Um conhecido
falou do projeto do seu pai em uma conversa casual em meio a tantas conversas
casuais. Não restou nenhuma recordação das demais conversas casuais (o conteúdo
delas) e não restou nenhuma recordação de como essas conversas se iniciavam e
com quem travava esse tipo de conversa propensa ao esquecimento. A conversa do
projeto não cairia no esquecimento. Quem
saberia dizer o porquê? Algum dispositivo secreto da memória guardou a por
quase dez anos em algum recinto fechado. Ela (a conversa) não representava nada
de especial para o conhecido. Ele se achegara ao grupo por transparecer simpatia e por querer ser simpático com uma das moças ou com todas as moças. Uma conversa rolava entre eles antes da
sua chegada. De alguma forma, a conversa permitiu a ele que tocasse no nome do
seu pai e no seu projeto pessoal. O pai fotografava e planejava publicar um
livro que retratasse com fotos a situação atual do município onde nascera e
onde erguera parte de sua vida pessoal. Depreendia-se pela conversa que o
fotografo corria contra o tempo. Quem sabe, poderia auxilia-lo, afinal
necessitava de alguém para escrever o texto que serviria de legenda a cada
foto. O município em questão: Buriti de Inácia Vaz. As fotos: capturavam
imagens da natureza e da destruição do Cerrado causada pelos plantios de soja. Não
pensou duas vezes e pediu o endereço do pai-fotografo. Ele residia no Caiçara,
prédio da rua Grande, principal rua comercial do Centro de São Luis. Mudara-se havia muito tempo para São Luis, justamente
num momento de modernização social e econômica da cidade e isso significava
destruir o que tivesse pela frente e o que tivesse ficado à distância. Habitua-se
com a destruição e com a reconstrução da memória (o passado não pode ser destruído).
A fotografia promete ocupar com imagens o vazio deixado pelo processo destrutivo
despertado e desencadeado pelo capitalismo. O fotografo mostrou algumas fotos do município
de Buriti naquele momento crucial para a sua cidade, começo dos anos 2000, em
que os plantios de soja ocupavam as Chapadas. A soja representaria um divisor
de águas para a sociedade buritiense. Dali em diante, nem as Chapadas e nem as
águas de Buriti seriam mais as mesmas.
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