O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
segunda-feira, 21 de junho de 2021
cine monte castelo
Assiste-se tranquilamente a degradação do espaço publico. Assistira “Os Saltimbancos Trapalhões” com o irmão mais velho no cine Monte Castelo em 1983. Lembrava dos Trapalhões, de Lucinha Lins e da trilha sonora de Chico Buarque, mas passados quase quarenta anos ele não esquecia do cinema, o único cinema de bairro da cidade de São Luis. Para ele, a cidade de São Luis se resumia ao seu bairro, a Liberdade, o bairro de sua avó, a Cohab, e o centro, onde estudava. Tinha conhecimento de outro cinema no centro sem que pusesse os pés nele. Portanto, o cine Monte Castelo terminava sendo a derradeira opção de lazer chique para os suburbanos de São Luis. Ele não sabia que residia nos subúrbios e nem sabia o que era isso. O que sabia do seu bairro eram as ruas por onde transitava. E o que sabia do bairro Monte Castelo era o cinema. A sessão em que assistiu “Os Saltimbancos Trapalhoes” rendeu uma dose de magia por algum tempo. Anos depois, ele se mudou com a família para o bairro do Monte Castelo. Bem ou mal analisando, mudar-se para um bairro como esse significava ascender socialmente e ascensão social é um dos pilares da sociedade capitalista. Com o tempo, o cinema perdeu prestigio em comparação com outros cinemas da capital maranhense, que via as coisas envelhecerem de tal forma e tão rápido que nem se dava conta quando o estabelecimento fechava. Ele também não se deu conta do fechamento do cinema, por mais que pegasse ônibus todos os dias na parada em frente. A sua atenção se voltava para os outros cinemas mais modernos que eram construídos pela cidade afora. A cidade crescia e nesse crescimento levava junto as opções de lazer. Quem não quisesse ficar de fora da diversão, seguia a correnteza. Os cinemas modernos também envelheceram e fecharam suas portas. Deixaram saudades? É possível. A saudade nem sempre se expressa dentro do desejável. Ele fez amizade com um senhor ligado a família proprietária do cine Monte Castelo. Conversa vai e conversa vem, o senhor jogou uma ideia de gravarem um documentário que contasse a historia do cinema. O Cine Monte Castelo, enquanto funcionou, chegou a representar algo de importante para São Luis? As vezes, a pessoa precisa ver a historia por outro ângulo para compreende-la melhor. O cine continuou abandonado. Uma rara exceção em que o abriram foi para celebrações evangélicas. Ainda bem que demorou pouco tempo. Dentro do cinema não se assiste mais filmes, mas se a pessoa exigir pouco no muro que cerca o terreno atrás pode-se ler “Jesus te ama/eu também” e “Se existe algo melhor que a felicidade/ desejo a você”. É rápida e esquecível a leitura, tanto quanto a cerveja servida no barzinho perto.
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