Foi nesse dia 28 deste mês –
quarta-feira, por volta de umas dez e meia da manhã que Mayron Regis e Ana Reis
ambos do Fórum Carajás vieram para Urbano Santos deixar o material para
construção de dois novos projetos de galinha caipira em nossa região; um na comunidade
São Bento e outro no Povoado Cajueiro(Urbano Santos). Mais uma iniciativa e
abrangência dos que já existem em Mangabeirinha, São Raimundo, Surrão, Bracinho, Santa Rosa dos Garretos, Joaninha e
Juçaral. Tenho certeza que o mercado
alternativo de criação de aves nessas comunidades vai ser mais uma fonte extra
de renda para as famílias do campo.
Sr. Pedro -, Presidente da Associação
dos Trabalhadores Rurais do São Bento estava preocupado como funcionara o
processo de construção do galinheiro, pois o mesmo já tinha sido orientado pelo
Mayron para visitar o que já funciona na Comunidade Joaninha coordenado pelo
João e Roseane, não tão muito longe da Guaribas I- São Bento. O Pedro disse
portanto que nessa semana vai até lá para averiguar a situação. Já Edilson que
coordenará o projeto no Cajueiro sabe como funciona, pois já conhece o que
existe no Povoado São Raimundo por intermédio da Francisca. Estes projetos de
galinha caipira serão mais um progresso na economia familiar na vida das
famílias que vivem nessas comunidades tradicionais e que lutam por melhorias e
pela Reforma Agrária. O Fórum Carajás apoia com o pontapé inicial, mas as
associações tem que dá continuidade ao processo e aprender caminhar com seus
próprios pés e não deixar morrer o projeto. As famílias do São Bento em nome da
associação, estão com um pedido de regularização fundiária de mais de 500
hectares duma área de mata e chapadas, eles enfrentam a luta pela posse da
terra contra a família tradicional dos “Bentos” e um gaúcho que por lá se
estabeleceu há algum tempo atrás. Tanto o São Bento quanto o Cajueiro estão de
parabéns por receber o material ajudando assim no desenvolvimento sustentável e
econômico dos seus moradores.
Pode-se afirmar que galinha caipira é
uma das iguarias de nossa região com pequi ou com leite de côco babaçu e arroz
branquinho. Lembro daquelas caipiras que a Francisca - , presidenta da
Associação do São Raimundo faz com arroz de pequi. Aguardamos com paciência a
produção de galinha do São Bento e Cajueiro e sobretudo esperamos o convite do
Pedro e do Edilson para a comemoração quando os frangos estiverem no ponto de
corte.
Enquanto alguns vislumbram a grandeza da fabrica ( lucros privados e produção de celulose), eu me preocupo com o grau de poluição que é jogada no rio Tocantins.
Wilson leite
Amazônia
é ‘bomba de água’ para toda a América do Sul e a seca que afeta parte
do Brasil estaria relacionada a alterações neste bioma; pesquisadores
veem risco de que floresta não consiga produzir chuva para suprir as
próprias necessidades
Por
A Amazônia não é apenas a maior floresta
tropical que restou no mundo. Este sem-fim de verde entrecortado por
rios serpenteantes de tamanhos e cores variadas também não se limita a
ser a morada de uma incrível diversidade de animais e plantas. A
floresta amazônica é também um motor capaz de alterar o sentido dos
ventos e uma bomba que suga água do ar sobre o oceano Atlântico e do
solo e a faz circular pela América do Sul, causando em regiões distantes
as chuvas pelas quais os paulistas hoje anseiam. Mas o funcionamento
dessa bomba depende da manutenção da floresta, cuja porção brasileira,
até 2013, perdeu 763 mil quilômetros quadrados de sua área original, o
equivalente a três estados de São Paulo.
Antonio Donato Nobre, pesquisador do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), não aponta o dedo para
culpados. O que importa para ele é reverter esse processo e não apenas
zerar o desmatamento, mas recuperar a floresta. No relatório “O futuro climático da Amazônia”,
divulgado em outubro de 2014, ele deixa claro que o único motivo para
não se tomarem providências imediatas para reduzir o desmatamento é
desconhecer o que a ciência sabe. Para ele, o caminho é conscientizar a
população. “Agora é um bom momento porque as torneiras estão secando”,
afirma.
No relatório, elaborado a partir da
análise de cerca de 200 trabalhos científicos, ele mostra que a cada dia
a floresta da bacia amazônica transpira 20 bilhões de toneladas de água
(20 trilhões de litros). É mais do que os 17 bilhões de toneladas que o
rio Amazonas despeja no Atlântico por dia. Esse rio vertical é que
alimenta as nuvens e ajuda a alterar a rota dos ventos. Nobre explica
que os mapas de ventos sobre o Atlântico mostram que, no hemisfério Sul e
a baixas altitudes, o ar se move para noroeste na direção do equador.
“Na Amazônia a floresta desvia essa ordem”, diz. “Em parte do ano, os
ventos alísios carregados de umidade vêm do hemisfério Norte e convergem
para oeste/sudoeste, adentrando a América do Sul.”
Essa circulação viola um paradigma
meteorológico que diz que os ventos deveriam soprar das regiões com
superfícies mais frias para aquelas com superfícies mais quentes. “Na
Amazônia, o ano todo eles vão do quente, o Atlântico equatorial, para o
frio, a floresta”, explica. Uma parceria com os russos Anastasia
Makarieva e Victor Gorshkov, do Instituto de Física Nuclear de
Petersburgo, tem ajudado a explicar do ponto de vista físico os
fenômenos meteorológicos da Amazônia. Em artigo publicado em fevereiro
de 2014 no Journal of Hydrometeorology, eles afirmam, com base em
análises teóricas confirmadas por observações empíricas, que o
desmatamento altera os padrões de pressão e pode causar o declínio dos
ventos carregados de umidade que vêm do oceano para o continente. O
grupo analisou os dados de 28 estações meteorológicas em duas áreas do
Brasil e viu que os ventos que vêm da floresta amazônica carregam mais
água e estão associados a maiores índices de chuvas do que ventos que
partem de áreas sem floresta e chegam à mesma estação.
Isso acontece, segundo os pesquisadores,
por causa da bomba biótica de umidade, uma teoria proposta pela dupla
russa em 2007 para explicar a dinâmica de ventos impulsionada por
florestas. Essa ideia completa a descrição feita pelo climatologista
José Antonio Marengo, à época pesquisador do Inpe, de como a Amazônia
exporta chuvas para regiões mais meridionais da América do Sul. A teoria
da bomba biótica aplica uma física não usual à meteorologia e postula
que a condensação da água, favorecida pela transpiração da floresta,
reduz a pressão atmosférica que suga do mar para a terra as correntes de
ar carregadas de água.
Os fundamentos da influência da
condensação sobre os ventos foram apresentados em artigo publicado em
2013 por Anastasia e Gorshkov, em parceria com Nobre e outros
colaboradores, na Atmospheric Chemistry and Physics, uma das revistas
mais importantes da área. Por meio de uma série de equações, eles
mostram que o vapor de água lançado à atmosfera pela transpiração da
floresta gera, ao condensar, um fluxo capaz de propelir os ventos a
grandes distâncias. De acordo com Nobre, a nova física da condensação
proposta por eles gerou, ainda durante a revisão do artigo, uma
controvérsia com meteorologistas, que debateram o assunto furiosamente
em blogs científicos com a intenção de derrubar a principal equação do
trabalho. Não conseguiram e o trabalho foi publicado. O pesquisador do
Inpe explica a polêmica. “É uma física que atribui à condensação, um
fenômeno básico e central do funcionamento atmosférico, um efeito oposto
ao que se acreditava”, diz. “Será necessário reescrever os livros
didáticos da área.”
Para dar a dimensão da dificuldade de
diálogo entre físicos teóricos e meteorologistas, Nobre lembra que a
física desenvolve um entendimento dos fenômenos atmosféricos a partir de
leis fundamentais da natureza, enquanto a meteorologia o faz, em grande
parte, com base na observação de padrões do clima do passado, cuja
estatística é absorvida em modelos matemáticos. Tais modelos representam
bem as flutuações climáticas observadas, mas apresentam falhas quando
há alterações significativas no padrão.
É o caso agora, quando um novo contexto –
ocasionado por desmatamento, mudanças globais no clima ou outros
fatores – gera fenômenos climáticos inesperados para certas regiões,
como chuvas mais torrenciais e secas mais extensas. A teoria física
acerta onde extrapolações do passado erram, por isso é preciso, segundo
ele, construir novos modelos climatológicos que recoloquem a física no
centro dos esforços da meteorologia.
O momento agora é crucial porque o clima
amazônico vem mudando. Secas importantes nessa região marcaram os anos
de 2005 e 2010. “Antes a Amazônia tinha a estação úmida e a mais úmida,
agora há uma estação seca”, diz Nobre. Os danos dessas secas na floresta
não foram aniquiladores porque ela consegue se regenerar, mas o acúmulo
dos danos aos poucos erode essa capacidade. Um efeito importante que já
se observa, previsto há 20 anos por modelos climáticos, é um
prolongamento da estação seca, que tem prejudicado a produção agrícola
em porções do estado do Mato Grosso. A grande preocupação é que se
chegue a um ponto de não retorno, em que a floresta já não consiga
produzir chuva suficiente para suprir nem a si própria. Trabalhos de
modelagem que levam em conta clima e vegetação indicam que esse ponto
será atingido quando 40% da área original de floresta for perdida, um
número que não é unânime. Segundo o relatório de Nobre, 20% da floresta
já foi cortada e outros 20%, alterados a ponto de terem perdido parte de
suas propriedades.
Se a teoria da bomba biótica estiver
correta, os efeitos desse ponto de não retorno devem ser mais graves do
que a savanização proposta pelo climatologista Carlos Nobre,
irmão mais velho de Antonio. “Se a floresta perder a capacidade de
trazer a umidade do oceano, a chuva na região pode cessar por completo”,
diz o Nobre caçula. Sem água para sustentar uma savana, o resultado
poderia ser uma desertificação na Amazônia. Se isso ocorrer, o cenário
que ele infere para o Sul e o Sudeste do país poderia ser semelhante ao
de outras regiões na mesma latitude: tornar-se um deserto.
Antonio Nobre não se arrisca a falar
muito sobre São Paulo. “Meu relatório é sobre a Amazônia.” Mas ele
acredita que a seca por aqui não independe do que acontece no Norte. Em
sua opinião, foi possível devastar boa parte da mata atlântica sem
sentir uma redução nas chuvas porque a Amazônia era capaz de suprir a
falta de água na atmosfera local. Mas isso já não parece acontecer mais.
Ele aproveita o ensejo para sugerir que não apenas a floresta
amazônica, mas também a que acompanhava a costa de quase todo o Brasil
precisa ser recuperada imediatamente. Se não for por outro motivo, o
esgotamento a que chegaram as represas que alimentam boa parte da
população paulista deveria bastar como argumento.
A exportação de água desde a Amazônia
para outras regiões do Brasil, sobretudo o Sudeste e o Sul, é uma
realidade, por meio do fenômeno conhecido como rios voadores.
Um indício dessa linha direta foram as intensas chuvas no sudoeste da
Amazônia no início de 2014, praticamente o dobro do volume habitual, ao
mesmo tempo que São Paulo passava pelo pior momento de uma seca
histórica. “A chuva ficou presa em Rondônia, no Acre e na Bolívia por
causa de um bloqueio atmosférico, algo como uma bolha de ar que impedia a
passagem da umidade. Isso criou uma estabilidade atmosférica, inibiu a
formação de chuvas e elevou as temperaturas”, conta Marengo, agora
pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres
Naturais (Cemaden). Ele é coautor de um artigo liderado por Jhan Carlo
Espinoza, do Instituto Geofísico do Peru, que está em processo de
publicação pela Environmental Research Letters e é parte dos resultados
do programa Green Ocean (GO) Amazon, que tem apoio da FAPESP.
Não é possível, porém, afirmar o quanto
essa relação determina a estiagem paulista. “Ainda não se sabe calcular
quanto das chuvas do Sudeste vem da Amazônia nem quanto chega aqui
trazido por frentes frias vindas do Sul, pela umidade carregada por
brisas marinhas ou pela evaporação local”, diz. Para ele, o desmatamento
pode ter um impacto no longo prazo, mas ainda é impossível dizer se ele
está relacionado com a seca atual. “O Sudeste pode não virar um
deserto”, pondera, “mas os extremos climáticos podem se tornar mais
intensos”. Estudos usando modelos climáticos criados pelo grupo de
Marengo já previam uma redistribuição do total das chuvas, com um volume
muito grande em poucos dias e estiagens mais prolongadas, algo que já
tem sido observado no Sudeste e no Sul do país nos últimos 50 anos.
Além desse efeito a distância, em escala
nacional, a relação entre vegetação e recursos hídricos também se dá
numa escala mais local, de acordo com o engenheiro agrônomo Walter de
Paula Lima, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
(Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador científico do
Programa Cooperativo de Monitoramento Ambiental em Microbacias (Promab)
do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais. Em seus estudos sobre o
efeito das florestas (ou sua remoção) em microbacias hidrográficas, ele
mostrou que a mata ciliar, que acompanha os cursos de água, ajuda a
manter a boa saúde de pequenos rios. “O sistema Cantareira, que abastece
São Paulo, é formado por milhares de microbacias”, conta. “As que estão
mais degradadas não contribuem para o manancial.” Essa avaliação,
porém, carece de dados experimentais concretos. Segundo Lima, para se
saber exatamente o efeito das matas ciliares nos mananciais seria
necessário estudar uma microbacia experimental em que se possa medir
propriedades dos cursos d’água com e sem a proteção de floresta, sem que
haja outros fatores envolvidos. Um quadro praticamente inatingível.
Uma experiência prática que reforça a
importância de se preservar as matas ciliares para a manutenção dos
recursos hídricos é relatada pelo biólogo Ricardo Ribeiro Rodrigues, da
Esalq, especialista em recuperação de florestas nativas. Ele conta que
há 24 anos a água desapareceu da microbacia de Iracemápolis, município
no interior paulista. A prefeitura buscou ajuda na Esalq, e o grupo de
Rodrigues implementou um projeto de conservação de solo da microbacia e
de recuperação da mata ciliar que deveria estar ali. “Fui lá
recentemente e levei um susto”, conta o pesquisador. O nível da represa
está um pouco mais baixo, mas tem água suficiente para continuar
abastecendo Iracemápolis, que teve sua população triplicada nesse
período. “Toda a região está com problemas de falta de água, mas
Iracemápolis não.”
As florestas afetam a saúde dos recursos
hídricos por meio de sua influência nas chuvas, mas também tem
importância a sua relação com as águas subterrâneas. O engenheiro Edson
Wendland, professor no Departamento de Hidráulica e Saneamento da USP de
São Carlos, estuda justamente o que acontece com a recarga do aquífero
Guarani quando o cerrado é substituído por culturas como pastagem,
cana-de-açúcar, cítricos ou eucalipto. O trabalho tem sido feito na
bacia do Ribeirão da Onça, no município de Brotas, interior paulista,
estudada desde os anos 1980.
Por meio de poços de monitoramento e
estações climatológicas, a ideia é detalhar, antes que não sobre mais
vegetação original de cerrado por ali, como se dá a recarga do aquífero
Guarani sob diferentes regimes de uso do solo. “Não é possível gerenciar
o que não se conhece”, diz Wendland sobre uma das fontes de água
subterrânea mais importantes do Brasil. O aquífero é uma camada porosa
de rochas na qual se infiltra a água das chuvas, depois liberada
lentamente para os rios. Essa diferença de tempo entre o abastecimento e
a descarga, consequência do trajeto lento da água pelo meio
subterrâneo, é o que garante perenidade aos rios, que dependem dessa
poupança hídrica.
O grupo de Wendland tem mostrado, por
exemplo, que a disponibilidade de água diminui quando se substituem as
pequenas árvores retorcidas do cerrado, adaptadas a viver sob estresse
hídrico, por eucaliptos, que consomem bastante água e em poucos anos
atingem o tamanho de corte. Medições feitas entre 2004 e 2007 mostram
que as taxas de recarga têm relação íntima com a intensidade da
precipitação e o porte das culturas agrícolas nessa região onde o
cerrado está praticamente extinto, de acordo com artigo aceito para
publicação nos Anais da Academia Brasileira de Ciências.
Isso não significa, porém, que os
eucaliptos sejam vilões incondicionais. O impacto de árvores de grande
porte depende, em parte, da profundidade do aquífero no ponto em que
estão plantadas. Segundo Lima, os mais de 20 anos de monitoramento
contínuo feito pelo Promab mostraram que a relação entre espécies
florestais e água não é constante. “Onde a disponibilidade é crítica, um
elemento novo pode secar as microbacias”, explica. “Mas onde o balanço
hídrico e climático é bom, a diminuição de água nem é sentida.” Essas
conclusões deixam claro que é necessário fazer um zoneamento de onde se
pode plantar e onde a prática seria nociva, um planejamento que não
existe no Brasil.
Para Wendland, a importância de entender
a relação entre o cerrado e os aquíferos é crucial porque as nascentes
da maioria das grandes bacias hidrográficas do país estão no domínio
desse bioma. Além da importância como recurso hídrico, algumas dessas
bacias – do Paraná, do Tocantins, do Parnaíba e do São Francisco – são
as principais fornecedoras de água para geração de energia elétrica no
Brasil.
Em pouco mais de meio século, metade da
área do cerrado foi desmatada e deu lugar a atividades agrícolas. Para
avaliar o efeito dessa alteração no uso do solo sobre a disponibilidade
hídrica, o doutorando Paulo Tarso de Oliveira, do grupo de São Carlos,
fez um estudo usando dados de sensoriamento remoto em toda a área desse
bioma. Com os sensores, é possível avaliar não só a alteração da
vegetação, mas também quantificar as precipitações, os índices de
evapotranspiração pelas plantas e estimar a variação de armazenamento de
água. Segundo artigo publicado em setembro de 2014 na Water Resources
Research, os dados indicam uma redução do escoamento por causa de
atividades agrícolas mais intensas.
O desmatamento e o uso agrícola do solo
têm importância, mas Wendland afirma que o maior problema para a recarga
do aquífero hoje é a redução nas chuvas. “O aquífero supre a falta de
precipitação por dois ou três anos, depois já não consegue manter o
escoamento de base nos rios”, diz. Nos últimos anos as precipitações da
estação chuvosa foram abaixo da média, o que diz os resultados
observados. Explica também, segundo ele, fenômenos alarmantes como o
esgotamento da principal nascente do rio São Francisco, que permaneceu
seca por cerca de três meses e só voltou a jorrar água no final de
novembro.
O desafio do gerenciamento das águas
subterrâneas, que representam 98% da água doce do planeta, tem outras
particularidades em zonas urbanas, onde pode ser um recurso crucial.
Segundo o geólogo Ricardo Hirata, do Instituto de Geociências (IGc) da
USP, 75% dos municípios paulistas são abastecidos, em parte ou
completamente, por essas águas. Isso inclui cidades importantes do
estado, com destaque para Ribeirão Preto, onde elas servem a 100% dos
mais de 600 mil habitantes. Na escala nacional, outras cidades
completamente abastecidas por águas subterrâneas são Juazeiro do Norte,
no Ceará, Santarém, no Pará, e Uberaba, em Minas Gerais, de acordo com o
livro Águas subterrâneas urbanas no Brasil, em processo de publicação
pelo IGc e pelo Centro de Pesquisa em Águas Subterrâneas (Cepas).
Surpreendente nas cidades é que a água
perdida pelo abastecimento público vai parar no aquífero. “A
impermeabilização do solo diminui a penetração da água da chuva, mas as
perdas compensam e superam essa redução e o saldo é uma recarga maior
onde há cidades, em comparação com outras áreas”, explica Hirata. “Se
analisarmos a água de um poço qualquer em São Paulo, metade será do
aquífero e metade da Sabesp.” Ele estima que a capital paulista tenha
quase 13 mil poços, todos particulares, muitos ilegais. “Existe uma
legislação para gerenciamento desse recurso, mas ela não é seguida”,
conta.
Um problema causado pelas cidades é a
contaminação dos aquíferos por nitrato, devido a vazamentos no sistema
de esgotos. Como a descontaminação é cara, os poços afetados acabam
abandonados. Nas cidades em que são usados para abastecimento público, a
solução é misturar água poluída à de poços limpos para que a qualidade
total seja aceitável. “Em Natal não há mais água suficiente para
mesclar”, alerta Hirata. O subterrâneo é fonte de 70% da água na capital
potiguar.
Outro tipo de poluição importante vem da
indústria, como a causada pelos solventes organoclorados. O geólogo
Reginaldo Bertolo, também do IGc e diretor do Cepas, estuda como esse
poluente se comporta no aquífero abaixo de Jurubatuba, na zona Sul
paulistana, uma região industrial desde os anos 1950. “É um contaminante
de difícil comportamento no aquífero”, conta. Nessa rocha dura, onde a
água corre em fraturas, o composto mais denso do que a água se aprofunda
e só para quando chega a um estrato impermeável. “São produtos tóxicos e
carcinogênicos.” A poluição impede o uso da água subterrânea numa
região onde a demanda é forte.
Em colaboração com pesquisadores da
Universidade de Guelph, no Canadá, o grupo de Bertolo está mapeando
esses poluentes para entender como ele se comporta e propor estratégias
para eliminá-lo do aquífero. Para isso, o próximo passo é usar um
sistema desenvolvido pelos canadenses para retirar amostras da rocha e
instalar poços de monitoramento especiais. “O equipamento permite
coletar água de mais de 20 fraturas diferentes numa mesma perfuração”,
afirma. “Vamos fazer um modelo matemático para reproduzir o que acontece
e fazer prognósticos.”
Bertolo alerta que é importante mapear
melhor as águas subterrâneas e analisar sua qualidade, porque é um
recurso que pode ser complementar nas cidades. “A água subterrânea é um
recurso pouco conhecido.” A engenheira Monica Porto, da Escola
Politécnica da USP, não acredita que seja possível expandir muito o uso
dessas águas na Região Metropolitana de São Paulo. Em sua opinião, para
ir além dos cerca de 10 metros cúbicos por segundo (m3/s) extraídos dos
milhares de poços existentes, seriam necessários milhares de novas
perfurações. “Mas esses 10 m3/s não podem faltar, precisamos cuidar
deles.”
Monica, que já foi presidente e ainda
integra o conselho consultivo da Associação Brasileira de Recursos
Hídricos, pensa em maneiras de assegurar a segurança hídrica para a
população. Faltar água está, de fato, entre as coisas mais graves que
podem acontecer numa cidade. “Somos obrigados a trabalhar com uma
probabilidade de falha muito baixa.” Segundo ela, em 2009 o governo
paulista encomendou a uma empresa de consultoria um estudo sobre o que
precisaria ser feito para garantir o suprimento de água. O estudo ficou
pronto em outubro de 2013, já em meio à mais importante crise hídrica da
história do estado. Monica explica que é impossível considerar a Grande
São Paulo de forma isolada, porque não há mais de onde tirar água sem
disputar com vizinhos. Por isso, o estudo abrange a megametrópole, que
engloba mais de 130 municípios e uma população de 30 milhões de pessoas.
As obras necessárias à melhoria da
segurança hídrica já começaram, com um sistema para recolher água do rio
Juquiá, no Vale do Ribeira, que deve ficar pronto em 2018. Está em fase
de licenciamento ambiental a construção das barragens de Pedreira e
Duas Pontes, que devem abastecer a região de Campinas. “Manaus e
Campinas são as únicas cidades do Brasil com mais de um milhão de
pessoas que não têm reservatório de água”, conta Monica. Não faz falta a
Manaus, às margens do rio Amazonas, mas faz a Campinas, que depende do
sistema Cantareira. Ela, que em casa “faz das tripas coração” para
economizar água, afirma que a crise atual é importante para
conscientizar a população sobre a necessidade de se reduzir o consumo.
Também ressalta a importância do conjunto de medidas que precisará ser
revisto em caráter emergencial. “Temos que aprender pela dor”, diz
Monica, que costuma brincar que é melhor que não chova muito para não
afastar a instrutiva crise. “Mas, se não chover muito em breve, vou
parar de brincar: precisa chover.”
A farinha de mandioca, farinha de puba ou farinha
d`água e farinha seca é um derivado da matéria prima da mandioca, conhecida
cientificamente por “Manihot esculenta.” A arte de fazer farinha é uma
atividade centenária herdada dos nossos
ancestrais indígenas da América Latina.
Há estudos afirmativos que a fabricação de farinha
no Brasil tenha também a contribuição cultural dos Africanos que aqui
trabalharam como escravos nos séculos XVI, XVII, XVII e XIX.
Mas é certo que a mandioca tenha sua origem nas
terras americanas, onde explica a nota: “O nome dado ao caule do pé de mandioca
é maniva, o qual, cortado em pedaços é usado no plantio. Trata-se de um arbusto
que teria tido sua origem mais remota no oeste do Brasil (sudoeste da Amazônia)
e que, antes da chegada dos europeus à América, já estaria disseminado, como cultivo
alimentar, até a Mesoamérica (Guatemala e México). Espalhada para diversas
partes do mundo, tem hoje a Nigéria (África) como seu maior produtor.
No Brasil, possui muitos nomes, usados em
diferentes regiões, tais como: mandioca-brava - a que contém o veneno ácido
cianídrico, aipim, castelinha, macaxeira, mandioca-doce, najazinha, branquinha,
praiana, mandioca-mansa, maniva, maniveira, pão-de-pobre e variedades como
aiapuã e caiabana, ou nomes que designam apenas a raiz, como caarina.”
O Município de Urbano Santos no Leste Maranhense já foi líder na fabricação de
farinha. Nos anos 70, 80 e 90, saia de nossa região muitas carradas de paneiros
e sacos de farinha de puba, para a venda em outras cidades do Estado e
principalmente para a comercialização na Capital São Luís.
A farinha produzida no Município de Urbano Santos
era conhecida nesse tempo como especial, bem amarela e sequinha. Em alguns
casos os seus fabricantes adicionavam à massa manteiga e côco da praia, para
dar um sabor muito mais irresistível. Muitas comunidades da zona rural viviam
da produção de farinha, que tem sua fase inicial no mês de Julho indo até final
de Novembro.
Para esse processo tudo começa no plantio lá na
roça. Quando o lavrador ao acordar cedinho leva sua família para “plantar
maniva” enquanto uns cavam o chão, outros cortam o caule da planta em pedaços
de dezesseis a vinte centímetros, onde outras pessoas vão concluindo
colocando-os na cova e cobrindo com pouca terra.
Depois de um determinado tempo, surgem os primeiros
brotos e então nasce dali uma bela roça de mandioca (são miguel – san nunga ou
roça de janeiro). Depois de um ano a mandioca está madura, no ponto da
colheita. É hora de preparar os jegues com jacás (recipiente feito de talas de
banbú) e xaxos (um pedaço de metal com um cabo de madeira) para arrancar a
mandioca da terra.
Arranca-se as raízes da terra, levando-as até o pubeiro (local onde se coloca
as raízes de molho durante três dias no rio, lagoa ou tanque feito de cimento).
Passando-se esse período é o momento de “tirar a puba” as raízes já sem o leite
e amolecidas são lavadas e colocadas nos jacás novamente e destinadas aos
girais (espécie de suporte feito de madeira e coberto de palhas para alojar a
puba).
tapitis e roda bulandeira
Do giral a puba vai para o “banco do caititú” e em seguida a massa é triturada.
Para acontecer esse processo, antigamente se usava a famosa “bulandeira” (roda
de madeira) onde na maioria das vezes, dois homens com as forças dos braços,
puchavam a roda que através de uma correia feita de couro cru anexada à púlia
(pequeno pedaço de madeira escavado) girava a “bola do caititu” (uma espécie de
ralo) parecida com o porco caititu das selvas. Nesse sentido uma mulher sentada
no banco faz o manejo do ralamento perigoso da puba, a massa cai no cocho.
Depois a massa já triturada é, colocada nos “tipitis” (cestos compridos feitos
de palha de buriti - tapiti), a massa é escorrida e depositada na gamela para
ser peneirada, usa-se uma peneira feita de talas de tabocas, guarimã ou buriti
para essa prática. A massa peneirada é enviada para o forno, que já está muito
aquecido e ensebado com sebo de gado ou azeite de babaçú, para não grudar a
massa no metal ou cobre.
Os primeiros momentos chama-se “passar a massa” depois da massa passada no
vai-e-vem do rôdo, ela é recolocada em outro forno para o ponto final,
conhecido como “secar a farinha” (apuramento da farinha). Passado esse momento
a farinha torrada é depositada nas gamelas para o esfriamento e depois de fria,
segue-se para o empaneiramento, botar a farinha nos côfos de palha de babaçú.
Os lavradores tem o costume de fabricar os côfos
artesanalmente (cestos de palha de babaçu ou palmeira najá) e colher folhas de
axixá, guarimã ou bananeiras. Os paneiros são forrados com as folhas para o
alojamento da farinha. Portanto chega-se ao fim da farinhada. Os
lavradores vendem a farinha para resolverem seus negócios. Nos anos
oitenta e noventa em Urbano Santos era muito comum os camponeses se preparar para
a farinhada com o intuito de vendê-la para conseguir algum dinheiro e passar o
“FESTEJO DA NATIVIDADE” de 1º a 7 de Setembro. Essa tradição é mantida até os
dias de hoje em nossa cultura.
Urbano Santos foi grande campeão de fabricação de
farinha. Isso deve ser reconhecido, pois as gerações contemporâneas e futuras
podem tomar conhecimento desse maravilhoso processo que contribui para o avanço
do nosso município tanto na questão socioeconômica, cultural e social, perpetuando-se
de gerações para gerações. “Farinhada é motivo de alegria, força de trabalho
rural, cultura e desenvolvimento sustentável e solidário.” Viva a farinhada de
Urbano Santos.
A Comissão Pastoral da Terra e o Sindicato dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais de Alto Alegre do Maranhão, por meio desta nota, repudiam, com veemência, mais um ato de violência ocorrida
no interior do Maranhão, afetando diretamente comunidade
quilombola.
Em 25 de janeiro de 2015, domingo,
enquanto participavam de reunião do território quilombola de Mamorana, zona rural de Alto Alegre do
Maranhão, as lideranças quilombolas JoséMaria da Conceição e Raimundo Gomes Soares, o “Sabonete”, tiveram suas
casas criminosamente incendiadas e, em consequência, perderam todos os pertences de uso doméstico, sementes para plantio (arroz, feijão e milho), ferramentas de trabalho e um paiol de arroz.
Desde o ano de 2009 que a comunidade
vem sofrendo com ameaças constantes por parte de fazendeiros
da região, envolvendo diretamente criadores de
gado bovino do médio Mearim, em especial o Sr. Joséde Arimateia, que ingressou em 2010 com ação de reintegração de posse
contra as famílias quilombolas, tendo perdido a ação. Não satisfeito, o
criador de gado tem tentado cercar mais de 400 hectares de terra pertencente ao
território quilombola.
A situação éextremamente grave! Apesar dos anos de conflito e de inúmeras denúncias realizadas
pelos trabalhadores rurais, o processo de titulação da comunidade, realizado pelo INCRA, tem caminhado muito lentamente. As famílias quilombolas temem que haja mais violência e que suas lideranças sejam mortas.
O Estado do Maranhão ocupa o primeiro lugar em número de conflitos agrário no Brasil. Somente em janeiro de 2015, mais de 35
conflitos agrários em todo o estado. A inércia do governo federal, em realizar reforma agrária e titular territórios quilombolas, éresponsável direta pela
quantidade absurda de conflitos agrários.
Alto Alegre do Maranhão, 26 de Janeiro do de 2015.
Antonia Calixto de Carvalho
Francisca DA Silva Vieira
Comissão Pastoral da Terra/MA
Presidente STTR de Alto Alegre do Maranhão
Muitos são os desacatos que aflige os
direitos humanos e da vida na Região do Baixo Parnaíba Maranhense. Um desses é
o ataque antiético e imoral à cultura ancestral dos camponeses que moram nas
comunidades das chapadas. Nesse sentido, pode-se perceber que a maioria dos
cemitérios, por exemplo, são localizados nas extremidades das chapadas é dai
então que em muitos casos onde essas chapadas foram ocupadas por Gaúchos e a
Suzano, estes lugares sagrados são ameaçados a cada momento pelo avanço do
agronegócio da soja e do eucalipto.
O “cemitério centenário da Chapada do Meio” no município de Urbano
Santo é uma prova de quanto estes desacatos ao modo de vida das populações
tradicionais são vítimas dos impactos causados; um trabalhador rural certa vez
disse: “Esses gaúchos não respeitam
nosso modo de vida, nossa cultura, suas cercas passam por dentro de nossos
cemitérios, cercam nossos mortos, querem acabar com tudo”. Os chamados
grupos de Gaúchos chegaram no Leste Maranhense com o intuito de trabalhar com a
monocultura da soja, pois já não bastasse a grande problemática da Suzano Papel
e Celulose que atrasa a luta pela Reforma Agrária ao contrário de nossa batalha
pelo projeto Alternativo de
Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário. Muitos campos de soja e
eucalipto adentram as áreas onde os cemitérios estão implantados há muitos
anos; um dos exemplos claros também é o do Povoado
Custódio em Urbano Santos que encontra-se dentro do eucalipto. Uma
comunidade tradicional do município de Brejo não recordo muito a época, um
trator de gaúcho ameaçou passar por cima dos túmulos do cemitério da população,
os moradores reagiram para o combate; que se o trator destruísse mesmo o local
eles ateavam fogo nas máquinas e ali no momento morreria gente, o proprietário
recuou e parou com a obra. Um verdadeiro assombro desses caras que vem do sul
do país querer mudar o modo de vida das comunidades. O livro tese de mestrado “O Eldorado dos Gaúchos” do Professor
Rafael Gastar trata sobre essas questões das relações sociais entre as duas
partes (conflitos agrários ambientais no
leste maranhense por motivo da monocultura da soja). O antropólogo Rafael
tenta entender como o avanço das fronteiras dos monocultivos em especial a soja
invade o território do Leste Maranhense assim causando conflitos com os
extrativistas e os movimentos sociais, ele ainda disserta analisando que os
campos de sojas são muito mais perigosos e devastadores com seus produtos
tóxicos e sua política em comparação com o eucalipto. Nos campos de soja não
existe sombras, no processo de construção desses campos as chapadas são
invadidas e derrubadas pelo correntão, quase sempre por mera conscidencia os
plantios de soja ficam pertos de cabeceiras de rios e riachos que acabam
sofrendo com o desaparecimento total, além da extinção das espécies vegetais e
animais que seguram a biodiversidade do cerrado.
Para acentuar é importante lembrar que
a nascente do Rio Boa Hora, um dos mais importantes de Urbano Santos, esta foi
transformada em um campo de soja. Em 2011, o estudante do curso de Geografia da
UEMA, Daniel, estava pesquisando sobre a bacia do Boa Hora, foi então que ele
acabou descobrindo que o coração do rio é um imenso campo de soja que fica nas
proximidades dos povoados Capão, Capãozinho
e Bom Sossego. Por isso que o Boa
Hora está nessa horrível e hedionda situação de seca do seu leito. Um rio de
águas claras até inicio da década de 90, infelizmente agora é um pequeno riacho
que corre o risco de desaparecer totalmente.
Este é o progresso que a gauchada e a
Suzano tem para o Baixo Parnaíba? Um legado de devastação, violência, grilagem
e desacato aos direitos morais, culturais e de sobrevivência dos povos
habitantes do território livre. Os movimentos sociais precisam reergue-se para
juntos lutarmos lado a lado contra esses problemas que vem se arrastando há
muitos anos. Antes da chegada da Suzano e depois os gaúchos, tudo era muito
diferente, a vida, a fauna, a flora, as chapadas, os rios, lagoas,
cabeceiras... em fim a biodiversidade no Baixo Parnaíba. A ganância pelo
dinheiro cega as pessoas de tal forma que elas passam despercebidas de que um
dia poderão também desaparecerem junto com a mão natureza.
José
Antonio Basto
21/01/2015
militante dos direitos humanos -, Baixo Parnaíba
Maranhense
Eles pararam para pedir informações. Bem na hora do
almoço. Sairam naquele horário porque quase certo encontrar o seu Pedro,
presidente da Associação de São Bento, em sua casa. Quer dizer, não tinham
tanta certeza assim. Só tinham certeza do calor que fazia. Após o almoço, as
pessoas evitavam ao máximo pisar fora de casa. Ninguem caminhava por aquele
areal debaixo daquele sol. As pessoas esperavam que tampouco, nesse horário, houvesse
alguma visita às suas casas. Em alguns casos, para os moradores, uma visita
inesperada significa dar atenção e dar de comer. A gente do interior não tem da
onde tirar. Sente-se isso logo na entrada de qualquer casa, até mesmo dos
proprietários ou de quem um dia fora um grande proprietário. Os proprietários
já tiveram de onde tirar. A família dos Bentos vendeu 800 hectares de Chapada
para um “gaúcho”. Quem é esse “gaúcho”? O seu Pedro só sabe que ele reside em
Urbano Santos. O “gaúcho” ainda não fizera uso da Chapada para produção de
carvão como geralmente acontece em seguida à uma compra dessas. A Associação de
São Bento luta pela regularização de uma área de mais de 500 hectares junto ao
Iterma. Essa área está em questão com a família dos Bentos e com os
agricultores que rezam pela cartilha dos proprietários. A Associação se colocou
contra uma roça que os Bentos começaram porque ela se localiza dentro da área pleiteada para regularização e por chegar bem próximo a
nascente do córrego das Guaribas. O córrego das Guaribas desemboca no rio Preguiça. A intenção do
grupo de seu Pedro é fixar moradia nos mais de 500 hectares assim que o Iterma
regularizar a área em nome da associação. Contudo, 500 hectares são
insuficientes para a manutenção de atividades produtivas de qualquer grupo que
seja, pois, quase certo, aumentar o numero de pessoas no grupo e, quase certo, vai
se precisar de madeira para construção de casas. Os agricultores vão atrás de
madeira para construção na Chapada. Em nenhum outro lugar. Caso o “gaúcho”
desmate a Chapada para alguma finalidade agrícola, os agricultores ficam sem
madeira. Vão conseguir madeira em que Chapada e vão pagar com que recurso por
essa madeira? Só com o Baixão e sem a Chapada, reduz-se a capacidade dos
agricultores de manterem o seu modo de vida tradicional.
O
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou a
liberação de R$ 27 milhões ao grupo Amaggi e LD Commodities para
financiar a construção de dois armazéns de grãos na região do Cerrado.
Do
montante total, R$ 13 milhões serão destinados ao armazém a ser
construído em Balsas, no Maranhão, que terá capacidade para 70 mil
toneladas. O restante dos recursos (R$ 14 milhões) será usado na
construção de um armazém com capacidade de 50 mil toneladas na cidade de
Formosa do Rio Preto, na Bahia.
Segundo o BNDES, os
recursos virão de um projeto destinado a atender as necessidades de
expansão da capacidade de armazenagem no Brasil.
Em artigo publicado nesta sexta-feira (23) na revista Science,
pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos reforçam a importância da
manutenção da moratória da soja como instrumento capaz de conter o
desmatamento na Amazônia. Eles defendem ainda ajustes para abranger
desmatamentos menores e a extensão da moratória para o Cerrado.
As análises apresentadas no artigo
mostram a eficácia da moratória na redução do desmatamento vinculado à
soja na Amazônia, incluindo uma comparação com o Cerrado, onde a medida
não foi adotada e o desmatamento para plantio do grão continuou. Mostram
também alguns pontos fracos, como o fato de o monitoramento abranger
somente áreas maiores que 25 hectares e não cobrir assentamentos da
reforma agrária.
Além disso, os pesquisadores avaliaram a
situação e perspectivas de curto prazo de implementação do Código
Florestal e concluíram que as medidas previstas não são suficientes para
impedir o ressurgimento de novos desmatamentos para cultivo da soja.
Segundo o artigo, o bioma amazônico tem
14,2 milhões de hectares de floresta tropical não protegida com
condições adequadas para o plantio de soja, e até dois milhões desses
hectares poderiam ser desmatados legalmente, de acordo com o Código
Florestal. “Sem a moratória, essas florestas estariam vulneráveis a
ocupação pela soja”, diz trecho do artigo publicado na Science.
Para Laurent Micol, coordenador
executivo do Instituto Centro de Vida (ICV) e um dos coautores da
pesquisa, essa discussão acontece num momento importante em que grandes
empresas multinacionais têm assumido o compromisso pelo desmatamento
zero. “Não podemos retroceder em uma ação que está dando certo. É
fundamental estender a moratória ou substituí-la por algo com uma
eficácia igual ou maior, e também incluir o Cerrado para garantir que
não haja desmatamento na cadeia produtiva da soja”, reforçou.
A Moratória da Soja é um acordo
voluntário firmado entre governo, indústria e sociedade civil, em vigor
desde 2006 com prazo de término previsto para maio de 2016, pelo qual as
grandes empresas comercializadoras de soja se comprometem a não comprar
grãos produzidos em áreas de novos desmatamentos na Amazônia. Para
isso, as plantações são monitoradas por satélites e a soja proveniente
de desmatamento não encontra mercado consumidor.
O artigo científico é assinado por dez
pesquisadores, incluindo três de instituições brasileiras: Britaldo
Soares Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Paulo
Barreto, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), e
Laurent Micol, do Instituto Centro de Vida (ICV). A primeira autora é
Holly Gibbs, da Universidade de Wisconsin, nos EUA.