O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
sexta-feira, 5 de março de 2021
Plantadores de soja ameaçam quilombolas em São João do Sóter
Luis Alves de Lima se credenciou como principal comandante do exercito brasileiro ao liderar as forças militares que reprimiram as revoltas populares no Brasil imperial da primeira metade do século XIX. Uma dessas revoltas, a qual ele comandou a repressão, foi a Balaiada revolta de negros e homens pobres que começou em 1838 e terminou em 1841 e que teve como um dos seus epicentros a cidade de Caxias, estado do Maranhão. A Balaiada não teve um centro nervoso como outras revoltas tiveram e seus efeitos foram sentidos em boa parte do leste maranhense e nos estados do Piaui e Ceará. Algumas das áreas remanescentes de quilombo do estado do Maranhão se originaram a partir da fuga dos negros escravizados durante a Balaiada. A repressão a Balaiada, que comandou de maneira vitoriosa, valeu a Luis Alves o titulo de Barão de Caxias e com a campanha bem sucedida contra o exercito paraguaio anos mais tarde ele receberá o titulo de Duque de Caxias. O exercito brasileiro se viu obrigado a se modernizar para combater o exercito de Solano Lopez e para isso recrutou toda sorte de brasileiros: brancos pobres, negros escravizados e gente da fronteira (gaúchos). Em nenhum outro momento, o Brasil vira tamanha reunião das mais diversas populações que formavam o pais em prol de uma causa, se bem que essa causa (derrotar Solano Lopez) será manchada pelas suspeitas que a campanha servia a interesses ingleses que desejavam a submissão dos paraguaios aos seus projetos capitalistas. Como bem escreveu Millor Fernandes “A Historia no Paraguaia não é a mesma da Historia no Brasil”. A Historia dá voltas e quando menos se espera paraguaios, gaúchos, brasileiros pobres e negros se reencontram no estado do Maranhão e na cidade de São João do Sóter, que antes fazia parte da cidade de Caxias. Um grupo de fazendeiros (dois paraguaios e um gaúcho) ameaçam a comunidade quilombola de Jacarezinho que retem mais de cinco mil hectares em seu território. Os fazendeiros saíram de suas terras de origem para desmatar o Cerrado Maranhense e plantar milho e soja. Eles detem as propriedades de várias fazendas no entorno do território quilombola mas desejam entrar nos terrenos dos quilombolas e para isso se valem de documentos falsos. A comunidade de Jacarezinho é uma comunidade quilombola reconhecida pela Fundação Palmares, cujo relatório antropológico, que comprova a sua ancestralidade, foi concluído pelo Incra do Maranhão. Os fazendeiros querem trazer para si as terras quilombolas de Jacarezinho na marra, na base de ameaças e na base de tratores o que configura crime. Antes o que mobilizava o estado brasileiro e a sociedade brasileira era a destruição do inimigo comum que podia ser negros fugidos pelo interior do maranhão ou que podia ser um “ditador” paraguaio; hoje o que mobiliza o estado brasileiro e a sociedade brasileira é a destruição de outro inimigo comum, as comunidades tradicionais que impedem a destruição do meio ambiente e dos recursos naturais para a implantação de projetos de monocultura.
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