A comunidade de Lagoa Seca, município
de Milagres, foi proibida por um plantador de soja de coletar bacuri dos
bacurizeiros que restaram nesse trecho da Chapada entre Milagres e Brejo, Baixo
Parnaiba maranhense. O Antonio de Pauda, vice presidente da Associação de Santa
Helena, comunidade quilombola de Milagres, destacou esse fato durante uma
conversa no caminho entre São Luis e a Palestina, povoado de Brejo. Os moradores
de Lagoa Seca haviam perdido as suas áreas de extrativismo de bacuri no começo
de 2009 ao permitirem o desmatamento de sua Chapada. Não era só uma área estratégica
de coleta de bacuri. Dela, eles extraiam umas madeiras para construir casa ou
cercar suas propriedades na própria Chapada ou nos Baixões e nela eles soltavam
seus animais (gado e porcos). O Manim,
filho do Antonio de Pauda, classificou essa perda da Chapada pela comunidade de
Lagoa Seca como um tremendo vacilo. Antes do desmatamento, os funcionários do
plantador de soja largaram o correntão com a qual eles derrubariam a mata
nativa do Cerrado no caminho. Esperaram para ver se a comunidade reagiria
contra o possível desmatamento. Depois de duas semanas, os caras retornaram e,
como o correntão continuasse estirado sobre a Chapada, entenderam que a
comunidade não impediria nada que eles fizessem.
O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
segunda-feira, 23 de julho de 2018
sábado, 21 de julho de 2018
tempos atras
Tempos atrás, um município comportava
vários municípios dentro de si. Não se desmembrava esse ou aquele município para
dar origem a outro município. A divisão denotava fraqueza para o grupo politico
que comandava. As comunidades restringiam suas cidadanias a simples cobranças
do dia a dia, ou seja, um trabalho rotineiro, um dinheiro para comprar comida e
remédio, telhas para cobrir a casa e etc. Sim, pedidos individuais que
dificultavam demandas maiores de cunho publico se insurgirem. O morador pedia
uma vez e satisfazia-se tanto que se devotava ao politico e a família dele por
toda a vida. Será que o pedinte de trocados para comprar cachaça alguma vez perguntou se o dinheiro recebido
sairia bem mais caro que uma golada passageira?
terça-feira, 10 de julho de 2018
o caminho não e unico
O
caminho não é único e nem uniforme. Ele se deforma e deforma o em
volta. O começo e o fim roçam o que sobrou do gostar da Chapada. A
Chapada ditava a sua narrativa em voz alta para quem quisesse ouvir. As
pessoas entraram mudas e saíram caladas dos desmatamentos praticados por
plantadores de soja nas Chapadas de Brejo e Milagres. Os quatro anos
que se passaram entre a compra da terra e o desmatamento da Chapada não
provam a inteligência ou a superioridade numérica do plantador de soja
em relação a comunidade que lhe vendeu a terra. Pelo contrário, prova
que, no caso do Baixo Parnaíba, o que é um negócio certo para um
determinado grupo, para a maioria é um negocio duvidoso.
Mayron Regis
Mayron Regis
RIO PRETO E OS BALAIOS
O Rio Preto – ou “Rio dos Pretos” – como era chamado
antigamente, nasce numa região de brejos e chapadas na localidade de “Saquinho” no município de Buriti de Inácia Vaz – no
meio do Baixo Parnaíba, servindo de divisa entre os municípios de Anapurus, Mata Roma e Chapadinha... Desaguando no Rio
Munim. Lugar esse que abrigou
os valentes Balaios liderados por Negro Cosme e Raimundo Gomes. O Rio Preto foi
muito importante no processo da construção de esconderijos e extralegais
militares dos insurretos que viviam fugindo das perseguições das forças
legalistas do exército imperial. Possivelmente
no inicio de tudo, este rio tenha sido descoberto pelos Índios Anapurus, da
Tribo e tronco Tupi, sendo estes os primeiros habitantes da desta região. Segundo
alguns historiadores, os índios Anapurus eram nômades, chegaram a ocupar terras
litorâneas e do interior do nordeste e meio norte, mas em razão do choque cultural
com os colonos europeus, se dividiam em pequenos grupos que procuraram migrar
para várias regiões além do litoral marítimo. Baseados nesses fatos, todos os
historiadores acreditam que os habitantes primitivos da cidade de Chapadinha
por exemplo devem ser os índios Anapurus e seus descendentes da Tribo Tupi. Em
face da topografia plana e da cor das mulheres primitivas que habitavam o
local, daí o povoado era conhecido como “Chapada das mulatas”. O Rio Preto que
tem águas barrentas e não escuras como o Rio Mocambo de Urbano Santos, foi
batizado com esse nome por causa da presença de quilombos em suas margens na
época da Balaiada, como por exemplo o “Quilombo de Lagoa Amarela” liderados por
Negro Cosme e o “Quilombo de Bom Sucesso dos Pretos”, entre Mata Roma e Urbano Santos – que é uma
“Terra de Preto”. Sua água é apropriada para matar a sede do gado, acreditando
ser nutritiva para as reses se desenvolverem, diferente de outras águas – fato
esse que se configura na presença de muitas fazendas no decorrer das formações
dos Povoados. As comunidades tradicionais usufruem das águas do Rio Preto
também para pescar; plantam culturas básicas da agricultura familiar nas baixas
após a passagem do inverno. Ao longo de seu percurso as encostas laterais são
cobertas de matas rasteiras e arvores todas, morros e vales – apropriados para
a criação de bodes (cabras) e outros animais que serve como fonte de renda e
alimentação para as comunidades rurais. Um município do Território do Baixo
Parnaíba recebeu o nome em homenagem ao rio que corta a cidade: “São Benedito
do Rio Preto”.
José Antonio Basto