Não se recordava a ultima vez que ligara para a casa de Francisca no povoado quilombola Barro Vermelho, município de Chapadinha. Queria ter mantido contatos mais frequentes com ela e seu irmão, Zé Orlando, vulgo Pelé. Os contatos telefônicos ou por internet sempre se mostravam insatisfatórios. Em parte, porque as conversas beiravam o monologo. Os quilombolas resistiam em conversar com pessoas de fora. Eles não viam saída em nenhum dispositivo social ou constitucional para a dura realidade que os cercava em seus territórios reconhecidos. O rio Munim oferecia uma saída mais honrosa ao monologo da exclusão social a qual os quilombolas se acostumaram por décadas (nada de estradas, nada de escolas, nada de benefícios e etc). O rio não podia ser tirado de suas vidas que pertenciam a ele. Algumas vezes, a família Leite bem que tentou lhes tirar o rio pela força e pelo dinheiro. Os Leite botaram cerca no leito do Munim para que seu gado trafegasse livremente (o rio é para o gado na opinião da familia Leite). As máquinas abriram várias crateras com o proposito de retirarem areia e seixo os quais a familia Leite venderia as empresas de material de construção em Vargem Grande e Chapadinha. Os esforços da família Leite foram infrutíferos. O rio continua lá e a cada inverno ele avança por sobre o território quilombola de Barro Vermelho que um dia a familia Leite alegou possuir. Os quilombolas não reclamam ou só reclamam para si ou entre si. Uma hora, as águas escorrerão e a área do rio se verá reduzida. O único problema é para se deslocar. Como a estrada da comunidade se encontra impraticável, e o quilombo praticamente impenetrável para os de fora, os quilombolas remam em barcos pequenos por quilômetros e ancoram em um local mais próximo da pista (numa situação de cheia os locais de ancorar os barcos são incertos). Nesse local aguardam um transporte que os levará a Chapadinha onde farão as compras do mês e receberão seus benefícios
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