Antes
de tudo, um pouco. Quem escreve, assinala o espaço em que vive. Pediram-lhe uma
descrição. Lembrava-se da casa do
proprietário, que se destacava na Caatinga. O nome da familia Leite se
insinuava por aquelas paragens envelhecidas, pelo menos na aparência. Wilson
Leite, proprietário de Barro Vermelho, comunidade quilombola do município de
Chapadinha, assumiu o seu passado escravagista perante o antropólogo que
elaborava o estudo antropológico da comunidade. Zé Orlando ou Pelé qualificou o
relatório antropológico de Barro Vermelho como o melhor de todos os relatórios antropológicos
produzidos na região do Baixo Parnaiba. Faltava sua publicação pelo Incra do
Maranhão. Anda-se mais de um quilometro da pista até Barro Vermelho. Só outro
dia que instalaram a luz elétrica na comunidade. O proprietário impedia o
acesso da empresa concessionária ao território quilombola. A justiça federal
desimpediu. Com isso, as famílias quilombolas puderam comprar geladeira e
televisão. O Zé Orlando recém casara e a Ana Reis, coordenadora do projeto
Ijé-Ofé, levava uma sacola de roupas para presentear ele, a esposa e os filhos.
Eles devolveram o presente na forma de um almoço com galinha caipira ao leite
de coco babaçu. A comunidade do Barro Vermelho não cria gado. Os moradores
legitimam a criação de galinha caipira, capote, porco e bode. À beira do rio Munim, Zé Orlando explicou o território
tradicional de Barro Vermelho. A área medida é de mais de 500 hectares, mas a
comunidade assim que obtiver a titulação vai incorporar mais três mil hectares
de uma área próxima, chamada Altos. Os moradores de Barro Vermelho saíram dos
Altos porque é lugar de difícil morada. Eles mantem atividades de extrativismo
nos Altos como a coleta de bacuris em uma área de três hectares. O território
tradicional de uma comunidade quilombola é o lugar onde moram, mas também compõe
esse território os lugares onde moraram, onde colhem suas frutas, onde enterram
seus mortos. A comunidade de Pequizeiro se reflete na comunidade do Barro
Vermelho só que o processo de autoidentificação começou outro dia. A mãe de Zé
Orlando que mora no Pequizeiro reclamou de seus parentes de sangue que não se
veem como quilombolas. No mês agosto, os moradores de Barro Vermelho se concentram
na farinhada e para isso se deslocam três quilômetros rumo ao Pequizeiro. Por
sinal, a casa de farinha se localiza na propriedade dos pais do Zé Orlando.
Mayron régis
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