O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
terça-feira, 1 de fevereiro de 2022
debate modernista
A função do historioador é muito maior que somente narrar um fato ou escrever a Historia como se supõe que ela realmente aconteceu. É um pouco isso, mas também cabe ao historiador apresentar novas interpretações de fatos já discutidos. O historiador de arte Rafael Cardoso , em seu livro Modernidade em preto e branco: Arte e imagem, raça identidade no Brasil , 1890 desenvolve o argumento que o modernismo estético brasileiro não foi única e exclusivamente o modernismo paulista da semana de arte moderna de 1922. Ele tambem arrola informações que contestam a visão de um modernismo elitista que se vincularia as artes plásticas, a musica clássica e a produção literária de romance , poesia e manifestos. No entender de Rafael Cardoso, outros modernismos surgiram antes da e durante a semana de arte moderna. Quis se sestablecer a semana de 22 como um marco da produção intelectual, cultural e artística do Brasil. Para muitos, a produção anterior pouco mereceria analise critica. O que sobraria para essa produção anterior se atrelaria a designação “Pré Modernismo”. Na verdade, os paulistas disputavam com os cariocas a hegemonia cultural num pais cuja produção ainda era incipiente tanto em qualidade como em quantidade. A cidade so Rio de Janeiro, capital das Republica Federativa do Brasil, deixava pouco a desejar em sua produção em diversas áreas como literatura, teatro, artes gráficas, musica e etc. Os trabalhos empreen;didos por artistas e intelectuais pretendiam ser nacionais o que logo se verificou que não eram porque a sua narrativa privilegiava o espaço urbano carioca. Em parte, a revolta dos paulistanos expressa na semana de arte moderna e em outros eventos artísticos e culturais procurava desvendar um outro pais que os artistas e intelectuais ligados ao Rio de Janeiro dificilmente tinham contato. É verdade que a produção dos artistas cariocas nada avançou quanto a compreensão de um pais que acabara de abolir a escravidão e que acabara de ver o seu imperador se exilar na Europa, mas tambem é verdade que a produção dos artistas paulistas se calava frente a situação social vivida pela maior parte da população brasileira, especialmente pelos povos indígenas, pelos negros libertos e pelos brancos pobres. Tanto a produção artística carioca como a produção artística dos paulistas excluíram o restante do Brasil de suas perspectivas de curto, médio e longo prazo. Rafael Cardoso revela em seu livro que a revista carioca Kosmos, que publicava textos literários no começo do século XX, publicou um artigo em 1904 do etnólogo Nina Rodrigues em que ele tratava da escultura popular de matriz afro-brasileira como “belas-artes”. Conclui-se logo “Que ótimo”. Ótimo em termos. Relacionar belas artes e cultura africana deve ter soado o alarme numa sociedade excludente e avessa a cultura que nem era e é a brasileira. E os senhores da cultura se perguntaram “Queremos que a nossa arte venha a ser relacionada com os negros?”. A exclusão se deu com a pouquíssima divulgação e discussão do texto de Nina Rodrigues em mais de cem anos de sua publicação.
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