O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021
Rua Aluisio Azevedo
As ruas e praças de São Luis sofrem de dupla personalidade ou até de tripla personalidade dependendo do caso. A rua do Sol antes de levar esse nome levava o nome de Nina Rodrigues, médico legista e psiquiatra. A praça João Lisboa, cujo nome homenageia o jornalista e escritor João Francisco Lisboa que morava à rua da Paz, um dia recebera a designação de Largo do Carmo em função da igreja do Carmo que fora construída no século XVII. Não é o caso de retornar ao ponto de partida como querem alguns que pleiteiam a mudança de praça João Lisboa para Praça do Carmo. A cidade de São Luis por mais católica e conservadora que seja ganha mais com a manutenção da homenagem a João Lisboa do que com retomar o primeiro nome. O jornalista João Lisboa representou um papel no ambiente intelectual e social da cidade de São Luis e do estado do Maranhão a que nenhum outro escritor coube no século XIX: a de tornar a língua portuguesa falada e escrita pelos maranhenses mais vívida. Pode ser que para as elites maranhenses tornar a língua portuguesa mais vivida tenha sido um erro da parte do jornalista que, por certo, agiu livremente para cumprir seus objetivos e esse ponto é que pega para as elites. As elites esperam que os artistas/intelectuais construam obras com amarras: a amarra da língua, a amarra do patrocínio, a amarra da ideologia, a amarra da censura e etc. O jornalista/escritor é um sujeito que desamarra a sociedade dos seus fios que não conduzem a nada. Aluisio Azevedo ao escrever “O Mulato” desamarrou os fios que ligavam a sociedade ludovicense a escravidão e ao tráfico de negros escravizados. “O Mulato” é um livro de desamarras. Ele pagou um preço bastante alto pela sua independência e pela sua capacidade de desamarrar preconceitos sociais. Poucos sabem em que casa da rua do Sol viveram Aluisio e sua família. A cidade de São Luis faz uma questão de esquecer seus intelectuais, artistas e escritores, mas a forma como trata a memoria de Aluisio é bastante sintomática de quanto o livro “O Mulato” provocou má digestão literária em seus leitores. A rua do Sol, que vive às moscas, com várias lojas fechadas e movimento de pessoas quase zero, poderia servir de contraposição ao processo de esquecimento executado contra Aluisio Azevedo e sua obra. Uma rua que se chamasse rua Aluisio Azevedo seria um bom começo.
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