sábado, 26 de abril de 2014

O Evangelho do Eucalipto

Inesperadamente, eu ganhei uma carona de 310 km, entre Teresina e Oeiras. Ou seja, da atual capital do Piauí para a primeira e ex-capital estadual, no início do século XVIII. A distância de 310 km equivale a cruzar a Bélgica, do litoral até Arlon. Aqui eles estão acostumados com tais distâncias. A Caritas Católica Piauí está realizando uma avaliação de um projeto relacionado com a seca extrema dos últimos anos no Semiárido. Então, é preciso ir até lá, mesmo que você tenha de viajar quase cinco horas.

“Euh”[1], eucalipto
A viagem nos leva por um planalto e... vejam: pela primeira vez, uma lavoura de soja cruza o meu caminho no Piauí. Nós percorremos um trecho especialmente longo por uma monocultura de eucalipto, na Chapada Grande. As áreas planas no planalto são muito cobiçadas pelos “sulistas” (descendentes de imigrantes europeus da Região Sul do Brasil). Eles querem, finalmente, levar para o Piauí o desenvolvimento que o estado merece: soja e eucalipto.
De repente, cai a ficha: eles trazem o “Evangelho do Eucalipto”. A palavra evangelho vem do grego eu-angèlion: a boa nova. Na palavra eucalipto também há a sílaba “eu”. Não sei se vem do “eu” grego, mas veio bem a calhar. Os fazendeiros e as empresas trazem a “boa nova”: finalmente vocês vão encontrar trabalho e chegar ao desenvolvimento que os levará ao promissor século XXI.

Euh, desemprego
Porém, a realidade é um pouco diferente da “boa nova” dos sulistas. Nos imensos reflorestamentos uniformes, nem cobra aguenta ficar por lá (1). A vegetação original diversificada foi convertida em carvão e é transportada para os altos-fornos de Belo Horizonte (Minas Gerais) e São Luís (Maranhão). É incompreensível quando se sabe que o Cerrado, neste planalto, é vital para o Piauí. Se considerarmos a Amazônia como o pulmão do planeta Terra, esta região tem a mesma “função” para esse estado. O clima está mudando, pois o eucalipto é uma espécie arbórea que acrescenta pouca umidade ao ambiente. Ela extrai uma grande quantidade de água e a evapotranspiração é muito maior do que a da vegetação original. O cúmulo do cinismo é que essas imensas plantações são frequentemente chamadas de “reflorestamento”. Os proprietários recebem dinheiro da compensação de CO2 do Hemisfério Norte, graças ao Protocolo de Kyoto.
A Chapada Grande está, em grande parte, localizada no município de Regeneração: regenerar, recuperar o ciclo da vida. A verde árvore do eucalipto faz exatamente o oposto do que esse município deveria defender. Os fragmentos da explosão fazem vítimas em todo Piauí. Será que o consumidor europeu de lenços de papel sabe disso?
Cerca de 200 famílias foram expulsas. Outras pessoas da região estão partindo. Desanimadas. Porque seus animais criados soltos são abatidos à bala quando se atrevem a chegar perto do reflorestamento. Uma tradição de séculos lhes foi roubada. Porcos, cabras, ovelhas, burros, vacas, galinhas não podem mais ser criados soltos. Quanto à prometida criação de emprego e sua prosperidade, elas não se concretizaram. Os poucos postos de trabalho que são criados são ocupados por pessoas que vêm de fora, raramente por alguém da região.
As pessoas partem para a cidade. Desarraigadas. Os jovens não encontram trabalho e entram na marginalidade, muitas vezes na criminalidade. As drogas fazem com que muitos deles esqueçam, por alguns momentos, a realidade desesperadora.
Em outras regiões do Piauí, o “evangelho verde-claro” também foi imposto. Para surpresa de todos, os senhores do eucalipto partem inesperadamente. Eles abandonam seus reflorestamentos, sem dar qualquer satisfação para a população, apesar de todas as promessas. O evangelho era falso e vazio? No entanto, o governo fez de tudo para facilitar a vida deles. Políticos acolhem esses projetos. Eles aumentam a produção e a exportação do estado. E isso é uma boa nova, certo?!

Euh, Europa
Na Bahia me contaram que, até agora, os reflorestamentos de eucalipto passaram por três fases. Na década de 1970, o objetivo principal era obter benefício fiscal com eles. Mesmo sem o plantio, mas apenas com a intenção de “pregar o evangelho”, as grandes empresas conseguiam deixar de pagar impostos. A segunda onda veio com os elevados preços de energia elétrica, no início da década de 1980: eucalipto para fazer carvão. Quando o preço do petróleo baixou, deixou de ser interessante. A nova onda que estamos vivendo agora se destina, principalmente, ao mercado internacional de celulose. Ou seja: na maior parte para exportação para a Europa. Enquanto isso, os desertos verdes são, muitas vezes, anunciados como reflorestamentos, podendo receber dinheiro para a compensação de CO2 do Hemisfério Norte.
A quarta onda poderia ser o mercado de etanol. Há vários anos, sonha-se acordado com a produção de etanol com base em eucalipto geneticamente modificado. Isso será um verdadeiro “evangelho de gasolina verde”!

Oh, Francisco
Somos hóspedes de uma fundação que tem Francisco de Assis em alta conta. O inspirador é, claramente, padre João de Deus. Eles trabalham com vários projetos, de capacitação e outros (2), inclusive cinco “Escolas Família Agrícola”. Nós visitamos duas delas. A Caatinga é uma realidade diferente do “cerradão” no entorno de Teresina. Talvez isso explique por que foram feitas outras escolhas. Ou será que é devido à figura de Francisco de Assis? (3) De qualquer modo, aqui tudo já é agroecológico e isso com os limitados recursos de que dispõem. Nenhum veneno! Junto com o povo, o centro quer buscar uma forma inteligente de lidar com as condições naturais do Semiárido. A intenção é não permanecer na subsistência, mas dar apoio à sabedoria popular transmitida acrescentando tecnologia adequada e novos conhecimentos. Até a prefeitura daqui parece adotar a agroecologia. Em vez de pulverizar as ruas com Roundup, é reunido um pequeno exército para cortar o mato.

Oh, pé-duro
Chegamos à segunda escola, próxima de um quilombo. A maioria dos alunos, portanto, são afrodescendentes. O que chama atenção de imediato é uma árvore enorme: um tamarindo. Uma menina está limpando os frutos colhidos da árvore para utilizá-los no jantar. Professores e alunos me mostram orgulhosamente a propriedade. Há um projeto de avicultura. Todo mês eles compram 25 pintos. Parte das aves adultas é abatida para a cozinha da escola e parte é vendida para as diversas comunidades da região. Também criam alguns porcos. De que raça? É o “pé-duro”, o porco preto, que pode ser criado solto no Piauí. Eles escolheram conscientemente o porco do povo dessa região, não a raça branca de suínos imposta pelo consumidor. Não, eles acham que os porcos que produzem são bem mais saborosos. Além disso, são parte da cultura local.
Como na outra escola que visitamos esta manhã, eles fazem o seu próprio adubo orgânico. A horta está muito bem. Ela fornece alimento para os alunos e é, ao mesmo tempo, sua aula prática diária.

Ah, água!
Um poço foi perfurado para irrigação por gotejamento. O paradoxo é que o Piauí tem muitas secas, mas o subsolo abriga uma das maiores reservas de água doce do mundo. Desde o século XVII, falta vontade política para realmente fazer algo sobre o problema da seca. Por exemplo, perfurar poços em vez de, com a regularidade de um relógio, enviar caminhões-pipa e manter as pessoas dependentes. Com um poço, as pessoas podem dar continuidade à vida de modo autônomo e esquecer o político. Enviar caminhões-pipa para o povo, ao longo do ano, vale a pena. Isso aparece na TV, você é visto como um político que “faz o bem” e mantém seu curral eleitoral na linha.
Sinto-me revigorado. O “evangelho” desses jovens e seus professores abre um novo futuro.

Oeiras, 9 de abril de 2013.
(1) Neste momento, não vou me estender sobre os muitos problemas ambientais e sociais dos reflorestamentos de eucalipto e pínus. Veja as crônicas anteriores: Canadá e eucalipto, em Brasil: espelho da Europa? (Holanda: Dabar, 2000); Você alguma vez alimentou seu filho com papel?, em: Aurora no campo: soja diferente (Curitiba: Gráfica Popular/Cefuria, 2008); A festa arruinada do Cerrado, em: Legal! Otimismo – Realidade – Esperança. Veja o filme: Sustentável no papel (Direção: Leo Broers e An-Katrien Decluyse, 2010). http://www.youtube.com/watch?v=r-gH40WLL2Y
(2) Funded ocupa-se principalmente das escolas, mas também com a Fazenda Esperança, onde, desde 2012, viciados em drogas podem começar sua desintoxicação). Veja também: cefaspi.blogspot.com.br (centro de capacitação para as diversas comunidades, com a função de servir de modelo para produção ecológica no clima típico da Caatinga).
(3) Por aqui, Francisco é muito reverenciado. Você vê muitas imagens de “Il Poverello” [O Pobre Homem]e há um importante lugar de peregrinação na região, onde muitas pessoas se reúnem em seu nome. O novo Papa Francisco é, portanto, muito bem-vindo aqui, mesmo porque o homem defende a simplicidade. Suas declarações sobre a natureza e o meio ambiente, bem como a opção pelos pobres, são acompanhadas com atenção. Além disso, o Padre Cícero é muito reverenciado aqui, na Caatinga. Ele foi um padre inspirador do Ceará. Ele era solidário com o povo e os apoiava na sua busca de lidar de forma inteligente com as secas do sertão. Ele faleceu na década de 1930 do século XX, mas, até hoje, seu túmulo é um lugar de peregrinação para centenas de milhares de nordestinos. Uma terceira figura, embora bastante invisível, é José Comblin, de Bruxelas. Ele defendia a “Teologia da Enxada”. Enquanto intelectual, ele mergulhou por décadas na dura vida rural do nordestino. E, precisamente, a “união da enxada e da caneta” se tornou o logotipo das Escolas Família Agrícola. O intelectual que realizou cursos de capacitação em toda a América Latina e em Louvain-la-Neuve (e, às vezes, conferências na Collegium Pro America Latina Leuven – Copal) era, ele próprio, um grande devoto de Padre Cícero.



[1]
             Nota da tradutora: Euh, interjeição que expressa dúvida, hesitação. Jogo de palavras do autor com a primeira sílaba de eucalipto.

motiro.org/textos-para-debates/30-o-evangelho-do-eucalipto.htm

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O arroz de pequi com galinha caipira no povoado Pequi, municipio de Urbano Santos



Esta semana voltei a visitar o Povoado Pequi. Foi numa certa manhã que cheguei à casa de Dona Maria esposa do Sr. Donato para tomar um cafezinho, entrei de surpresa na casa e encontrei ela e outras mulheres quebrando côco babaçu para tirar azeite. Na verdade eu estava querendo ir até a reserva da Carina que fica do outro lado do Rio Mocambo, pensando então de fazer algumas fotos dos angelizeiros que estão florados nesse período. Terminei o café e como as mulheres estavam quebrando côco pediu algumas bajas (amêndoas) para degustar. Quando sai, Dona Maria me fez um convite  para almoçar arroz com pequi com galinha caipira, não pensei duas vezes para aceitar um pedido tão raro. O certo é que fui ver a reserva com o intuito de voltar ao meio dia para o almoço. Segui pelas baixas de najás atravessando a grota da bicuiba que desagua no Rio Mocambo, muitos pássaros: cachorrinhos, tzius, pepiras-pretas, bem-ti-vis e anuns-brancos. Um choro-boi cantava para as bandas do riozinho, este que é uma perna do mocambo, bateu uma saudade de quando eu era criança naquele lugar e lembro que íamos banhar na fonte, onde naquela época era tudo diferente. Atravessei o mocambo e adentrei na área de reserva biológica da Carina. Muitas pedras e o velho poço da pedra grande modificado por motivo da erosão. Subi o morro de pedras, cansei porque é bastante elevado. Quando cheguei no ponto mais alto, fiz algumas fotos das faveiras (fava`danta) e dos angelinzeiros lilás. Era uma vista magnifica para quem gosta de aventuras desse tipo. O certo é que conclui os trabalhos das fotos e voltei para casa de Dona Maria para o almoço ( arroz com pequi e galinha). Na volta, encontrei-me com um pescador da comunidade, o Sr. Baixinho que tinha ido olhar as caçueiras. Cumprimentei-o, onde o mesmo perguntou pelo meu velho pai. Segui em frente e cheguei na casa de Dona Maria, perguntei se o almoço já estava pronto, isso já era mais ou menos umas 12:30h. A fome bateu, porque meu café foi muito fraquinho. Eles falaram que só estavam me aguardando almoçarem. Botaram os pratos na mesa e o arroz com pequi e galinha cheirava de longe, após o almoço veio um tira-gosto de melancia e melão, estavam ótimos. Concluímos o saboroso almoço, depois baixei uma rede de tucum e tirei um velho cochilo como se diz o ditado. Por volta das 15:00h, fui até a capoeira antiga  do meu velho pai, tudo diferente. Pulei a porteira da roça e vi muitos pés de arruda, sai numa vereda até o poço da bicuíba pulando de pedra em pedra, um jacutinga voou dum pé de mirindiba, quando um gavião gritava pra cima do morro. Retornei pela chapada para fazer fotos dos bacurizeiros, vi muito bacuris verdes no chão, onde pode-se fazer uma crítica de que os próprios camponeses devem ter essa consciência da colheita do bacuri maduro, caído. Aproveitei para colher alguns pequis, tinha bastante derramado debaixo dos pés. Já era 16:30h, estava ficando tarde, então voltei quase correndo porque o caminho passava por uma mata escura. Quando cheguei em casa chamei Dona Maria que já estava preocupada. Bateu uma fome danada... até porque  eu perdi energias caminhando. Perguntei Dona Maria se ainda tinha arroz com pequi na panela, ela disse que sim, aproveitei para comer mais uma vez aquela iguaria única da região. Após a merenda descansei um pouquinho e retornei para minha casa na sede de Urbano Santos. Cheguei bastante cansado, mas convicto de ter passado aquele dia importante e saborear o arroz do povoado pequi com pequi e galinha caipira. Essas comidas tradicionais devem ser resgatadas como forma de sustento de nossa cultura regional do baixo Parnaíba maranhense.
                                                                                                                                     José Antonio Basto

Gás de Xisto em discussão na Assembleia Legislativa



A decisão do Governo de extrair o Gás de Xisto na Bacia Hidrográfica do Rio Parnaíba vem assustando as entidades socioambientais do Piauí que temem a contaminação da água por metais pesados, entre eles, metano e inúmeros outros produtos químicos utilizados para possibilitar o fraturamento hidráulico no processo de extração o gás.
Para discutir o assunto, a sociedade civil através da Rede Ambiental do Piauí-REAPI, em parceria com o Ministério Público Federal e o Poder Legislativo vão realizar uma Audiência Pública no Plenarinho da Assembleia Legislativa, no próximo dia 28 de abril, às 10h.
O Bloco de Xisto que foi leiloado pela Agência Nacional de Petróleo-ANP está localizado em áreas da Bacia do Rio Parnaíba entre os Estados do Maranhão e Piauí. A empresa que leiloou o Bloco Geo Park por enquanto não poderá iniciar nenhum trabalho na região do Piauí graças a uma Liminar expedida pela a Justiça Federal, através da região de Floriano.
Estarão na Audiência o Geólogo Luiz Fernando Scheiber, professor Emérito da Universidade Federal de Santa Catarina e coordenador do Projeto Rede Guarani/Serra Geral, o Procurador da Republica Antônia Manvalier do Ministério Público Federal de Floriano. Foi convidada ainda a Agência Nacional de Petróleo-ANP, a GeoPark Brasil, empresa que leiloou o Bloco do Piauí, DNPM, CPRM entre outros.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Audiência Pública: Comunidade denuncia extração ilegal de areia do leito do Rio Munim (MA)


A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa debateu em audiência pública realizada nesta quarta-feira(15) a exploração de areia no Rio Munim. O pedido de audiência feito pelo deputado Bira do Pindaré foi motivado por denúncias de moradores dos municípios que são banhados pelo Munim. Segundo eles, a exploração é ilegal e tem causado degradação ambiental. Eles denunciam ainda que a empresa responsável pela retirada da areia, a Magropel, opera de maneira irregular.
De acordo com os moradores, em média 30 caçambas passam por dia na região para extrair areia do Rio Munim. Grande parte dessa areia está sendo utilizada nas obras de duplicação da BR-135. Mas, há pelo menos 3 anos a extração de areia às margens do Munim vem acontecendo.
As comunidades reclamam de prejuízos sócio-ambientais para municípios banhados pelo rio, como Bacabeira, Cachoeira Grande, Juscelino e Morros, há cerca de 100 km de São Luis. As denúncias foram ouvidas pelo deputado Bira do Pindaré da Comissão de Direitos Humanos, pela deputada Eliziane Gama, presidente da Comissão de Meio Ambiente.
De acordo com o secretário de Meio Ambiente do município de Morros, Alison Medeiros, o Rio Munim é o principal atrativo da cidade e o seu assoreamento devido a extração ilegal, tem prejudicado o turismo na região.
Ainda segundo as denúncias, a movimentação de caçambas que transportam a areia tirou o sossego das comunidades. A estrada que dá acesso a vários municípios da região está empoeirada e quando chove vira um lamaçal. Os riscos de acidentes também aumentaram.
Por conta do excesso de peso e do tráfego intenso das caçambas, que passam dia e noite transportando toneladas de areia retirada do rio, moradores correm o risco de terem suas casas derrubadas. “A maioria das casas já apresentam rachaduras e podem cair a qualquer momento por causa do vai e vem dessas caçambas” afirmou um morador.
Pescadores da cidade de Juscelino estão preocupados. Segundo eles, “o barulho das caçambas assusta os peixes. E a extração da areia tem prejudicado a reprodução da maioria das espécies”, disse Marici Moreira, presidente da colonia de pescadores do município de Juscelino.
O sócio da empresa MAGROPEL, Marco Antonio Gomes, acusada de extração ilegal e operar irregularmente na região, apresentou documentos que, segundo ele, permitem a atividade extrativista. De acordo com o empresário, a retirada da areia do Munim não prejudica o ecossistema da região.
“Nos temos toda a documentação necessária para a retirada da areia e diferentemente do que estão nos acusando a extração da areia está sendo feita de maneira correta, sem maiores danos para o ecossistema”. ele explicou ainda, que a areia está sendo retirada do fundo do rio, que aumenta sua profundidade e em alguns pontos aumentou a quantidade de peixes.
Para o deputado Bira do Pindaré, está muito claro que a exploração de areia do Rio Munim é ilegal e que a empresa Magropel não tem a licença, que diz ter, para retirar a areia. ” Nós estamos convencidos de que a exploração é ilegal e que a empresa está irregular. E vamos lutar para que retirar essa empresa de lá e que não seja mais retirada areia do Rio Munim”.
O deputado disse ainda que a areia é importante para a construção da duplicação da BR 135, mas que a vida é muito mais importante do que uma estrada. E que os debates são importantes para encontrar uma solução para o problema. ” ninguém é contra a duplicação da BR 135, essa obra é muito importante e necessária, mas precisamos encontrar uma solução e vamos encontrar”. salientou o parlamentar.
A deputada Eliziane Gama, presidente da Comissão de Meio Ambiente, disse que a comissão irá pedir aos órgãos competentes que prestem informações sobre a documentação apresentada pela Magropel. Segundo ela, é preciso saber se a documentação necessária foi entregue e se os tramites foram seguidos corretamente para a liberação da licença que permite a exploração da areia.
http://biradopindare.com/

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Ex-prefeito de São Bernardo é condenado em primeira instancia

ÀS 14:02:33 - JULGADA PROCEDENTE A AçãO

Do exposto e por tudo mais que dos autos conta, julgo procedente o pedido inicial, para condenar o réu Coriolano Coelho de Almeida por atos de improbidade administrativa previstos nos arts. 10, VIII e 11 da Lei º 8.429/92, incidindo nas sanções do art. 12, inc. II e III da mesma lei. Segundo o assentado na Jurisprudência pátria, as sanções previstas na Lei de Improbidade, devem ser fixadas pelo magistrado em obediência aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, levando-se em conta a repercussão da conduta causadora de prejuízo ao Erário, bem assim se houve comprovação de desvio de bens ou de que o apelado tenha auferido qualquer vantagem ilícita, não necessariamente de forma cumulativa. Diante de tais considerações, no relativo aos atos de improbidade reconhecidos nesta sentença, aplico ao réu Coriolano Coelho de Almeida as sanções de: a) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos b) suspensão dos direitos políticos pelo prazo de 05 anos; c) pagamento de multa civil fixada em 10 (dez) vezes o valor da remuneração percebida. d) ressarcimento do dano no valor de 1.172.133,10 (um milhão cento e setenta e dois mil cento e trinta e três reais e dez centavos), apurado mediante a soma das despesas efetuadas sem procedimento licitatório ou mediante fragmentação de despesas. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Após o trânsito em julgado, insira-se o nome do réu no Cadastro de Improbidade Administrativa do CNJ e comunique-se esta decisão à Justiça Eleitoral, para fins de anotação da suspensão dos direitos políticos. São Bernardo, 11 de abril de 2014. André Bezerra Ewerton Martins - Juiz

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Asssembleia legislativa discute extração de areia



“Mega-empreendimento”. Como custa usar a palavra mega. Ela é um peso em qualquer circunstancia. Quando você lê na internet um anuncio que oferece uma jazida de areia com área de 1.400 hectares no rio Munim como não apelar para essa palavra “mega”? Ela está gasta mesmo, então por que não gasta-la um pouco mais? Áreas dos municípios de Rosário, Axixá e Presidente Juscelino integrariam esse “mega-empreendimento”. Ora, Rosário não faz parte da bacia do rio Munim. De qualquer forma, só a pretensão de explorar por 300 anos uma área de 1.400 hectares assusta. Será que o rio Munim aguenta 300 anos de extração de areia ininterrupta? Os protagonistas do anuncio, certamente, não responderiam essa questão até porque eles nem devem conhecer o rio Munim, afinal o anuncio saiu num classificados de Imperatriz. Quem anuncia quer que as pessoas acreditem na descrição. Não importa que no fundo o rio sofra as consequências de um negócio escuso. A mineração de areia é uma concessão do Estado. A concessão não pode ser objeto de negócio da parte de quem a obteve. Pelo tamanho e pela extensão do “mega-empreendimento”, que percorre três municípios, os impactos socioambientais se estenderiam para além do que se propõe como área. O licenciamento passaria pela Secretaria do Estado do meio ambiente e pelos municípios. Essa deveria ser a norma. Essas e outras questões aqui levantadas farão parte do debate que acontecerá na Assembleia Legislativa as 15:00 do dia 16 de abril. A iniciativa de discutir a extração de areia e de outros minérios partiu do deputado estadual Bira do Pindaré.
Mayron Régis

Chapadinha recebeu a terceira audiência pra composição do comitê de BH do Rio Munim


A terceira Audiência Pública sobre o processo de Composição do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Munim foi realizada, com êxito, em 02 de abril de 2014 na cidade Chapadinha, finalizando a fase de audiências públicas.

​Nesta ocasião estiveram presentes representantes da Prefeitura Municipal de Chapadinha, da Associação dos Produtores de Soja, da Casa Família Rural de Chapadinha, dentre outras instituições.

​Pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, o Secretário Adjunto de Licenciamento Sr. José Jânio de Castro Lima esteve presente representando a Secretária Estadual de Meio Ambiente, Genilde Campagnaro.

​A Prefeita do município de Chapadinha, Ducilene Belezinha, deu as boas vindas e disse que o momento foi muito importante, ressaltando a necessidade de cuidarmos das nossas nascentes.

José Jânio de Castro Lima relembrou que no ano passado, em dezembro, esteve nesta mesma cidade dando posse ao Comitê. Vislumbrando os próximos passos a serem seguidos, destacou ainda a importância da fase de cadastramento dos interessados, que será iniciada no dia 13 de abril de 2014.

​Passada a palavra para Erasmo Garreto de Sousa, Presidente da Diretoria Provisória, este asseverou que “o Comitê de Bacia Hidrográfica já é uma realidade”.


​​​​Encerradas as apresentações da SEMA e da Diretoria Provisória foi reservado o espaço para perguntas e debates em que o corpo técnico da SEMA tomou lugar à mesa e esclareceu as dúvidas da comunidade.


​Sendo vencida esta última etapa da fase de audiências públicas, a Diretoria Provisória e a SEMA se preparam para receber os pedidos de cadastramento dos interessados, que será realizado do dia 13 de abril a 13 de maio de 2014 por meio do site da SEMA. 

http://www.sema.ma.gov.br/

segunda-feira, 14 de abril de 2014

O orgulho de quebrar coco babaçu em Vila Criolis, Baixo Parnaiba maranhense



Não é recomendável chegar em determinada cidade depois de um determinado horário por talvez não encontrar quem o receba assim como não é recomendável deixar essa mesma cidade em determinado horário por não haver quem o leve. O povoado Vila Criolis se distancia treze quilômetros da cidade de Brejo, Baixo Parnaiba maranhense. Qualquer dificuldade, ele ligaria para dona Milagres que o aguardava em sua casa. Assim que chegaram, perguntou-se ao frentista qual era a distancia entre Brejo e a Vila Criolis. O frentista calculou uns 30 quilômetros. Um rapaz guiou o carro pela estrada de piçarra em plena noite. Uma senhora o aconselhara a continuar o percurso a Vila Criolis pela manhã cedo. Ele gostaria de dormir na comunidade e por isso fazia questão de continuar. Além do motorista, seguia um outro rapaz no carro; eles perguntaram se o moço era professor. Ele respondeu que era jornalista. O conselho da senhora o inquietara. Ela o fez se sentir ameaçado. Os rapazes discorreram sobre roubos de celulares e de motos nos interiores da cidade de Brejo. Bem ali, mora não sei quem que rouba motos. No ano passado, quando viera, a prefeitura anunciava a reforma da estrada que liga Brejo aos assentamentos do Incra. A reforma ficou só no anuncio. Sorte que não chovera tudo que tinha que chover, senão passariam por maus bocados. Simplesmente, a prefeitura “esquecera” de reformar a estrada que passa pela Vila Criolis. Ocorreu, apenas, a instalação dos tubos por onde a água corre. A prefeitura, simplesmente, aboliu a Vila Criolis do seu planejamento. As razões para não cumprir com as obrigações constitucionais não ficaram claras. A Vila Criolis se caracteriza por ser uma região de Baixo. Os babaçuais predominam em vários trechos. Desde sempre, ouvia-se das bocas de várias pessoas, que provieram da Vila Criolis e de áreas próximas, o quanto suas vidas dependeram do extrativismo do babaçu. O deputado Domingos Dutra e o professor Luis Alves expõem suas dividas e raízes históricas com a cultura do babaçu sempre que possível. A sua ida a Vila Criolis se configurava como uma excelente oportunidade não só para apresentar o PAIS, ou Produção Agroecologica Integrada e Sustentável, uma tecnologia social que congrega no mesmo espaço diferentes atividades produtivas como a criação de galinha caipira e o plantio de verduras, para a comunidade como também uma excelente oportunidade para rememorar as histórias pelas quais essa gente toda passou e ainda passa. A casa de dona Milagres era uma casa de agricultores. Eles plantavam um pouco de mandioca, arroz, feijão e abobora. O filho dela disse desse jeito: “ aqui vivemos da roça”. Em sua fala, havia muita sinceridade e muita tristeza. A irmã veio em seguida para desembestar outros dizeres e afazeres. Ela compunha um dos grupos que cultivavam uma área com verduras. Apanhava-se cheiro verde e cebolinha. A Girlene também quebrava coco e vendia o azeite.   Depois de escutar a Girlene, ele inquiriu a família de dona Milagres dos porquês das pessoas deixarem que as coisas boas se percam. A dona Milagres respondeu que por medo.
A Capacitação em meio ambiente, organizada pelo Aconeruq, iniciou-se as oito horas da manhã. A dona Maria do Rosário se deslocou de mansinho na manhã para avisar que não ficaria por muito tempo na oficina e que enviaria o marido para ficar em seu lugar. Ficou por muito mais tempo do que previra. A primeira conversa da capacitação girou em torno do que representava para eles viver na Vila Criolis, data Saco das Almas. A dona Maria do Rosário recordou a sua infância e as ameaças de despejo desferidas pelo proprietário de terras à sua família e aos outros agregados. O agregado pagava uma renda ao proprietário como forma de obediência e também como forma de garantir a sua permanência na propriedade. Caso não pagasse a renda, o proprietário enviava a policia militar para retirar a família e os seus pertences. A obrigação de pagar renda ofendia a família de duas formas: pela humilhação com os tratamentos dispendidos e pelo empobrecimento já que os agregados destinavam seu tempo e sua produção para o proprietário. O senhor José de Fátima, como dona Rosário, viveu boa parte de sua vida agregado em propriedades dos outros. No caso dele, foram três as propriedades: a dona Vitória, o senhor Wilson e o doutor Carlos. Quanto tempo existe a Vila Criolis? Ninguém soube responder ao certo. As respostas raspavam os trinta anos.  A Ana Lina discordou de imediato porque ela nasceu na Vila Criolis e já tinha 37 anos. Para tirar a dúvida, chegou a dona Ana Lurdes, mãe de Ana Lina. A dona Ana Lurdes também não soube precisar a idade da Vila Criolis, mas soube cravar que se orgulha de ser quebradora de coco babaçu.   Depois que ela declarou esse orgulho, as demais mulheres responderam no mesmo tom que se orgulhavam de serem quebradoras. O Antonio, delegado sindical, relatou que as áreas de babaçuais na data Saco das Almas alcançam mais de quinze mil hectares e que o Vicente  um dos proprietários da área quis implantar um projeto industrial de extração do palmito do babaçu na cidade de Brejo. O projeto só não foi em frente porque os quilombolas fizeram denuncias ao Ibama.
De acordo com o Antonio, o babaçu é a vida dos quilombolas porque dele se tira o azeite, o palmito, o mesocarpo e se queima a casca. Essa declaração do Antonio e as declarações das mulheres se chocam um pouco com a percepção que o babaçu, de tanto fazer parte da vida dos quilombolas da Vila Criolis,  perdeu um pouco a sua importância econômica e social nesses tempos modernos. As mulheres quebram o coco e vendem o azeite, só que o babaçu não aparece em primeiro lugar na lista de espécies florestais importantes para a comunidade.
Os participantes da capacitação em meio ambiente se depararam durante a caminhada pelo leito do riacho da Ponte, na Vila Criolis, município de Brejo, com a dona Maria Inês em seu momento de banho. Eles caminhavam por dentro da propriedade do senhor Candin.  A dona Maria Inês chegou aos seus setenta anos. O senhor Candin prometeu doar um hectare para ela se manter. Uma cerca torna difícil a caminhada até o riacho na propriedade do senhor Candin. Verificam-se cercas por toda a extensão do riacho. Apenas dois trechos se livraram das cercas e nestes a comunidade se banha e lava as roupas. Nesses dois trechos as criações de animais também se molham e bebem.  Tem dois anos que o riacho da Ponte seca depois que as chuvas acabam. Isso se deve, segundo os moradores, ao desmatamento que o senhor Candin realizou para o plantio de capim. Além do desmatamento, o plantio de capim traz consigo o despejo de agrotóxicos. O senhor Francisco, marido de uma das participantes, despejou agrotóxico quinze anos da sua vida. Apresentaram-se dores da cintura para baixo o que pode ser resultado da aspersão de agrotóxico. Na casa do senhor Francisco, depois da caminhada, as pessoas conversaram sobre mudanças climáticas e o comportamento dos agricultores referente ao meio ambiente e a urgência em mudar esse comportamento. Os agricultores esperam que a floresta se regenere depois que utilizaram aquele solo para os seus plantios. É bem provável que ela não regenere a contento porque o agricultor voltará a essa área mais cedo ou mais tarde.  A hora do almoço se aproximava. As mulheres saíram cedo de suas casas sem aprontarem nada. De uma próxima vez, o almoço se dará no mesmo lugar da oficina. Por conta disso, a esposa do senhor Francisco ofereceu goiabas. Alguns comeram mais e outros menos. As pessoas paparam as goiabas e por fim escolheram três deles (Girlene, Valdemar e Zé de Fátima) para formarem um grupo que encetará uma discussão com os proprietários, que impedem os moradores de carregarem água de seus terrenos e que despejam agrotóxicos para plantar capim, para que mudem suas atitudes que causam danos ambientais na vida de todos os moradores da Vila Criolis. 
Mayron régis