O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
sexta-feira, 5 de novembro de 2021
A Curica e a Onça
Dava vontade de pegar tudo o que via pela frente. Não tinha como, claro. As mãos mal conseguiam carregar um lápis e uma borracha. Ora, se não é possível carregar com as mãos, pode-se, entretanto, escreve-las e escrever sobre elas. O senhor Edivaldo, presidente da associação de moradores do povoado quilombola de Jacarezinho, propôs que eles fizessem uma visita a comunidade Curica. “Para chegar lá, vai pelo Jacarezinho?”. ”Fica muito longe. O senhor conhece a comunidade Alegre que fica na beira da pista?”. “Sim, conheço.”. “Da comunidade Alegre para a comunidade Curica é perto”. “Podemos fazer assim. O senhor nos espera no Alegre e de lá vamos juntos para o Curica”. O senhor Edivaldo assessora a comunidade de Curica e tratou com a direção desta associação dos projetos que o Fórum Carajás tinha a oferecer a comunidade como projetos de criação de animais. “O senhor não deve andar sozinho por aí, seu Edivaldo”. “Sim. Eu sei disso. Informaram-me que um grupo está de olho em mim”. “um grupo ligado aos plantadores de soja paraguaios?”. “ Não só. Um grupo misturado que visa me eliminar”. O senhor Edivaldo, enquanto presidente da associação de Jacarezinho, luta para q eu os moradores não aceitem acordos com plantadores de soja. Terminada essa parte da conversa com o seu Edivaldo, ele refletiu sobre o nome Curica da comunidade que visitaria. Curica tanto pode ser o nome de uma ave da fauna nativa como o nome dado a uma brincadeira em que crianças, jovens e adultos empinam um artefato feito de papel. No dia da visita, ele resistiria a tentação de perguntar a razão daquele nome. Bastava que ele visse uma curiosidade zanzando a sua frente para correr determinado e pronto no seu objetivo de desvendar a historia por detrás do nome. Enfiar-se pelos meandros históricos das comunidades traz suas satisfações como também traz suas insatisfações. Lembrava da vez que perguntara a moradores da comunidade Barra da Onça, município de Santa Quiteria, se era comum ver onça por perto. “Não”, foi a resposta.
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