O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
O Show de uma vida
“O que você sabe a respeito de Raimundo Soldado?” A pergunta disparou um alarme no fundo do seu cérebro. O que responderia ao seu amigo que se sentara em uma mesa ao lado da sua? Poderia mentir e responder que esse nome não dizia nada a sua pessoa ou poderia responder uma verdade pobre que Raimundo Soldado cantava brega e nascera em Santa Inês. Para ele, responder a pergunta com a verdade pobre demonstrava uma falta de respeito com o cantor e com a musica brega que não era o seu forte, mas para muitos maranhenses cantar musica brega significava retornar a uma adolescência com pouco dinheiro e muitos sonhos. Enfim, respondeu com pouca ênfase: “Raimundo Soldado, cantor de musica brega, sei sim.” O amigo relatou o dia em que por um acaso assistira um show de Raimundo Soldado na cidade de São Mateus. Anunciava-se um show que promoveria musica de qualidade. Ele chegara a cidade no dia anterior pela estrada e ao ouvir o anuncio resolveu fincar os pés por mais tempo do que pretendia. Pela sua expectativa, o cantor viria num carro de luxo e sua banda viria atrás em outro carro. Não foi bem o que viu. Um caminhão chegou e dentro dele e na carroceria se via um grupo de homens. O Raimundo Soldado vinha na boleia ao lado do motorista que ficou se sabendo tocava bateria. O amigo desacreditou no que vira. O motorista era o baterista, o carona era o cantor/produtor e o restante da banda viajava na carroceria tomando de conta dos instrumentos. Se os cálculos de tempo e espaço estiverem corretos, esse show deve ter ocorrido nos anos 80. A chance de chegar um show de qualidade nos interiores do Maranhão era mínima, então o espetáculo improvisado que Raimundo Soldado praticava supria essa carência. O cantor saia de sua terra natal Santa Inês para cantar a noite toda nas cidades de beira de estrada do Maranhao. Nesse dia, em São Mateus, Raimundo Soldado começou a cantar as dez horas da noite e parou as cinco da manhã do dia seguinte. “Foi o show da minha vida”, confidenciou o amigo.
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