Representantes de organizações parceiras de E-Changer visitaram na
última quarta-feira (8) a comunidade de Oiteiro dos Pires, em Santa
Rita/MA, diretamente atingida pela Estrada de Ferro Carajás, da
mineradora Vale.
A comunidade fica a 15 km da sede do município, localizado às margens
da BR-135 e distante 82 km da capital São Luís. Na comunidade vivem
sobretudo lavradores e pescadores, muitos deles hoje impedidos de
realizar suas atividades, diante do avanço do latifúndio. Lá vivem
atualmente 120 famílias.
Nos últimos anos houve uma redução drástica na produção de arroz,
milho, mandioca e feijão, principais culturas da região, além da pesca
em campos alagados. Parte da população vive de benefícios sociais e
programas de transferência de renda do governo federal.
A comunidade reuniu-se com representantes de entidades parceiras e
cooper-atores e cooper-atrizes de E-Changer, seus coordenadores e de MBI
e Interagire. O encontro aconteceu na Igreja de Nossa Senhora da
Conceição, localizada no povoado. Também estiveram presentes lideranças
comunitárias de povoados vizinhos, também impactados pela EFC, como
Carionguinho e Cariongo, além do Retiro de São João da Mata, em
Anajatuba. Estas comunidades já bloquearam por duas vezes a linha férrea
da Vale.
A principal reivindicação dos moradores de Oiteiro, atualmente, é a
construção de um viaduto que lhes garanta o direito de ir e vir,
cotidianamente violado pela mineradora Vale. “Todo dia há quem esteja
indo para a escola e não possa passar, ou vindo da feira, com as
compras; já houve até mesmo casos de gente doente, indo para o hospital,
que morreu sem conseguir passar, por que o trem não deixa”, relataram
os moradores.
Entre outros problemas enfrentados, a comunidade relatou a ocorrência
de doenças respiratórias, o barulho excessivo dos trens de carga, além
da uso constante da buzina do trem, “que pode ser ouvida até a última
comunidade”, isto é, passando de Oiteiro dos Pires.
Os presentes à visita puderam ver ainda as plantas com propostas
feitas pela Vale de construção do viaduto reivindicado pela comunidade.
Entre as propostas há algumas absurdas que aumentariam o percurso dos
moradores até a sede entre centenas de metros a até quilômetros.
Atualmente a “rota de fuga” – nome dado pela Vale para o desvio que
devem fazer aqueles que desejam fugir do bloqueio causado pelos trens no
pátio de cruzamento – aumenta essa distância em 3 km.
Após os relatos de moradores da comunidade sobre como suas vidas e
seus direitos são diretamente afetados pela multinacional, um delicioso
almoço foi servido a todos os presentes, que foram brincados ainda com
uma apresentação de um grupo de tambor de crioula da comunidade.
No caminho de volta, o grupo de visitantes pode sentir na pele os
transtornos sofridos diariamente pela população local: o ônibus que os
conduzia ficou impedido de seguir viagem por aproximadamente meia hora,
enquanto dois trens – um deles com 357 vagões e três locomotivas – se
cruzavam, justo onde a comunidade requer a construção do viaduto. Este
terá as obras iniciadas em agosto e deverá ser concluído em julho de
2014. Ao menos é o que promete a empresa.
O encontro acontece até a sexta feira (10/05) e conta com a
participação de cooperatores/atrizes suíços, brasileiros, representando a
aliança formada pela E-CHANGER, InterAgire e MBI, além de lideranças
das organizações parceiras no Brasil: CAV - Centro de Agricultura
Alternativa Vicente Nica, CEDECA – Centro de Defesa dos Direitos da
Criança e do Adolescente de Interlagos, CMP – Central de Movimentos
Populares, MMM – Marcha Mundial das Mulheres, MST - Movimento de
Trabalhadores Rurais Sem Terra, SECOYA - Serviço e Cooperação com Povo
Yanomami, SMDH – Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e UNMP – União
dos Movimentos por Moradia Popular.
Zema Ribeiro
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