Ele conversara com
Alex Motta em frente ao fórum de Buriti. Um dia em que, junto com o senhor
Ferreira do povoado Brejão, aguardava uma audiência que rolaria no fórum da
cidade. Alex Motta o informara que o Pedão, plantador de soja, frequentava em
surdina o povoado Mundo Novo. Por certo, o Pedão não morria de amores pelos moradores
do Mundo Novo e nem por suas historias que não se diferenciavam em nada de
historias narradas por agricultores de outras regiões do município de Buriti ao
longo de muitos anos. Essas histórias não o comoveram na época de sua chegada tanto
que, a primeira chance, ordenara o desmatamento de uma Chapada próxima a sede
do município sem dar a mínima para quem coletava pequi nela. A presença massiva
de pequizeiros em boa parte de Buriti indica que o seu bioma característico é o
Cerrado e o que seu clima característico é o tropical úmido seco. (Esses
conceitos só não se sustentam nas Chapadas dos povoados Carrancas, Araça,
Cacimba, Baixão e Bacaba, onde os bacurizeiros se concentram em grande
quantidade). Porque, então, o Pedão se destacou tão longe de Buriti? Mundo Novo
fica atrás dos povoados mais conhecidos de Buriti. Converge com os povoados das
Bicas e da Macajuba. A resposta para a pergunta é que Pedão, além de empresário
da soja, grila terras e nas proximidades do Mundo Novo existem Chapadas sem
documentação e sem posseiros prontas para entrarem no circuito do agronegócio.
O Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Comunidades do Baixo Parnaíba e Fórum Carajás)
sábado, 25 de agosto de 2018
quarta-feira, 22 de agosto de 2018
A TRILHA
Viajaria pelas velhas trilhas e veredas dos antigos e
valentes guerreiros insurretos, por estreitos caminhos, subindo serra e
descendo ladeira – a comunidade era o “Bebedouro” – à margem esquerda do Rio
dos Pretos, município de Urbano Santos. O Baixo Parnaíba é um território
diferenciado que liga de norte a sul a chapada (cerrado) ao Oceano Atlântico –
de leste a oeste o Rio Parnaíba ao Portal dos Lençóis maranhense. O Viajante
trilhava pelas comunidades tradicionais da região –, aventurando-se, dirigindo,
cavalgando, pilotando e até a pé. O tempo estava seco – o sol escaldante, muito
fogo nas chapadas; a chuva suspendera o ciclo. As chapadas estão verdes e os
bacurizeiros floridos – sinal de uma boa safra mais na frente. Acampava-se o
“Viajante do Leste”, sobre as margens do Rio Preto e/ou “Rio dos Pretos”, assim
melhor chamado. Em algum lugar exatamente na fronteira de Urbano Santos com
Chapadinha. Terra donde seus irmãos Balaios possivelmente passaram em suas
empreitadas contra as tropas legalistas; próximo aos quilombos de Bom Sucesso
dos Pretos (Mata Roma) e Lagoa Amarela (Chapadinha). Décadas se passaram,
séculos... O registro ficara e a prosa também. A história testemunhara a
geografia, relações sociais e modos de vida deste povo, enxergados de longe a
cada momento em que se passa por dentro ou perto de suas palhoças. Seguia
caminho, rumo a um destino reservado de acontecimentos, experiências de
ensino-aprendizagem... Composição... Leitura... Vivências.
José Antonio Basto
segunda-feira, 13 de agosto de 2018
Terra de Indio
Quem sabe um dia alguém se digne
a e indigne-se ao pesquisar os povos indígenas que habitavam o nordeste
maranhense. Não se está falando de povos que viveram em épocas remotas e que
desapareceram por razões inexplicáveis. Quer-se crê na falta de solução de um mistério.
Por acaso, alguém se declara indígena no nordeste maranhense? Como não se tem
noticia de indígenas, por certo não os haverá. Ou se houve, não deixaram noticias
dos seus feitos para os que vieram depois. Talvez seus feitos indignassem quem
tomasse conhecimento deles. Talvez seus feitos carregassem a marca da inaptidão,
decorrido certo tempo. A dona Maria, moradora de Brejão, município de Buriti,
provavelmente, sabe da sua ascendência e sabe como seus pais e avôs se vestiam,
sabe do que eles falavam, sabe o que comiam mais e o que comiam menos, sabe os nomes
deles, o quanto são inesquecíveis, sabe se rezavam ou não sabe e sabe quem
quebrava coco babaçu para tirar o azeite. Ela se recorda de um avô ou de um
parente indígena? Ninguém perguntou a respeito. As vezes em que escutou algo
sobre o assunto a depreciaram de tal forma que caíram no esquecimento
rapidamente. O modo mais respeitoso com que tratavam lugares distantes como
Brejão era “terra de índio”. Como se só vivessem índios nesses lugares. O meu
marido é negro e eu sou branca. Apresentarmo-nos como índios passa atestado de indigência.
O meu marido é orgulhoso por viver dos seus próprios recursos. Isso que
importa.
Mayron Régis