O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022
Segurança alimentar e quilombos
Uma amiga pediu que escrevesse um breve texto que tocasse no tema segurança alimentar. Escreveu o texto com uma visão mais discursiva, menos concreta. Na hora da escrita não veio a mente nenhum exemplo concreto e exemplos concretos na temática sobravam pela realidade das comunidades tradicionais do Maranhão. A problemática da segurança alimentar se refere a situação em que pessoas tem dificuldade de ingerirem alimentos que garantam o seu bem estar e a sua produtividade durante o dia. A sociedade maranhense em termos econômicos e sociais se desenvolveu com base na monocultura e no trabalho escravo. Essa definição, por conta dos vários solavancos experimentados pela economia do Maranhão no século XIX, tem nuances que se relacionam com a questão d segurança alimentar. Os quilombos eram formados por negros que fugiam das fazendas só que isso não quer dizer que os quilombolas se mantivessem avessos a qualquer contato com os fazendeiros da região onde o quilombo ou os quilombos se formaram. Uma das prováveis causas de fuga de negros escravos dizia respeito a alimentação. Os fazendeiros cobravam trabalho sem descanso e entregavam pouca alimentação para os negros. Essa dificuldade dos fazendeiros de fornecer alimentos para os seus escravos comprova o quanto a base econômica e produtiva da sociedade maranhense baseava na monocultura, na escravidão e na miséria. Um caso celebre de como os fazendeiros se comportavam com relação aos seus escravos aconteceu na fazenda Santa Cruz, município de Buriti, Baixo Parnaiba maranhense, na década de 70. É uma prática corriqueira jogar farinha ou arroz ou os dois juntos numa panela repleta de gordura animal ;para fazer uma farofa que encherá a barriga. Esse caso relatado não é de escravos e sim empregados. Empregados mais pelo fato de que a escravidão fora abolida em 1888 pela princesa Isabel porque se você observar direitinho eram quase escravizados pelos proprietários da fazenda Santa Cruz. Toda a vez que o proprietário jantava sozinho e sobrava gordura nas panelas, as cozinheiras negras jogavam arroz e farinha porque com isso elas podiam incluir proteína animal na sua dieta diária. Agora, se a esposa do proprietário resolvesse jantar com o marido o negocio pegava porque a dona enchia de água as panelas evitando que as cozinheiras seguissem com seus planos. Então, para alguns era muito melhor tirar pra fora e ir morar num quilombo do que ficar numa casa onde arcam seu couro e nem dão comida que preste.
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