiais que entravam na construção do galinheiro eram palha de babaçu, talo de buriti e estacas de madeira do Cerrado.
Propôs-se que o Fundo Casa financiasse outro projeto no município de Buriti sob os auspícios da AMIB e com a coordenação técnica do Fórum Carajas com a justificativa que o projeto anterior fora realizado dentro da previsão e com os relatórios aprovados pela instituição financiadora. Com a aprovação do projeto pelo Fundo Casa, o Vicente de Paula passou a ser o olheiro responsável pela escolha das famílias que seriam beneficiadas com a construção dos galinheiros rústicos. Nesse momento, foram escolhidas famílias das comunidades da Bacaba, Mato Seco, Santa Luzia e Brejinho que dispunham de poucos recursos financeiros para iniciar um pequeno projeto que seja de produção. Esse projeto foi desenvolvido no ano de 2013 e mais outros projetos foram apoiados em mais de sete anos pelo Fundo Casa em Buriti e em outros municípios do Baixo Parnaiba maranhense que garantiram a geração de renda e a segurança alimentar de inúmeras famílias. Uma dessas famílias é a do Antonio José, morador da comunidade de Mato Seco, que vive como agregada no território da comunidade de Belem. É uma família de agricultores familiares (ele, a mulher, as filhas e os netos) e que criava galinha caipira da maneira tradicional, criando soltas, alimentando-as de vez em quando e etc. Com o projeto, Antonio José e a família criavam o frango caipirão que é um hibrido, um individuo com características da caipira e do frango de granja. Eles alimentavam os frangos duas vezes por dia, davam medicamentos e limpavam o galinheiro diariamente. O tempo de crescimento e de engorda durava três meses e a partir dai os frangos podiam ser vendidos ou consumidos pela família. A criação de frangos com apoio do Fundo Casa tirou do aperto financeiro e alimentar a família do Antonio Jose e muitas outras famílias.
O apoio do Fundo Casa aos projetos indicados pelo Forum Carajas também contribuíu para a diminuição dos desmatamentos da floresta no Baixo Parniba maranhense (Cerrado, Babaçu, Floresta Amazonica, Caatinga e restinga) e para a contenção do avanço da fronteira agrícola (soja, eucalipto e cana de açúcar).
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