Os campos da consciencia em São Felix do Xingu, em Barcarena e no Baixo Parnaiba maranhense
Ele se retirou daquela loja
porque não podia mais ficar tão perto daqueles livros. Ele se retirou ou bateu
em retirada? Ele se retirou ou foi uma retirada estratégica? O livro “A Rosa o
que é de Rosa”, do escritor paraense Benedito Nunes, despontara entre tantos
livros que, em sua maioria, pouco representavam. O dinheiro era pouco para
comprar o livro a não ser que pretendesse pegar um ônibus assim que chegasse em
casa. Decidiu, então, não compra-lo. Retirou-se da loja, mas também se retirou
para outros campos, talvez os campos de Dalcidio Jurandir “Chove chuva nos
campos de Cachoeira” em Marajó ou talvez os campos alagáveis de Francisca em
São Raimundo, município de Urbano Santos, onde se entenderia com e onde
estenderia a sua consciência. A chuva o recepcionara em Xinguara, mas não
chovera rapidamente. Ela se prolongaria até e deter-se-ia em São Felix do
Xingu. Programara-se para comer um tucunaré á beira do rio Xingu. A equipe do
IEB o moveria pelas ruas de São Felix do Xingu. Chegou perto do rio Xingu sem
que o visse e sem que molhasse as mãos e os pés numa noite típica de chuva no
sul do Pará. Eles desembarcaram em São Felix no dia 17 de fevereiro, um dia
antes do seminário para o qual o convidaram. Os agricultores familiares de São
Felix aprenderiam algo com ele e com sua colega de Barcarena que já não
soubessem? As distancias entre São Luis e São Felix e entre Barcarena e São
Felix os desafiara para provarem que aquilo a que se propunham, realmente,
valorava-os. Ele saíra de São Luis, na madrugada do dia 17, mas atuava no Baixo
Parnaiba maranhense, região em que comunidades agroextrativistas enfrentam
empresas de reflorestamento com eucalipto e plantadores de soja. A Lindalva
viera de Barcarena, município do estado do Pará, onde a população revirou a
cultura politica para exigir das empresas do setor minero-industrial soluções
para os graves problemas socioambientais que transformaram para pior o cenário
da cidade. As suas explanações dariam uma amostra no que São Felix se tornaria
caso a sociedade civil deixasse as coisas correrem como gostam o setor politico
e o setor empresarial. Os setores politico e empresarial adoram quando a
sociedade aceita de bom grado qualquer promessa e deixa as coisas correrem
frouxa, sem nenhuma fiscalização. “Promessas são como bolachas: foram feitas
para serem quebradas”, disse Oscar Wilde.
Tanto no caso de Barcarena como
no caso do Baixo Parnaiba, os politicos e as empresas prometiam na condição de
que os moradores se conformassem com o que viria em seguida ou o que não viria.
As promessas de emprego e de melhoria na qualidade de vida em Barcarena não foram cumpridas
e elas deram lugar a crise urbana e a crise ambiental. A sociedade civil de
Barcarena começou a se organizar a partir do vazamento de caulim que ocorreu em
2007 na empresa Imerys Rio Capim Caulim. O vazamento provocou a morte de uma
infinidade de peixes e a perda de qualidade dos recursos hídricos. O Ministério
Publico Estadual recomendou a empresa o financiamento de diversas ações como
forma de mitigar os impactos socioambientais. Para que as ações não refletissem
apenas uma visão técnica era preciso fortalecer a sociedade civil de Barcarena.
Desse fortalecimento emergiu o Fórum Intersetorial de Barcarena. A história do
Baixo Parnaiba maranhense e das lutas das comunidades tradicionais contra as
monoculturas se coaduna com a história do Fórum Carajás. O papel do Fórum
Carajás como das organizações que compõe o Fórum do Baixo Parnaiba é fazer com
que a história da região e das comunidades extrapole o circuito local. Quanto
menos as lutas das comunidades tradicionais forem conhecidas mais os politicos
e as empresas ganham com isso. Quanto mais isoladas as comunidades, menos
informações trafegam por elas e entre elas. As monoculturas de soja e de
eucalipto tomaram de conta de boa parte das terras publicas do Baixo Parnaiba
pela desinformação das comunidades quanto aos seus direitos. Para reverter esse
quadro, é preciso informação, formação e capacitação de forma continua. A área
do município de São Felix do Xingu abrange oito milhões de hectares que são divididos
em unidades de conservação, fazendas de gado, assentamentos da reforma agrária,
terras indígenas e projetos de mineração. Esses atores se veem de acordo com
seus interesses. Qual é o interesse de um empresário como Daniel Dantas
proprietário da fazenda Santa Barbara que possui 200 mil hectares? É só criar
gado? Há muitos interesses submersos na expansão da cadeia da pecuária no sul
do Pará. Esses interesses não comparecem na hora de cobrar do poder publico
investimentos em infraestrutura. Quem mais sofre com as estradas sem asfalto e
cheia de buracos são os agricultores familiares que sentem dificuldades em
expandir suas produções para vender ao PAA (Programa de Aquisição de Alimentos)e
ao PNAE (Politica Nacional de Alimentação Escolar).
Mayron Régis
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