O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
segunda-feira, 31 de julho de 2023
Santa Helena
A cidade de Santa Helena na baixada maranhense sediou o Encontro Regional dos Pescadores Artesanais dos estados do Maranhão, Piauí e Pará. Um dos objetivos do encontro foi elaborar uma lista de reivindicações que serão entregues ao governo federal principalmente no tocante a infra estrutura. A pesca artesanal segue sendo um setor pouco atendido por políticas públicas não só do ponto de vista de políticas materiais como também de produção de conhecimento. A pesca é uma das principais fontes de alimentos no mundo e no Brasil. Mas os rios e o oceano continuam recebendo esgotos, resíduos industriais e lixos e vendo sua vegetação ao redor ser desmatada para dar lugar a empreendimentos industriais imobiliários ou agrícolas. O Fórum Carajás esteve presente e explanou sobre o projeto do porto de Alcântara que caso ocorra destruirá a biodiversidade nessa região e por conseguinte a pesca artesanal nos municípios litorâneos, inclusive São Luís e sobre pequenos projetos que comunidades de pescadores podem acessar para comprar freezers, barcos a motor, remos, redes, e para transportar sua produção, como no caso do edital que o @fundocasasocioambiental acabou de lançar para os povos da Amazônia.
mercado
Nunca e bom fazer declarações taxativas daquele tipo que você leva pro resto da vida mas que e tentador e. Já pensou ser lembrado. Não sei quem falou isso há muito tempo. O mercado da praia grande e o principal prédio do centro histórico de São Luís. Tem outros prédios mas a função que exercem e muito específica. O mercado da praia grande extrapolou sua função específica de alimentar o povo que trabalha nas repartições públicas o povo que vem dos bairros da cidade e o povo que vem da baixada. Está se falando da parte interna do mercado porque a parte externa que e a parte mais velha supre outras necessidades do ser humano maranhense e ser humano exótico que são o artesanato vestuário temperos e etc. Não dá pra vê a baixada do mercado uma pena mas a baixada percorre o mercado todos os dias. Boa parte dos seus consumidores ou vem da baixada ou trafegam por ela. Ela compõe o repertório das conversas presentes e não presentes. Um representante de vendas puxava conversa com seu vizinho de bar. "Sou de Cururupu. Ando por aí tudo. Na rampa onde aportam os barcos em Alcântara vi uma gurijuba. Botei o pé em cima e falei pro pescador. agora e minha. O pescador quis resistir. Essa tem dono. Não desistir. Foi em cima veio em baixo. consegui convencer o indivíduo. E ele cobrou trinta reais. Se fosse em São Luís pagaria cem". Esse tipo de prosa só se tem na baixada e no mercado da praia grande.
o labirinto
Se fosse possível pisar para trás e rever cada passo dado. Uma viagem no tempo? Nem pensar. O tempo escorreria como sempre, pelas mãos. "O tempo está passando", quantas vezes o gênio da lâmpada proferiu essas palavras em O sítio do picapau amarelo!!! Passando pra onde ? Onde ele foi que não se viu? O Brasil avançou séculos em menos de algumas décadas e esse avanço proporcionou conquistas vitórias em termos materiais. E o Brasil avança formando labirintos de monoculturas e de infraestrutura cujo centro e cujo minotauro ficam invisíveis. O conhecimento e a cultura são formas de desvendar o labirinto. No lançamento da campanha de educação ambiental no município de Buriti Edivan militante do MST cita Olavo Bilac poeta parnasiano dos séculos XIX e XX. O poeta a pedido de um amigo escreve um anúncio de venda de uma propriedade. Escreve com sentimentos e entrega o anúncio. Reencontram se dias mais tarde e o amigo revela que decidiu não mais vender a propriedade porque o anuncio fez o ver a imensa riqueza que tinha em mãos. A citacao a Olavo Bilac ajuda a questionar a pressa do agronegócio em desvendar o labirinto brasileiro e serve para rever o que o município de Buriti baixo Parnaíba maranhense perdeu e manteve de biodiversidade nos mais de vinte anos da instalação da monocultura da soja. Sugeriram ao Vicente de Paulo agricultor familiar que fizesse o mapeamento das espécies florestais nos seus 150 hectares de cerrado. Ele pegou um susto "tarefa difícil. Tem espécie que eu não sei o nome e nem a serventia. Mas tem bacuri pequi goiaba araçá cajá carambola juçara caju manga abacate aroeira barbatimao limão laranja Paraíba ipê e muitas outras
chapada
Na maioria das vezes as mulheres do Baixo Parnaíba maranhense sobem as chapadas para circularem os bacurizeiros e coletarem os frutos que caem diariamente em grande quantidade todos os dias de chuva. A chuva é uma aliada dos extrativistas em suas investidas e sondagens pelas Chapadas. Dessa vez, as mulheres da Vila chapéu ou Veredão assentamento do INCRA entre Chapadinha e Afonso Cunha subiram a chapada para impedir que os tratores da GMB Investimentos realizassem seu intento de derrubarem toda a Chapada, principalmente os bacurizeiros. Nessa chapada assim como em outras amontoam se bacurizeiros pequizeiros e babacuais, espécies que sustentam as mulheres e suas famílias por vários meses do ano. Principalmente o bacurizeiros cuja safra de frutos dura cinco meses e cuja polpa é vendida e revendida para vários mercados no Maranhão como para mercados de outros estados. A venda e a revenda garantem um fluxo de renda para as comunidades que poucas vezes se vê o ano todo. A oposição das mulheres de crianças e de alguns homens do Veredão ao desmatamento da GMB decorre da consciência adquirida de que sem bacuri a comunidade perde mais de 50% da sua renda anual.
bacuri
Em toda a flora, não há espécie comparável ao bacuri. Para se chegar a essa conclusão, bastaria lembrar do sabor da fruta. A lembrança e inevitável. Qualquer pessoa passa por ela. Só que essa lembrança para existir precisa de outros elementos. Precisa da chuva que se derrama no mês de janeiro o que provoca a queda do fruto sobre a Chapada. O fruto e alvo de suas lembranças como e de outras tantas pessoas que vivem nas redondezas.Costuma se brincar que na época da safra de bacuri as chapadas se engarrafam de tanta gente coletando o fruto
memorias postumas de bras cubas
Quem leu Memórias póstumas de Brás cubas de Machado de Assis deve se lembrar da célebre passagem em que Brás Cubas vê um ex escravo seu que alforriara agredindo um negro. A agressão se devia a desobediência do negro as ordens do seu dono, o ex escravo. Raimundo Faoro constata em uma análise dessa passagem que Machado de Assis critica uma sociedade que aceita a ascensão social desde que dentro de uma prática escravagista. Nessa análise, pode se acrescentar um outro elemento. Memórias póstumas e um romance de desilusão. A elite brasileira, representada na figura de Brás Cubas, chegou a acreditar que apenas uma carta de alforria resolveria o problema da escravidão. Machado de Assis desdiz isso. Para ele por mais cartas de alforria assinadas tudo continuaria como dantes porque a escravidão se entranhara em todas as classes sociais. Neste instante, sobre a mesa do juíz de Chapadinha, encontra se um pedido de interdito proibitório contra 11 trabalhadores rurais do povoado Vila chapéu assinado pelo advogado do empresário paulista Gustavo Mareto da empresa GMB Investimentos que planta soja. A comunidade de Vila Chapéu assim como a comunidade vila Borges viveram por anos na base de um sistema quase escravista administrado pela família Lyra de latifundiários. O INCRA em 2010 desapropriou a fazenda Veredao que pertencia aos Lyra e entregou aos trabalhadores rurais. Qual e a conexão de Memórias póstumas de Brás cubas e Gustavo Mareto ? O empresário paulista ao pedir o interdito proibitório de 11 trabalhadores rurais porque eles impediram o desmatamento de centenas de bacurizeiros quer um retorno ao tempo da escravidão seja a escravidão do século XIX seja a escravidão moderna do século XX. E uma forma de intimidação o que ele também fez com relação a Vila Borges. Atualmente restou algumas centenas de hectares de bacuri para a Vila Borges devido aos desmatamentos da GMB Investimentos. Esses desmatamentos decorrem de licenças ambientais que a secretaria de meio ambiente do Maranhão concede sem observar os direitos ao território a mobilidade e ao meio ambiente das comunidades tradicionais.
a farmácia
O que se aprende em sala de aula e que para escrever literatura seria se necessita de um bocado de imaginação e outro bocado de mentira. Reparação, romance do escritor inglês Ian McEwan, tem como eixos centrais a mentira como prática social e a ilusão como representação estética. Fica se perguntando o quanto há de verdade nas reformas executadas pelo governo estadual no que se convencionou chamar de Centro histórico de São Luís. Centro histórico seria o espaço para onde as histórias convergem e onde elas se centralizam. Nada mais mentiroso afinal o centro de São Luís (deixemos de lado esse papo de centro histórico) vem se esvaziando economicamente e socialmente há bastante tempo. O que deve resistir ao esvaziamento são as histórias antes da sua monumentalizacao iniciada no governo Cafeteira. Numa data imprecisa, existia dentro da feira um pequeno comércio respeitável conhecido pelo nome de Farmácia. Neste pequeno comércio respeitável gerido por pequenas pessoas adoráveis vendia se bebida da boa e cada pessoa que por lá passava assinava uma folha de frequência. César Teixeira, um dos maiores compositores da música maranhense e que acredita ser Sousandrade o maior escritor da literatura local, foi um dos seus assíduos frequentadores. A Farmácia existiu e o César Teixeira e uma testemunha dessa época assim como Deco experiente gerente de um bar /restaurante que acompanhava a conversa. Pode ser que a cada reforma uma parte dessa história seja apagada e outra colocada no lugar como muitos querem, mas até o final das reformas nada e definitivo, ainda bem