Anomalia vem sendo detectada em lavouras de Mato Grosso. Planta não produz vagens e interrompe crescimento
Uma nova anomalia detectada em lavouras comerciais de soja nas últimas safras tem tirado o sono dos produtores. Pesquisadores ainda não sabem qual é a causa do problema, mas, no campo, as perdas com a queda de produtividade já chegam a 40%. "Estamos evitando falar de uma doença de fato, pois ainda não se conhece a sua causa. É um problema relativamente novo, pelo menos nessas proporções", diz o pesquisador da Embrapa Soja Maurício Conrado Meyer. Segundo ele, a anomalia já foi observada há mais de dez anos em regiões do Pará, Maranhão, Tocantins e norte de Mato Grosso.
"Era um problema esporádico, em regiões mais quentes, e que agora aparece de maneira mais generalizada." Já houve, segundo o pesquisador, relatos de sintomas da anomalia no Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás, mas ainda não se sabe se se trata do mesmo problema.
Ciclo incompleto. A anomalia - que está sendo chamada por pesquisadores e produtores de "soja louca 2" - faz com que a planta não produza vagens, o que a impede de concluir seu ciclo. "As hastes ficam deformadas, as folhas escurecem e a planta não produz grãos, fica vegetando e não amadurece", diz Meyer. "Além de reduzir a produtividade, a anomalia afeta a qualidade dos grãos, porque a planta atacada que consegue produzir vagens dá grãos podres ou mal formados."
Vários fatores podem ser atribuídos aos sintomas - existe, por enquanto, a suspeita de que o problema esteja associado a um ácaro -, mas nada foi comprovado e também não se sabe qual mecanismo leva ao abortamento de flores e impede que a soja produza. Por causa disso, ainda não existe recomendação de manejo para debelar o problema. O pesquisador da Embrapa informa que a "soja louca" afeta cultivares convencionais e transgênicas.
A origem. O nome de soja louca 2 é referência ao problema da soja louca, que surgiu nas lavouras há muitos anos e que apresentava sintomas semelhantes. "A soja não amadurecia e não acompanhava o ciclo de uma planta sadia. Mas comprovou-se que a causa da soja louca era um percevejo, que hoje está controlado. Os sintomas da soja louca 2 são idênticos aos da soja louca, mas a diferença é que, agora, a planta fica estéril", diz o gerente técnico da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), Luiz Nery Ribas. Ribas diz que conhecia o problema em casos isolados, mas que este ano houve uma concentração de relatos em áreas no norte e médio-norte de Mato Grosso.
"Ainda não sabemos de quanto foram as perdas, pois há produtores que não conhecem o problema e não nos comunicaram. Esperamos agora receber notificações e monitorar essas áreas", diz.
A anomalia já foi tema de discussão no mês passado, em evento em Cuiabá (MT), e está em discussão na 31.ª Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil, que termina hoje em Brasília (DF).
PARA LEMBRAR
Há nove anos, surgia 1º foco de ferrugem
Se este ano a "soja louca" é destaque da Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil, a ferrugem da soja - hoje considerada a principal doença da cultura - foi o assunto predominante do evento em 2002. Detectada pela primeira vez no País em 2001, a doença provocou na safra 2001/2002 perdas de 569.200 toneladas de grãos, no Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás, segundo a Embrapa Soja. Originária da China e disseminada pelo vento, a ferrugem é causada por um fungo que interfere no funcionamento dos tecidos e provoca a queda prematura das folhas.
Por: Fernanda Yoneya - O Estado de S.Paulo
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