O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
quarta-feira, 2 de setembro de 2020
Sermão aos Peixes
As caravelas ancoravam vários quilômetros de onde o mar se encontrava com o rio Anil, principal rio da ilha de São Luis, por seus capitães temerem que elas encalhassem em algum banco de areia. Barcos menores, manejados por marinheiros experientes, transportavam os passageiros para seus destinos e desembarcava-os em portos pequenos ao longo da costa. O encontro do rio Anil com o mar era digno de nota pois rio e mar se misturavam numa coisa só formando um braço de mar. Por esse braço de mar, padre Antonio Vieira chegou vindo de Lisboa no começo do século XVII para morar uma temporada na capela Bom Jesus dos Navegantes que ficava ao pé do morro bem próximo de onde batia o mar. A capela Bom Jesus dos Navegantes foi construída em 1624 e era administrada por uma irmandade de mesmo nome. As irmandades se constituíam dentro dos pressupostos de auxiliar as pessoas negras e pessoas pobres que avultavam pelas ruas da cidade. Ao lado da capela do Vinhais Velho e da igreja do Desterro, a Capela do Bom Jesus dos Navegantes é a mais antiga construção religiosa de São Luis e a mais antiga construção em pedra do norte brasileiro. Pressupõe-se que o nome Bom Jesus dos Navegantes seja uma forma de pedir benção de Jesus Cristo aos navegantes visto que a travessia de Portugal ao Maranhão custava meses. Os sermões de Padre Antonio Vieira refletem sobre a condição humana num espaço territorial e espaço ambiental que o império colonial português pouco fazia questão de manter. A capela Bom Jesus dos Navegantes foi o espaço onde padre Antonio Vieira proferiu o seu famoso Sermão aos Peixes. Ele escreveu e proferiu um sermão cuja base metafórica é o peixe. A figura do peixe acompanha boa parte da narrativa do novo testamento e é associada a figura de Jesus Cristo. Era a base da alimentação dos pobres e dos excluídos, em que preponderavam os indígenas e os negros escravizados. Padre Antonio Vieira escreveu seu sermão pensando em peixe ou em peixes porque a realidade que o circundava era uma realidade de água (água de mar, água de rio e água de chuva).
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