Depois do almoço, o
céu prometia uma chuva para o leste de Urbano Santos. No centro da cidade o
calor se impunha. Eles partiriam para o povoado da Estiva num carro da
prefeitura. O carro se abarrotara com senhores de idade e com gente mais nova
que se digladiaram em palavras durante todo o tempo da viagem. Para os
digladiadores, a troca de “gentilezas” os inspirava a escancarar, para quem
quisesse ouvir, os seus mundos de funcionários públicos e de prestadores de
serviços de um pequeno município do interior do Maranhão. Nada do que diziam se
levava a sério e quem levasse, provavelmente, depois dos assuntos se esgotarem,
perguntar-se-ia a razoabilidade de desperdiçar tanta energia em comentários irônicos.
Eles não se davam conta desse desperdício num espaço tão espremido e num tempo
tão curto. Eles divergiam da realidade que os deprimia com esses comentários.
Como se deprimir com os plantios de eucalipto da Suzano Papel e Celulose,
durante quase todo trajeto, quando os comentários não permitiam? Eles ignoraram os eucaliptos a maior parte do
tempo. A conversa girava em torno dos seus interesses pessoais ou interesses econômicos.
Quem era de fora, dificilmente, veria uma brecha para externar sua opinião. No
máximo, responderia a razão para estar ali e acabou-se. Que não fosse 100%
verdade. Ele defendia projetos para as comunidades do interior de Urbano
Santos. De repente, se atacasse os plantios de eucalipto da Suzano Papel e
Celulose talvez comprasse uma briga com um dos companheiros de viagem e, quem
sabe, nunca mais arranjaria uma carona. Um deles perguntou o que fazia. Outro
perguntou para onde se dirigia. Encaminhava-se para São Raimundo. A maior parte
do pessoal desembarcaria na Estiva e o Beck, motorista da prefeitura, levá-lo-ia
até a Boa União, povoado vizinho a São Raimundo. Não tão perto que desse de ir
a pé, mas perto o suficiente para pedir que alguém de moto o levasse na garupa.
Dormiria em São Raimundo depois de muito tempo e nessa noite calhou de cair uma
chuva bem maneira. Acomodou-se na casa da Francisca, presidente da associação,
que no dia seguinte cozinharia um pato para ele e para o José Antonio. A
conversa do pato o atraira, embora o que ele mais desejasse era rever a Chapada
e os moradores de São Raimundo. A sua viagem assumia um caráter de indagação
perante os desafios impostos às comunidades pela expansão da cultura do
eucalipto. Não parava de perguntar e a Francisca não parava de responder. Indagou
sobre as criações de galinha caipira e sobre o buriti, o bacuri e o babaçu. Indagou sobre a conversa com um tal de Pedrão.
Nos primeiros anos da luta pela desapropriação, os moradores de São Raimundo
identificavam o Pedrão como um inimigo. Ele saira de cena quando o senhor
Evandro Loeff, proprietário da área, demitira-o por suspeitas de desvios de
recursos. Pelo que sabia, Pedrão possuía uma área em Anapurus, mas lucrava
mesmo com os desmatamentos e com a produção de carvão vegetal. Em sua conversa
com a Francisca, Pedrão sugeria que os moradores permitissem que o Loeff desmatasse
a área de São Raimundo. Para Francisca não havia a menor possibilidade do Loeff
desmatar 900 hectares até porque ele aceitara fazer um acordo com o Incra para
desapropriar a área. O Pedrão desconhecia esse fato como também desconhecia que
a área da Jurubeba, município de Barreirinhas, seria destinada totalmente para
a associação do povoado pelo Iterma. A disputa, entre a associação e um senhor
de nome André, pelos 1800 hectares se arrastava por anos. O Pedrão sonhava
lucrar com o desmatamento e com a produção de carvão que seria vendido para a
Margusa. Com a titulação da área em nome da associação do povoado Jurubeba, o
Pedrão perde a possibilidade de enriquecer com a desgraça dos outros. Com a
titulação da área em seu nome, a associação da Jurubeba ganha a possibilidade
de enriquecer sem causar a desgraça de ninguém.
mayron Régis
O meio ambiente precisa da consciência de todos nós! Parabéns pela iniciativa, pelo artigo. É triste presenciarmos grandes extensões de gigantes eucaliptos que deram cabo do nosso cerrado, e pior é que os próprios urbanosantenses permitiram essa tamanha crueldade.
ResponderExcluirO homem precisa urgentemente de uma educação ambiental
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