Em
Nota, a coordenação da CPT e Articulação CPT’s do Cerrado alertam a
sociedade brasileira sobre o Plano Matopiba – mais uma ofensiva contra o
bioma Cerrado e os povos que nele vivem. Confira o documento na
íntegra:
A Coordenação Executiva Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a
Articulação CPT’s do Cerrado vêm a público para alertar a sociedade
brasileira sobre o que se pode qualificar como um forte ataque desferido
contra o Cerrado, que poderá acelerar ainda mais a destruição do bioma
que tem uma função vital para o nosso país, por sua grande
biodiversidade e, sobretudo, por dele se originarem as fontes de nossas
principais bacias hidrográficas.
Nas últimas semanas, o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), comandado por Kátia Abreu (PMDB-TO), lançou o
Plano de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba, que abrange áreas do
Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. No início do mês passado, a
presidenta Dilma Rousseff (PT) assinou o decreto 8.447/15 que formalizou
a abrangência territorial do tal plano. Do total da área deste “plano
de desenvolvimento”, 90,9% são de Cerrado, 7,2% Amazônia e 1,64% da
Caatinga. Segundo o próprio MAPA, o principal critério desta delimitação
foi embasado nas áreas de Cerrados presentes nos quatro estados.
Mas o interesse deste plano está em que, conforme o próprio MAPA, a
região é uma das principais áreas do mundo em expansão na produção de
grãos. De acordo com a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), na
safra 2014/2015, deverá crescer 4,37%, chegando a 7,642 milhões de
hectares. O Matopiba abrange 337 municípios e 31 microrregiões, num
total de 73 milhões de hectares. Neste território estão localizados 745
assentamentos, 36 territórios quilombolas e 35 terras indígenas.
Obras que darão suporte logístico ao plano Matopiba têm gerado inúmeros
conflitos, acompanhados e denunciados pela CPT e diversas outras
organizações. É o caso da construção da Ferrovia de Integração
Oeste-Leste (FIOL), na Bahia, que é defendida pelo governador do estado,
Rui Costa (PT), e considerada prioritária pela Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Enquanto isso, inúmeras comunidades vem sendo impactadas pelas obras da
ferrovia. No município de Caetité, por exemplo, trabalhadores e
trabalhadoras rurais das comunidades de Curral Velho e Serragem sofrem
com a destruição de suas casas, prejuízos em suas plantações, destruição
das estradas, entre vários outros problemas.
O exemplo acima é apenas um entre os inúmeros conflitos enfrentados
pelos Povos do Cerrado. Em estudo recente, baseado em dados da CPT sobre
conflitos no campo, Carlos Walter Porto-Gonçalves, professor de
Geografia na Universidade Federal Fluminense (UFF), analisou o índice de
conflitos em regiões de Cerrado. Ao analisar dados referentes ao
período de 10 anos (2005 a 2014), o estudo mostra que do total de 11.338
localidades onde ocorreram conflitos no campo brasileiro, 39%
aconteceram no Cerrado e em suas áreas de transição (onde o Cerrado se
encontra com outros biomas). Neste mesmo período, a Amazônia e suas
áreas de transição registraram 38% das localidades em conflito.
Todavia, preocupa-nos todo esse engajamento de políticos e empresas no
plano Matopiba, pois isso deixa claro que os conflitos nesses estados
tendem a aumentar, mesmo que as famílias camponesas continuem
resistindo. A Articulação CPT’s do Cerrado, projeto da CPT, e várias
outras organizações sociais tem se reunido e discutido com os Povos do
Cerrado formas de resistência e enfrentamento a esses “projetos da
morte”, como o Matopiba e a Fiol.
Contudo, a CPT alerta a sociedade para o fato de que, com o discurso do
desenvolvimento econômico, se avança sobre o Cerrado e as comunidades,
sem medir as consequências da acelerada e violenta destruição do bioma.
Estudiosos já computam, por exemplo, algumas dezenas de pequenos rios e
córregos que secaram no Cerrado. E se conhece a situação caótica de
assoreamento e anemia em que se encontram grandes rios, como o São
Francisco.
A CPT também chama a atenção para a disparidade entre o discurso e a
prática política. Bonitas palavras e propostas camuflam o apoio que se
dá a grupos privilegiados. Com o discurso de possibilitar a ascensão
social de pequenos produtores locais, o que se busca mesmo é o
incremento da produção e da exportação agropecuária do país, fonte de
lucro para os empresários do agronegócio.
Logo após a semana do Dia Mundial do Meio Ambiente, denunciamos mais
esta política nefasta ancorada pela ministra Kátia Abreu que, na defesa
insaciável dos senhores da terra, continua gerando vítimas e
sacrificando ainda mais o tão devastado Cerrado.
Coordenação Executiva Nacional da CPT
Articulação CPT’s do Cerrado
Goiânia, 08 de junho de 2015.
Mais informações:
Elvis Marques (assessoria de comunicação da CPT Nacional): (62) 4008-6414 / 8444-0096
Cristiane Passos (assessoria de comunicação da CPT Nacional): (62) 4008-6406 / 8111-2890
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