O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
segunda-feira, 3 de novembro de 2025
babaçu
Em 1998, tinha se pouca noção e pouca informação sobre questões que envolvessem a preservação dos babaçuais e o aproveitamento sócio econômico do babaçu pelas comunidades tradicionais e quilombolas. A economia de subsistência, e o babaçu está incluído nessa categoria, não era ( e não e) uma economia de larga escala como se esperava de uma economia que se pretendia integrada a uma economia capitalista. Defender os babaçuais ou qualquer outra fisionomia devia a sua relevância as comunidades que por décadas ou séculos aproveitaram dessas espécies para se manterem vivos perante as forças produtivas. Em muitos casos, o babaçu foi a principal fonte de alimentação e a principal fonte de renda de muitos povos e de muita gente. Com a facilidade de comprar produtos industrializados, essa perspectiva histórico social tendia a ser afastada apagada negligenciada , como foi realmente pelos interesses político privados, do mapa das sociabilidades e das sensibilidades humanas. O mapa não e só geográfico e histórico. Ele também e afetivo e rememorativo. Manter a memória do babaçu e dos babacuais requeria afetividade sensibilidade e solidariedade. Tudo que os anos 80 aboliram em prol do individualismo. A resex Ciriaco e uma resex criada em 1992 cujo produto mais expressivo e o babaçu. Ela se situa em Cidelândia. Foi criada uma área bem menos desejável para as comunidades e bem menos impactante do ponto de vista da sócio biodiversidade. Os movimentos sociais de Imperatriz, entre eles o Fórum Carajás, realizaram uma campanha em 1998 pedindo a ampliação da resex que aconteceu em 2010, mas que ainda e uma área pequena comparada com as áreas do agronegócio da soja do eucalipto e do gado que avançam todo santo dia.
emap
Os funcionários da Emap costumam chamar a empresa de shopping e a Suzano papel e celulose, que arrendou um berçário para atracar navios que embarcarão celulose bem em frente da comunidade camboa dos Frades, de loja. Para as comunidades tradicionais que vem perdendo seus territórios no solo e na água para grandes empreendimentos, e bem significativo esse comentário. No máximo, sobraria para as comunidades tradicionais o trabalho de flanelinha que estacionam e vigiam os carros das grandes empresas. Uma empresa como a Suzano espera receber muito mais do que o Estado e capaz de oferecer. O estado promete e nem sempre cumpre. A Suzano cumpre seus prazos e se preciso for cumpre os prazos do Estado. As licenças para os desmatamentos e para os plantios de eucalipto na região Tocantina centro leste maranhense e baixo Parnaíba maranhense e para a construção da fábrica em Imperatriz saíram rápidas. Contudo, a mesma facilidade ela não obteve com relação as licenças para a construção de um porto no cajueiro zona rural de São Luís. Ela precisava de um porto para chamar de seu. Devido as dificuldades no projeto, ela desiste e passa a exportar a celulose pelo porto do Itaqui. Não e o suficiente. Ela constrói em plena pandemia um berçário na comunidade camboa dos Frades. Contando com esse, dois estão prontos ( Emap e Suzano), um em fase de conclusão e um em planejamento. Como forma de compensar os impactos causados pelo berçário, a Suzano papel e celulose ofereceu apitos para os pescadores. flanelinhas e guardas de trânsito, eis o que o futuro reserva para os pescadores da zona de são Luís.
ferrovia
O investimento em infra estrutura ferroviária e visto como um estímulo para atrair investimentos de grandes empreendimentos na área do agronegócio. Nada a desdizer sobre isso. Cumpre dizer que o agronegócio se arvora a auto suficiência e por consequência tudo que o agronegócio toca também é auto suficiente. As cidades maranhenses que tem como base econômica o agronegócio em geral se vangloriam da auto suficiência em tudo. Vai ver de perto, a verdade é outra. No começo de 2020, perguntou se a um taxista sobre a precariedade das ruas de Imperatriz e a responsabilidade do prefeito; o taxista respondeu que a cidade resolvia seus problemas sem precisar de prefeito. A cidade de Imperatriz e a região Tocantina com a atração de investimentos no setor de agronegócio ( fábrica da Suzano, soja e etc) assumiram mais e mais a auto suficiência mesmo que ilusória. Especializando se em celulose e soja, o município de Imperatriz e a região Tocantina vêem carne de gado, peixe de água doce, frutas, verduras e legumes virarem artigos de luxo para a maioria da população. Tratou de aqui da auto suficiência proporcionada pela celulose e pela soja. E a auto suficiência proporcionada pelas ferrovias? Projeta se a construção de dois ramais no município de Açailândia: Açailândia/Barcarena e Açailândia/Alcântara. Aí sim o Maranhão o Maranhão será auto suficiente em transporte de tudo quanto é tipo de mercadoria para exportação. Sem agricultura familiar, com os recursos naturais escassos e com os recursos hídricos poluídos.
eneva
Numa roda de conversa com mulheres da comunidade Camboa dos Frades, perguntaram a dona Maria que por lá morava havia mais de trinta anos se caso tivessem que deixar os seus terrenos e suas casas e se mudarem para bem longe continuariam sendo pescadores agricultores e extrativistas do babaçu, atividades sócio econômicas que realizavam em Camboa dos Frades? Dona Maria respondeu que não continuariam sendo o que eram. O lugar onde se mora onde se trabalha onde se constrói amizades diz e dirá muito o que se e. A saida dos moradores e moradoras de Camboa dos Frades e o objeto de desejo dos grandes empreendimentos como a Eneva a Suzano a Emap e a VLI. A pessoa saindo do lugar onde construiu sua vida esquece rápido sua história. Dona Maria em sua resposta expôs o dilema sócio econômico em que sua comunidade e tantas outras estão metidas e que estão habituadas a enfrentar. A Eneva, empresa do ramo de energia, ofereceu um curso de pedreiro para os moradores de Camboa dos Frades tendo em mente as obras de restauração do patrimônio histórico de são Luís que demandam mao de obra especializada. Quem sabe, uma oportunidade para trabalhar fora da comunidade. E quanto mais fora da comunidade, melhor para as empresas como a Eneva. Dona Maria não aceitou a oferta e pediu cursos que tivessem relação direta com o modo de vida da comunidade como produção de alimentos.
amazonia maranhense
Diariamente, dezenas de caminhões sobem e descem as estradas federais e estaduais do Maranhão em direção a Açailândia e Imperatriz. Uma parte dessa frota leva matéria prima para a fábrica da AVB ( Aço verde do Brasil) em Açailândia e a outra parte da frota leva matéria prima para a fábrica de celulose da Suzano papel e celulose em Imperatriz. Dois impérios econômicos em plena potência que não podem parar em momento algum. A AVB se sustenta pela destruição do Cerrado de Urbano Santos Anapurus e Santa Quitéria. A Suzano se sustenta pela destruição da floresta amazônica e os babaçuais da região Tocantina. Essas são as grandes narrativas do oeste maranhense em mais de quatro décadas: grilagem de terras, eucalipto, carvão vegetal guserias celulose e aço. Palavras que fizeram e fazem ascender economicamente diversos grupos econômicos vindos de outros estados com financiamento estatal. De onde e a Suzano papel e celulose? De onde é a AVB? Quando se homenageia um empresário sempre se ressalta as suas origens sociais e geográficas. Começou pobre e veio de outro estado. A grande maioria população maranhense será esquecida e sequer homenageada enquanto viva. A dona Maria Moraes que vive na comunidade Canaã fazenda eldorado município de imperatriz em disputa com a Suzano papel e celulose veio de São Benedito do rio Preto, baixo Parnaíba maranhense. Quebrava coco babaçu com a mãe nessa cidade. Descobriu coco babaçu em Canaã havia cinco anos e voltou a quebrar. Em recente reunião das mulheres e homens que vivem do extrativismo do babaçu com o Fórum Carajás ela ofereceu um arroz com fava e tambaquis fritos. Desculpou se por não oferecer algo mais. Estava indisposta pela diabetes. Ela, como dona Ivanisia que veio do vale do Pindaré para a região Tocantina, que quebra coco, tira o azeite e prepara garrafada ou remédio caseiro, provam que a história e também a daqueles que teimam em lutar por seus direitos ao meio ambiente a terra a água e a uma alimentação saudável.
indevidas licenças
(in)Devidas licenças ambientais
Comparativamente, o Brasil nesse ponto e nesse ponto oferece mais vantagens econômicas sociais logísticas e ambientais que outros países. A expressão "vantagens comparativas" e um termo bastante utilizado para favorecer um determinado setor econômico social em determinado momento de vacas magras. Onde se quer chegar? Não e preciso ir muito longe. A matriz energética brasileira e classificada como sustentável por ser proveniente de fontes renováveis. Em quase sua totalidade, bom frisar..por outro lado, pode se encontrar incontáveis reservas de gás e petróleo no subsolo sob jurisdição do Estado brasileiro. Por que não explorar, queimar, distribuir e consumir esses recursos minerais e torna Los riquezas materiais? Qual e o problema de sujar "um pouco" a matriz energética brasileira tão limpa? O consumidor final não quer saber de onde vem o gás ou o petróleo. O que importa e que as engrenagens do carro ou das máquinas de uma grande empresa como a Vale estejam girando. A Eneva, empresa de energia, planeja transportar pelos campos naturais da foz do rio Mearim no Maranhão metros cúbicos de gás natural por um gasoduto que saira de sua manufatura em Santo Antônio dos Lopes, vale do Mearim, e que desembocara nos terminais portuários instalados na zona rural de São Luís a fim de saciar a sede de energia de grandes empreendimentos. Com as (in) devidas licenças dadas pela Sema, tudo ficará bonitinho no papel e o consumidor final se saciara sem saber como se deu a extração do gás feita pela Eneva próximo a comunidades quilombolas de Lima Campos.
ca,boa dos frades
O espaço onde o mercado age preferencialmente e o espaço econômico onde ele se traveste de grande mentor da vida pública, mas também age em diversas frentes como se vê no espaço dedicado a tecnologia, no espaço dedicado ao conhecimento, no espaço dedicado a infra estrutura, no espaço dedicado a diversão, no espaço dedicado a alimentação. Em todos esses espacos, o mercado aparece como articulador fundamental de forças econômico sociais. A mais recente obsessão do mercado por espaço acontece referente aos conhecimentos tradicionais e ancestrais. A grande obra artística que analisa o comportamento do mercado em relação a cultura popular e o disco Afrociberdelia da banda Chico science e nação zumbi especialmente a música cidadão do mundo. Uma das consequências da absorção da cultura popular pelo mercado e a despersonalização do sujeito perante a história. Na comunidade Camboa dos Frades, comunidade tradicional e espaço secular histórico na ilha de São Luís, perguntou se a dona Maria como ela se identificava: pescadora, agricultora, quebradora de coco babaçu e etc. Ela respondeu que se identificava de todas essas formas. Uma comunidade que vive sob pressão para abandonar suas identidades histórico seculares para abraçar uma identidade estruturada pelo consumismo do papel ( Suzano papel e celulose) da energia ( Eneva) e da infra estrutura (Emap) e bastante gratificante escutar uma resposta como essa de dona Maria. A identidade do consumismo e fugaz enquanto que a identidade desencadeada por um processo histórico e duradoura.
espaço
A reconfiguração do espaço pode ser vista como o ponto ideal onde deve ocorrer a intervenção por parte de forças produtivas com vistas a tornar atrativo um projeto de modernização social e econômica. Durante a audiência pública para divulgação do eia rima do projeto de zona de processamento de exportação no município de bacabeira, litoral leste maranhense, os representantes do empreendimento por várias vezes insistiram na tese de que o momento para esse tipo de investimento dar certo era aquele. Nunca houve na história do Maranhão nenhum outro governo tão preocupado em incentivar negócios como o atual, na opinião deles. A reconfiguração do espaço numa perspectiva de mercado exige novas dinâmicas. O espaço não pode ficar estático e nem preso a visões tradicionais de produção. O promotor de meio ambiente da região metropolitana de São Luís perguntou onde estavam os pescadores e lavradores na audiência. Nem um dos representantes do empreendimento soube ou quis responder. Eles não estavam lá para responder sobre antigos atores sociais. Eles estavam lá para remover ou afastar quaisquer dúvidas que pudessem afastar possíveis investimentos como siderurgia petróleo data center e etc. Não há mais natureza no terreno portanto não haverá desmatamento, argumenta a consultoria. A natureza foi detonada em 2010 para ser substituída por uma refinaria da Petrobrás cujo projeto não foi adiante. Com a ZPE a natureza não está lá mas pode renascer. A mensagem implícita na audiência e que a reconfiguração do espaço no caso da ZPE ensejara novas dinâmicas sociais e ambientais cujos resultados farao bombar a economia de Bacabeira e do Maranhão.