Na
década de 80, o grupo João Santos assim denominado, possuia muitas
terras no município de Buriti, com isso milhares de pessoa viviam nestas
terras.
Para
conhecer estes movimentos, Maria Santana Silva, afirma que: no povoado
Belém 48 famílias nasceram e se criaram na área, sendo que quem não
nasceu morava há mais de dez anos, em 1982 um dos moradores vende toda a
área ao grupo João Santos, a partir dai as pessoas que lá viviam
passaram a ser obrigadas a trabalharem nos engenhos da empresa todos os
anos, deixaram para trás mulheres, crianças, idosos. As mulheres nesse
período, sobreviviam do extrativismo do coco babaçu, a empresa pagava
baixos salários e só libertava-os pelos mês de novembro, quando não era
mais possível cuidar das roças.
Em
1984 as pessoas da própria comunidade sentiram a necessidade de se
organizarem e nesse momento os trabalhadores se recusaram a trabalhar
nos engenhos, a partir de então o gerente passou a pressionar os
trabalhadores que se recusavam a trabalhar para eles afirmando que se
não fossem cortar cana teriam que desocupar a área.
Nesse
mesmo ano os trabalhadores se reuniram e colocaram 102 linhas de roças,
em regime de mutirão, a empresa por sua Vez, colocou um grupo de
pistoleiros, impedindo-os de proceder aos tratados culturais e à
colheitas, paralelamente a este ato de força, a empresa passou a entrar
na justiça com ações de manutenção de posse, em 1985 a empresa conseguiu
ganho de causa na justiça, os trabalhadores pediram ajuda das
autoridades e conseguiram retardar os efeitos dessa vitória judicial da
empresa, o grupo insistiu em mover ações possessórias contra os
trabalhadores, para expropria-los dos 2.906 há que ocupavam há gerações.
Em
1992 houve o 1º desejo dessas famílias, mas depois de alguns dias elas
retornaram e se estabeleceram nesse período os trabalhadores iniciaram
uma verdadeira peregrinação por diversos órgãos oficiais em São Luís e
Brasília, como: governador do estado, Contag, ao presidente do INCRA e
ao presidente do ITERMA sem êxito.
No
ano de 1993, sob a alegação de que as famílias tinham voltado para a
área a Juíza da Comarca, Edine Bacelar ordena despejo contra o povoado
Belém, as famílias tiveram seus bens destruídos, mas foram acolhidos na
“Casa de Convivência” e por lá permaneceram um tempo até que tudo se
acalmasse. Quando retornam para a casa, o grupo manda para a comunidade
um pistoleiro que espalha o medo entre as pessoas e por lá permanece um
ano, os trabalhadores cansados, armaram uma emboscada para o tal, depois
disso as famílias fugiram para o meio do mato e lá ficaram durante 15
dias debaixo de sol e chuva.
Ao retornar, três trabalhadores são presos, Raimundo da Conceição Mascarenhas, João Batista dos Reis e Raimundo da Conceição Lima, os quais são humilhados, torturados psicologicamente e fisicamente.
Paralelamente
a estes acontecimentos o povoado Cacimba do Boi, também do grupo João
Santos, houve lutas entre trabalhadores e empregados do grupo, na qual
veio falecer um trabalhador em confronto com pistoleiros, depois desse
acontecimento a empresa abandonou as terras, pois já se encontravam
devastadas devido a derrubada das palmeiras de coco babaçu, que eram
cortados e levados para o beneficiamento em Coelho Neto, com o abandono
das terras por parte do grupo , as famílias permanecem na terra, mas a
comunidade não se desenvolveu devido a falta de conhecimento das pessoas
da comunidade, praticamente analfabetos, o que dificultou o seu
desenvolvimento.
Mas
nem todos os movimentos da região houve sangue derramado, algumas
comunidades conseguiram tomar posse da terra com muitas lutas, mesmo
assim não foi preciso pegar em armas para consegui-lo, exemplo disso são
as seguintes comunidades, Santa Cruz, Pé da Ladeira e Santa Fé, também
do município de Buriti, que conseguiram a posse da terra de forma
pacifica.
A
comunidade do Belém com a ajuda da Secretaria de Agricultura foi
contemplado com o PRONAF A que financiou um projeto de um campo de caju,
onde toda a produção é comprada por uma cooperativa que a repassa para a
merenda escolar do município. Hoje a comunidade conta com uma
mini-indústria de processamento da polpa da fruta, conta também com água
encanada, energia elétrica, 25 casas de alvenaria em substituição as de
taipa ou adobe, das comunidades acima citadas a do Belém foi a que mais
se desenvolveu e está bem organizada, devido as suas lutas pela posse
definitiva da terra.
Esses
movimentos contribuíram para que as comunidades do Belém se
desenvolvessem, a partir do momento em que essas pessoas aprenderam a se
organizar para buscar melhor e qualidade de vida e essa contribuição
reflete na educação das pessoas do Belém que atende alunos do
Pré-escolar até os anos finais do Ensino Fundamental, juntamente com a
EJA (Educação de Jovens e Adultos) para aqueles alunos que não o fizeram
em idade própria e conta também nas turmas multisseriadas com a
metodologia da Escola Ativa.
Esse desenvolvimento é percebido no rosto de cada aluno, na sua forma de expressar-se, de organizar.
Hoje
filhos de lideres dos trabalhadores que lutaram no conflito são
militantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
fortalecendo a luta da comunidade pro projeto, mas isso só será possível
com o acesso do camponês à educação através das lutas e movimentos।
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