O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
terça-feira, 7 de setembro de 2021
Os agregados de Buriti do Boi
Os agregados de Buriti do Boi
Em que momento a classe de proprietários do Baixo Parnaiba maranhense passou a negar suas relações historicas com os agricultores familiares que para sobreviverem se agregaram como tábua de salvação as suas propriedades? Essa é uma pergunta recorrente com relação ao Baixo Parnaiba tendo em vista o papel que cabe aos proprietários tradicionais no tocante a expansão da fronteira agrícola. O papel dos proprietários tradicionais foi o de facilitar a entrada dos plantadores de soja no Baixo Parnaiba maranhense a partir do final dos anos 90. A característica dessa região nunca foi de grandes propriedades a não ser as clássicas famílias despudoramente latifunidarias como os Lyra, os Leite e os Barcelar. Os pequenos e médios proprietários se atinham a terrenos que começavam no Baixo, perto de cursos de água, e terminavam no topo da Chapada. A propriedade é sempre uma extensão do seu proprietário e de seus projetos econômico e sociais. No máximo, um proprietário anseia com uma casa grande um curral, algumas cabeças de gado e moradores para vigiar a criação. O tamanho médio de uma propriedade dava conta desse anseio. Entretanto, em qualquer conta, entra um senão. No caso das propriedades em questão, o senão é relacionado com o fornecimento de alimento para o gado. A chapada analisando a mentalidade dos proprietários, seria esse ativo econômico ambiental capaz de gerar e fornecer alimentos (capim) as suas criações. E os agregados funcionariam como seus empregados/vigias informais. Esse é o panorama da formação de parte da classe proprietária do Baixo Parnaiba maranhense no século XX. No avançar do século, os proprietários ou envelheceram ou morreram. Em qualquer um dos casos, quem herdou a administração da propriedade não tem os mesmos vínculos nem com a terra e nem com os agregados. No Maranhão, a figura do agregado ainda é uma figura que persiste e essa persistência dificulta o avanço do agronegócio sobre o Cerrado do Baixo Parnaiba porque o agregado é visto como alguém da família do proprietário e assim por diante. Quando o proprietário ou alguém ligado a ele decide vender a propriedade tem que observar os direitos do agregado. Muito difícil isso acontecer. As filhas do proprietário de Buriti do Boi, comunidade tradicional de Chapadinha, vendeu quinhentos hectares de Chapada para um gaúcho chamado Mirto. O documento oirignal da propriedade se refere a uma área de 200 hectares no Baixo e não na Chapada. O Mirto foi fazer os marcos na Chapada referente a sua pretensa propriedade. Os agregados de Buriti do Boi não permitiram porque o gaucho quer desmatar a Chapada para plantar soja e é a área rica em Bacuri. È uma área riquíssima em bacuri e da qual os agregados coletam o fruto e vendem para compradores de Chapadinha e Teresina. Na hora de vender a Chapada para o gaúcho, as herdeiras de Buriti do Boi não pensaram por esse prisma e sim pelo prisma de lucrar em cima de algo que nem é delas.
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