Eles se cumprimentaram no meio da
rua com um aperto de mão e com algumas palavras. O nome dela não esquecera,
desde o dia em que a vira num vídeo gravado na internet. Ele estendeu a mão e
pronunciou o nome: Emilia. Ao ouvir seu nome, ela o reconhece de algum lugar.
Em uma conversa com Ana Reis, ela perguntara o nome dele e o seu ramo de
atuação. Ela liderava a comunidade quilombola dos Matões dos Moreiras,
localizada no município de Codó. Ele
mantivera firme a lembrança de Emilia por conta de uma cerimônia, na qual ela
recebera um documento das mãos da presidente Dilma Roussef. Nessa cerimonia se
fizeram presentes outras tantas comunidades quilombolas do Brasil. Do Maranhão,
apenas Matões dos Moreiras. Ela discursaria para a presidente e para os demais,
contudo a emoção a desencorajara. Não houve nada que a impedisse na luta pela
regularização do território de Matões. A comunidade obtivera mais de três mil
hectares, mas só parariam a mobilização depois que o governo federal
regularizasse o território integralmente. Os quilombolas pretendiam mais de
cinco mil hectares. O restante do território se encontrava nas mãos de um
proprietário e da empresa Maratá que desmataram bastante para a criação de gado.
Quantas vezes, ela não saira a noite escoltada por vários quilombolas? Ela
passava meses fora de casa e, quando voltava, dormia debaixo da cama para
ninguém desconfiar e saia de manhã cedinho.
Os quilombolas de Matões dos Moreiras receberam o mês de maio com suas
chuvas abundantes. O rio Codozinho inundara os Baixos e as pessoas se locomoviam
com extrema dificuldade para Codó. Matões dos Moreiras fica entre Codó e Dom
Pedro. Eles se identificam como quilombolas, quebradores de coco babaçu e
pescadores. A Emilia atendeu uma ligação de alguém do Incra. Ele solicitava o seu
auxilio para demarcar o território e para identificar os confrontantes. A
solicitação a assustou. Não imaginava que saísse tão rápido. Ela respondeu que não acompanharia os
funcionários do Incra e que enviaria alguém em seu lugar. A Emilia almejara por
tanto tempo um fim coerente para o conflito que, quando esse fim se anunciara,
ela receava vê-lo. Se alguém decidisse reencenar as várias estripulias que
praticara, ela não objetaria em participar. Agora, ela se colocava no lugar do proprietário
e recordava os vários enfrentamentos entre os quilombolas e os funcionários da
fazenda. O proprietário se agarrou a Maratá para quem sabe segurar a
propriedade. Como se viu, não teve jeito. Com a regularização do território, Emilia se
aquietou um pouco em casa. Entretanto, essa quietude durou pouco. No Encontro
de Comunidades Quilombolas do Baixo Parnaiba, Emilia afirmou que o Banco do
Nordeste de Codó trata muito mal os quilombolas que aparecem na agencia. Mayron Régis
Ótimo texto Mayron, parabéns ;)
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