Em
uma tentativa de criar alternativas científicas e tecnológicas para a
agricultura familiar do interior do Maranhão, estudantes e pesquisadores
do Laboratório de Biometria do campus da Universidade Federal do
Maranhão (UFMA), no município de Chapadinha, a 246 km de São Luís,
fizeram uma parceria com a associação de produtores rurais da comunidade
Vila União, povoado de Chapadinha, a fim de desenvolver culturas
agrícolas mais resistentes e adaptáveis às mudanças climáticas diante do
aquecimento do planeta. Por intermédio do melhoramento genético, a parceria busca assegurar o crescimento dos índices de produtividade da agricultura familiar de Chapadinha, com cerca de 70 mil habitantes, e munícipios vizinhos, os quais detêm um dos menores índices de desenvolvimento (IDH) do País. Iniciados há dois anos, os experimentos, desenvolvidos em uma extensão de meio (1/5) hectare de terra do povoado Vila União, baseiam-se na seleção de variedades das frutas mamão e abacaxi e das culturas pimenta, milho e soja, inicialmente. A iniciativa faz parte do grupo Cio da Terra que reúne as áreas de pesquisa e extensão da UFMA, composto por 20 alunos do curso de Agronomia, criado em parceria com a Associação de Moradores da Vila União. Essa é uma forma de levar conhecimento científico e tecnológico à agricultura familiar do interior do Estado, que segue a tendência nacional. Segundo especialistas, falta à agricultura familiar nacional - que responde por cerca de 70% de todos os produtos agrícolas consumidos no Brasil - acessar conhecimentos modernos de plantio praticados pela agricultura empresarial, cujos produtos são destinados à exportação. A experiência do grupo Cio da Terra foi apresentada como um caso de sucesso à diretoria da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em sua Reunião Regional realizada em maio em Chapadinha - simbolizando a preparação para a 64ª Reunião Anual da SBPC que começa domingo (22) e vai até sexta-feira (27) no Campus da UFMA em São Luís, capital do Maranhão. O tema central deste ano é: Ciência, Cultura e Saberes Tradicionais para Enfrentar a Pobreza. Ao explicar o projeto, a coordenadora do grupo Cio da Terra, a professora Maria Moura, do Campus da UFMA de Chapadinha, afirma que a parceria deriva de preocupações com as mudanças climáticas que refletem na região. "As chuvas sempre vinham nos seis primeiros meses do ano e este ano não choveu nada", alerta a professora. Assim como outros especialistas do Maranhão, a professora também critica a "onda de migração" do plantio de eucalipto e soja comercial de outras regiões do País para o interior do Estado "destruindo nossa agricultura". As informações são de que o avanço da chamada agricultura empresarial representa uma ameaça à produção de culturas tradicionais, como o babaçu e pequi, à agricultura familiar que abastece a população local e ao meio ambiente. Há indícios de conflitos de terra entre pequenos e grandes agricultores na região. Estímulos do governo - Consultado, o chefe do escritório regional da Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Maranhão (Agerp) em Chapadinha, Daniel José Coelho Almeida, sem querer entrar no mérito da expansão do agronegócio na região , declarou que a agricultura familiar vem sendo assistida tanto por programas locais como federais. Adiantou ao Jornal da Ciência, por exemplo, que o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) aprovou no mês passado a chamada pública nº 12 em que libera R$ 8 milhões para atender a 4,100 mil pequenos produtores de 14 municípios do interior do Maranhão, sendo 12 munícipios da região do Baixo Parnaíba, incluindo Chapadinha, e outros dois munícipios. Os recursos serão investidos na capacitação técnica da agricultura familiar da região e fazem parte do programa do Governo Federal destinado ao combate à pobreza extrema, afirma Almeida. A Agerp é ligada à Secretaria de Desenvolvimento Social e Agricultura Familiar (Sedes) e à Fundação de Amparo à Pesquisa e Desenvolvimento Científico do Maranhão (Fapema). Resultados das primeiras safras colhidas pelo Cio da Terra - Foi colhida a primeira safra (2010/2011) das variedades de milho (híbrido e não híbrido), com produtividade média de 6 toneladas por hectare, acima da média do Estado maranhense, de uma tonelada por hectare e também superior à média nacional, de 3 toneladas por hectare, conforme a professora. Segundo Maria, o resultado da acentuada produtividade do grão é estimulado pela prática do sistema de produção chamado de bagana, em que a cultura é coberta com palhas de carnaúba que retêm a umidade e melhora o sistema físico do solo, beneficiando a planta mesmo em períodos de seca. Essa é uma prática de produção considerada eficiente. O grupo Cio da Terra também colheu a primeira safra de soja, cultivada pelo mesmo método de produção. A produtividade média desse grão foi de 3 toneladas por cada hectare cultivado. No caso da soja foram testadas tanto variedades transgênicas (resistente à herbicida) quanto não-transgênicas. Segundo a pesquisadora, a soja não-transgênica apresentou índices de produtividades superiores aos da variedade transgênica na região. Maria informou não ter esses dados comparativos disponíveis no momento. Fruticultura - Já o cultivo das variedades de frutas são cultivadas no sistema integrado de produção e é baseado na irrigação por gotejamento, método que vem sendo difundido por ser mais eficiente do que o convencional, uma vez que proporciona melhores resultados em produtividade e qualidade. As primeiras safras serão colhidas a partir de 2013. No caso do mamão, a primeira safra será colhida no próximo ano, enquanto que a de abacaxi será colhida entre o fim de 2013 e meados de 2014. De cada cultura são testadas 10 variedades. A exceção é do abacaxi, com dois tipos de cultivares testadas: a "pérola", a mais cultivada no Brasil, e a nativa do Maranhão, não ácida. (Viviane Monteiro - Jornal da Ciência) |
O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
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