O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
segunda-feira, 26 de outubro de 2020
Bate uma saudade
Os negros de São Luis no período colonial ou moravam no casarão dos seus proprietários ou moravam pelas ruas como seres livres. Se bem que, escravidão e liberdade se confundiam em vários momentos e várias situações ainda mais em cidades com poucos anos de existencia como era São Luis. Os negros que moravam nos casarões se submetiam as exigências dos senhores proprietários ( que os compraram de mercadores de escravos) e de seus familiares porque se não o fizessem sofreriam castigos e seriam vendidos para viverem em condições piores do que as que viviam. Os negros que moravam pelas ruas não se submetiam a esse tipo de exploração exercida pelos proprietários e seus familiares, mas, para sobreviverem, tinham que se virar como dava para conseguirem o que comer e conseguirem um lugar para dormir. Nos dois casos, a vivencia em São Luis para um negro se revestia de um pesadelo porque aquela cidade não fora aquela onde crescera, aquele casarão não fora a casa onde nascera e aquela língua que se falava pouco ou nada entendia. Se a pessoa não se sente bem em um determinado espaço, ou ela cai no desespero, e muitos negros se desesperaram de saudade, ou ela constrói ou reconstrói a sua historia nesse espaço. A igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foi construída no século XVIII pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosario, irmandade formada por negros que promoviam a alforria de negros escravizados e o sepultamento deles em solo sagrado, no caso uma igreja. Para os negros, frequentar e administrar uma igreja ou uma capela construída por suas mãos dava noções de liberdade e de solidariedade numa sociedade pouco ou nada afeita a esses conceitos disseminados em vários países menos no Brasil. Quem se incumbiu de construir a igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos não teve vida fácil, pois dependia de doações de negros escravizados, negros livres pobres e brancos pobres. A ideia de construir a igreja partiu de quem? Alguém concebeu um projeto no papel? Quantos negros se fizeram presentes durante a construção? Quais eram seus nomes? De que parte da África provinham? O que achava a igreja católica e a elite ludovicense da construção de uma igreja que negros administrariam depois de pronta? A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, das igrejas e capelas do centro de São Luis, é a que fica mais próxima do mar. Será que nos negros ao construírem-na vendo o mar batia um sentimento inexplicável? Um sentimento que so anos mais tarde receberia o nome de saudade.
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