Palmeira símbolo para a maioria dos
municípios da região dos Lençóis Maranhenses, o buriti tem uma larga
utilização por parte do agricultor maranhense, desde a confecção de
artesanato, doces, portas e móveis até o aproveitamento do óleo da
semente. Na região dos Lençóis o potencial econômico da palmeira é muito
grande, conforme estudos recentes.
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Buritizal no Nordeste
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AGÊNCIA PRODETEC ∏∏ [JULHO 2012]
Brasília - O potencial econômico do
buriti no município de Paulino Neves pode representar mais de 100% do
seu Produto Interno Bruto (PIB) que, em 2009, a preços correntes, somava
R$ 51,4 milhões nas contas do IBGE. Um levantamento realizado pelo
pesquisador Nicholas Allain Saraiva mostra que o valor possível da
produção da fibra da palmeira, obtido experimentalmente, variou entre R$
16 milhões e R$ 121 milhões ao ano, sendo que esse cálculo foi feito
sem considerar todas as variáveis da atividade.
De acordo com
Nicholas Saraiva, todos os dados coletados confirmam o potencial do
buriti enquanto fornecedor de produtos florestais não madeireiros
(PFNM), ainda que aspectos relativos aos efeitos da extração num período
em longo prazo devam ser objeto de maior exame e removidos os gargalos
da cadeia produtiva.
A estimativa levou em conta o valor do quilo do
linho de buriti praticado nos mercados regionais, entre R$ 20 e R$ 150; a
extração sustentável de até 50% das folhas jovens (média de 5,35 folhas
novas/ano); a produtividade de 292 g de linho por folha; a densidade
média de 832 indivíduos por hectare e uma área de ocorrência de 5.700
hectares de buritizais. Os resultados obtidos no trabalho apontam para
valores ainda mais elevados do que se esperava no seu início, valendo
salientar que "os cálculos foram elaborados tomando-se por base os
valores mais módicos possíveis a fim de evitar expectativas em excesso",
esclarece Nicholas Saraiva, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da
Universidade de Brasília
Mesmo considerado a faixa menor encontrada
(R$ 16 milhões), o valor supera amplamente o orçamento e o PIB da
maioria dos municípios localizados na região dos Lençóis Maranhenses
((Primeira Cruz, Humberto de Campos, Santo Amaro do Maranhão,
Barreirinhas, Tutóia e Paulino Neves) e entorno, uma das mais pobres do
Maranhão. Pelos dados do IBGE, a região era responsável, em 2007, por
quase um terço da quantidade (28%) e dois terços do valor da produção
nacional de fibras de buriti.
Vantagens a explorarA
palmeira do buriti (Mauritia flexuosa), seu manejo e exploração, objeto
da dissertação de mestrado de Nicholas Allain Saraiva, é uma espécie de
símbolo de toda a região dos Lençóis, devido à sua importância
ecológica e socioeconômica. Seu uso é múltiplo e variado,
aproveitando-se praticamente tudo dela: fibra, que gera artesanato,
redes, cordas, cabrestos e arreios para animais: folhas (cobertura,
parede de casas, peneira, cestas, tapiti); talos (ripa, brinquedos,
portas, estantes, móveis, janelas, utensílios de pesca, gaiola,
tamborete e até balsa); fruto (doces, sucos, vinho), semente/caroço
(óleo, remédios, artesanato, cosméticos); tronco (adubo, palmito, cocho,
gamela, ponte).
Conforme o pesquisador, os produtos oriundos da
fibra do buriti propiciam vantagens comerciais que devem ser mais bem
exploradas, tais como a não-perecividade dos produtos, baixo peso,
não-fragilidade, alto valor agregado, facilidade de estocagem e
transporte. Segundo Nícholas, um exemplo simples e factível de um
potencial mercadológico fantástico do buriti e outras fibras vegetais
resistentes é a consciência que surge nos grandes centros no sentido de
diminuir o consumo de sacolas plásticas descartáveis nos supermercados.
"Alguns modelos de sacola fabricados na região, como a sacola maré e
sacolão batido são excelentes opções de sacolas não-descartáveis, sendo
bonitas, resistentes, duráveis, biodegradáveis, socialmente justas e
ambientalmente corretas", explica.
Outro ponto positivo é o fato de a
cadeia produtiva ser praticamente desprovida de emissões de carbono,
onde quase tudo que se emprega é retirado da natureza, utilizando-se
apenas energia humana ou no máximo de uma pequena máquina de costuras.
Estima-se
que em Paulino Neves cerca de 30% da população rural estejam, direta ou
indiretamente, envolvidos com a atividade, que representa uma das
maiores fontes de renda do município. A matéria-prima do artesanato
regional é tirada do broto das folhas jovens (folhas ainda fechadas – o
meristema apical da palmeira), coletada por toda a família, mas seu
processamento e a confecção das peças de artesanato é tarefa exclusiva
de mulheres e meninas.
Reserva de capitalSegundo
o pesquisador, a partir de maior capacitação técnica, observou-se um
notório aumento do valor agregado da fibra do buriti, conseguida através
do simples incremento do nível de processamento da matéria prima, sem a
necessidade de investimento em insumos materiais externos e de elevado
custo. Espécie resistente ao extrativismo, a palmeira, se devidamente
manejada representa verdadeira reserva de capital para os extrativistas ,
podendo fornecer matéria-prima em abundância a priori, indefinidamente.
Para
Nicholas Saraiva, esse binômio – capacidade de suporte e potencial
econômico – permite sustentar a hipótese de que a extração de produtos
madeireiros não florestais nos municípios da região dos Lençóis
Maranhenses, é capaz de fornecer sustento digno a uma ampla parcela da
população local.
A região detém uma grande reserva de buritizeiros em
diferentes estágios e conservação pelo que se impõe a necessidade
estratégias locais de manejo e de um estudo mais aprofundado para
averiguar se há risco de extinção em locais com pequenos tamanhos
populacionais.
Para o pesquisador, entretanto, "para garantir a
sustentabilidade do extrativismo da fibra do buriti e outros produtos
extrativistas não-madeireiros, é necessário pensar no sistema de forma
holística e integrar uma série de outros fatores" (segurança fundiária,
acesso ao recurso extrativista; legislação e crédito adequados,
compensação justa pelos serviços ambientais; estímulo à conservação;
assistência técnica; criação / ampliação de mercados consumidores
diferenciados, dentre tantos).
ConsciênciaO
levantamento realizado pelo pesquisador mostra que a população da região
já está se conscientizando da riqueza que a natureza pode significar
para seu sustento e em muitos povoados, seja por preocupação ambiental
ou pelo interesse econômico, os moradores locais estão plantando buritis
visando tanto a produção futura quanto a proteção dos recursos hídricos
e a preservação da biodiversidade local.
Nas comunidades em que a
gestão dos recursos naturais está mais organizada, tem-se adotado
medidas coletivas de controle do uso dos buritis, o mesmo não ocorrendo
onde essa organização local é pífia, o quje reforça a necessidade de
ações voltadas para esse objetivo.
Atualmente, cerca de 90% dos
produtos consumidos pelos turistas que visitam Barreirinhas não são
locais, o que se revela importante para a economia local se mobilizar
para se apoderar de uma pequena fatia deste mercado com reflexos sobre a
economia e a redistribuição de renda na região que se inclui entre os
principais polos de atração turística do Nordeste.
SugestõesO trabalho de Nicholas Allain Saraiva apresenta uma série de recomendações com vistas ao melhor aproveitamento do buriti:
>Investimento
no processamento da fibra dentro do município ou núcleo produtor,
fortalecimento comunitário e abertura e estímulo dos mercados
consumidores estão entre as principais ações que poderiam ser
incentivadas
> Localmente: estimular o processamento e
comercialização da fibra dentro do município ou núcleo produtor, a
divulgação de informações sobre boas práticas de manejo e capacidade de
suporte de coleta.
>Regionalmente: buscar o fortalecimento
comunitário e da classe artesã, por meio do estímulo à organização
social e produtiva, diversificação da cadeia produtiva do buriti, com a
entrada de outros produtos na economia regional, como a polpa e óleo.
>Em
escala nacional: fortalecimento da cadeia produtiva da fibra do buriti,
com o reconhecimento de suas peculiaridades, o que implicaria
tratamento especifico em termos fiscal e de crédito,
sanitário-regulatórios e burocrático adequado para facilitar a entrada
dos seus produtos no mercado com repercussão positiva na comunidade e
consideráveis ganhos sociaisagencia prodetec