quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A LIBERTAÇÃO DA TERRA E DE SEU BEM PRÓPRIO



O título acima deve-se às palavras autênticas de Dona Valdelice, liderança da luta pela terra do Povoado Siricora. Há décadas que esta mulher de coragem se dispõe á frente dessa batalha para o bem de sua comunidade tradicional. Existe um pedido caduco de regularização fundiária no ITERMA, até agora nada feito. A gauchada da soja já anda pelas redondezas a fim de grilar a área. Dona Valdelice não se cansa de participar das reuniões no STTR e das “Caravanas Redes e Fóruns da Cidadania” com um único objetivo pretendido: “A libertação de sua terra”, como ela mesmo expressa ao tomar a palavra. Siricora fica há poucos quilômetros da sede de Urbano Santos, o povoado é banhado pelo Rio Mocambo, tem muitos babaçuais e a mata é extensa. O maior calo no sapato dos trabalhadores rurais ainda não é os gaúchos que estão lá próximo, mas o latifundiário que se diz dono, vive amedrontando as famílias que trabalham lá nesta terra que com toda certeza é devoluta do estado e precisa ser arrecada para fins de reforma agrária. Os trabalhadores de Siricora produzem milho, feijão, arroz e criam, cabras, porcos e galinhas em sistema tradicional de agricultura familiar. Eles precisam da terra para usufruírem de seu bem próprio, são cidadãos que aguardam justiça social. Certa vez fui visitar a Siricora, fiquei emocionado pelo carinho e hospitalidade de seus moradores, o respeito começa das crianças que ainda brincam com bonecas de palha de milho e cavalos de pau feitos com talo de tucum. Valdelice me fez um irrecusável convite para almoçar carne de porco caipira, um leitão a molho pardo. É claro que aceitei... o almoço foi ótimo que até hoje lembro e comento quando a vejo. A terra de Siricora pertence tradicionalmente e culturalmente por direito aos trabalhadores que lá vivem, que lá derramam seu suor para o sustento de suas famílias. Eles na verdade são os soldados do lugar para vigiar vinte e quatro horas as margens do rio, as matas e os animais silvestres. Dona Valdelice sabe dizer que a luta faz a força nas reuniões debaixo dos pés de mangueiras em sua casa. Siricora não é diferente de outras áreas do município de Urbano Santos, problemas idênticos que aguardam por resolução, para isso acontecer o movimento precisa está bastante forte e organizado lutando contra o sistema, essas afirmações me faz recordar de um certo texto que escrevi na minha página do facebook falando do dinamismo do movimento sindical de trabalhadores rurais no Brasil. Leiamos então na íntegra e diz assim: “A história do movimento sindical de trabalhadores rurais se difere dos outros movimentos sindicais pelo fato de que os camponeses tem um método dinâmico para suas formações e reivindicações populares de direitos. Vítimas da pistolagem e da supremacia dos setores dominantes os trabalhadores do campo ainda não conseguiram o máximo de suas conquistas. O Brasil tem uma história feia no que se diz respeito à essa camada de nossa população, onde desde os primeiros tempos da colônia que foram explorados e continuam sendo, sem instruções, o maior índice de analfabetos no Brasil atinge diretamente os camponeses. Um outro problema sério é a questão do atraso da Reforma Agrária, processos que tramitam no INCRA-MA e ITERMA há décadas não são revistos e colocados em prática para fins de trabalho. É triste saber que quem domina a maior parte e concentração de terras no Brasil ainda são os latifundiários e setores empresarias que utilizam das terras dos territórios para o avanço do capitalismo e super-exploração da mão de obra barata dos trabalhadores num sistema de escravidão a olho nú, sobrando muito pouco para as famílias do campo. Assim como Valdelice, queremos a libertação da terra e de seu bem próprio para vivermos em paz e comunhão uns com os outros.                (JOSÉ ANTONIO BASTO)

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