O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024
timoneiro
Não pescava, mas provar um peixe ou um marisco ou um crustáceo fazia o abrir mão de qualquer outro prato. Um peixe cozido na panela, frito na frigideira ou assado na grelha. Um peixe embrulhado na bananeira, provou uma vez para nunca mais. Interessava lhe tanto a prova o deguste como as histórias que circundavam a pesca a coleta e o tratamento do peixe do sururu e do caranguejo. Caranguejo era menos afeito. Muito trabalho pra pouco resultado. Nunca escreveria "Timoneiro" música do disco Bebadosamba de Paulinho da Viola gravado em 1996. Suas aptidões literário musicais não chegavam a tanto. Compreendia a letra e o ritmo e essa compreensão fazia o escrever. Trecho da letra : " a rede do meu destino parece a de um pescador/quando retorna vazia vem carregada de dor". E um sambao. Paulinho da Viola pretende sempre a excelência em suas composições. A música e a letra simbolizam a ligação entre a pesca (cotidiano) o mar ( a narrativa) e o artista (interprete/compositor). A rede que retorna vazia vem carregada de dor, canta Paulinho da Viola. O pescador que joga sua rede sobre o mar pretende arrastar centenas de peixes para alimentar sua família e para obter um dinheiro. O artista joga sua rede sobre as narrativas que o antecederam para escrever sua própria narrativa e conseguir notoriedade. Para o pescador uma pescaria frustrante resulta em miséria e fome. Para o artista uma narrativa sem sal resulta numa obra desengonçada. A música timoneiro e o disco Bebadosamba levaram anos para serem gravados. O tempo que Paulinho levou propicia uma excelente analogia entre o tempo do pescador/artista e o tempo do mar/natureza. O tempo de um se atrelava ao tempo do outro. Um tempo veio e apartou os dois tempos anteriores. Eis o tempo da mercadoria.
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